Capitão América – Guerra Civil. Filme, Quadrinhos, Livro. De Que Lado Você Está? (Parte 2)

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Por Carlos Lohse

Vamos hoje continuar a discussão de como “Capitão América – Guerra Civil” foi colocado nos quadrinhos, no livro e no filme lançado recentemente.

Se a história e seu desenvolvimento nos quadrinhos foram primorosos, com várias cenas de ação, duas violentíssimas batalhas, a morte de um herói, e os conflitos psicológicos em vários personagens como Tony Stark, Sue Richards e Peter Parker, o mesmo não se pode dizer do desfecho que, no mínimo, foi extremamente lamentável. Justamente na batalha decisiva, Steve Rogers se rende de uma hora para outra, deixando todos os seus comandados na mão. O motivo? Na batalha realizada dentro de um presídio que continha um portal para a tal dimensão paralela, os agentes da Shield trancariam o portal aprisionando todos os partidários do Capitão América de uma só vez. Assim, Manto, um herói do lado de Rogers, com poderes de teletransporte, levou todos para fora do presídio, caindo nos arredores do Edifício Baxter, o quartel-general do Quarteto Fantástico, bem no centro de Nova York. Obviamente, a super pancadaria provocou mais explosões e destruições entre os pobres inocentes. No embate final entre Capitão América e Homem de Ferro, o veterano de guerra se deu melhor e, quando ia dar o golpe de misericórdia (inclusive a pedido do próprio Stark), alguns populares o agarraram para parar com a carnificina. E aí, novamente com o centro de Nova York destruído (essa cidade só não é mais destruída que Tóquio!), Steve Rogers se toca da desgraça toda que está provocando e se rende, não como Capitão América, mas com seu nome civil de Steve Rogers. O detalhe aqui é que o grupo do Capitão América estava em superioridade numérica e ia ganhar a batalha final mas, segundo o Capitão, não ia ganhar a discussão. Ou seja, o projeto do governo de regulamentar os super-heróis foi bem sucedido e Tony Stark tomou toda a liderança do projeto. Um pequeno grupo de ex-seguidores do Capitão América permaneceu na dissidência e nosso Steve Rogers, um herói da Segunda Guerra Mundial, guardião dos ideais democráticos dos Estados Unidos da América (e acusado de antiquado por não querer se regulamentar), terminou vencido e humilhado na prisão.

Quadrinhos. Final tacanho
Quadrinhos. Final tacanho

Desculpem o comentário exaltado, mas que raio de final é esse? Tudo bem que o Capitão América se rendeu em nome de seus ideais, que ele não queria machucar as pessoas, etc., etc. Mas, e o compromisso com seus comandados? Um soldado que prima tanto a honra e o companheirismo também não poderia fazer isso. Se o meu estimado leitor me permitir reescrever o final desses quadrinhos, eu daria a seguinte sugestão: que o teletransporte fosse para alguma ilha deserta e afastada do Pacífico Sul, os caras resolvessem tudo na porrada, até que Rogers derrotasse Stark, mas não o matasse. Aí, Rogers daria ordem para seus comandados encerrarem a batalha, vencida pelos revoltosos. Ou seja, os vencedores poupariam os derrotados. Mas os aeroporta aviões da Shield estariam a caminho e Manto teletransportaria os revoltosos para um lugar desconhecido onde eles estabeleceriam uma base e trabalhariam fora do controle da lei americana, ou seja, o grupo do Capitão América seria uma espécie de força internacional de super-heróis fora da jurisdição de qualquer país, vivendo numa espécie de exílio com relação aos Estados Unidos. E, assim, novas histórias envolvendo os super-heróis regulamentados e os não-regulamentados existiriam no futuro, com as mesmas querelas psicológicas entre os personagens e até trabalhos em conjunto fora de solo americano. E, quem sabe, trabalhos clandestinos entre regulamentados e não-regulamentados nos Estados Unidos? Ainda, já imaginaram como seria para os super-heróis não regulamentados terem sua entrada nos Estados Unidos proibida? Como Parker teria que fazer para entrar no país e visitar Tia May e Mary Jane, que seriam vigiadas e monitoradas pela Shield? Já imaginou Parker entrando pelo México com a ajuda de coyotes? Dá para perceber como o tema da Guerra Civil pode dar pano para manga. E, de repente, esse fiasco de final! A impressão que se dá é a de que foi feito um grande esforço, um grande roteiro, desenhos incríveis (verdadeiras obras de arte!), ou seja, um trabalho muito bem feito e, de repente, me chega esse desfecho tacanho? Não, muitos podem discordar de mim, mas eu não consigo me conformar com isso.

Passemos, agora, ao livro. Escrito por Stuart Moore, inspirado diretamente nos quadrinhos acima, o livro conta praticamente a mesma história. Mas, quando comparamos duas mídias dessas naturezas, uma de característica verbal e outra não-verbal, onde palavras são confrontadas com imagens, vem aquela pergunta inevitável: uma imagem realmente vale mais que mil palavras? Geralmente eu acho que não, mas este livro de Stuart Moore consegue nos expor os dois lados dessa moeda. A descrição das cenas de batalha, por exemplo, ficaram um tanto que enfadonhas, e não transmitiram a vibração e choque que a arte dos quadrinhos pode proporcionar. As cenas com o Capitão América severamente ferido e ensanguentado, assim como as partes em que o clone de Thor aparecia, eram de um violento impacto visual nos quadrinhos, o que o livro acabou não proporcionando. Aqui, as imagens valem mais que as palavras. Em contrapartida, o livro desenvolve um pouco mais o roteiro, o que deixa a história mais recheada e interessante. Podemos dar aqui dois exemplos: entre a explosão de Stamford e o resgate às vítimas feito pelos super-heróis, o livro nos fornece um capítulo extra, em que o Homem de Ferro faz um voo intercontinental, praticamente de volta ao mundo, enquanto lia o jornal, falava com o Homem Aranha, marcava uma carona com seu empregado Happy. Ou em pequenos capítulos onde podemos ver Peter Parker tendo uma conversa privada com sua Tia May, que revelou ao sobrinho que já sabia há anos que ele era o Homem-Aranha ou com Mary Jane, onde os dois conversam sobre a cerimônia de casamento frustrada em virtude da revelação pública de Parker ser o aracnídeo, com a necessidade de Mary Jane e Tia May se esconderem por questões de segurança. Ainda, no momento em que Sue Richards abandona Reed, ela se depara com o Coisa, que não evita que ela saia e, ainda por cima ele diz que também está fora, partindo para a França. Todos esses elementos extras acrescentaram lances mais interessantes à história, que não eram vistos nos quadrinhos, embora o Coisa, que tenha retornado depois à guerra, disse nos quadrinhos que não iria ficar parado comendo croissants. Mas não houve qualquer menção nos quadrinhos de seu autoexílio na França, o que foi destacado no livro por sua vez. Assim, o livro acaba sendo uma mídia com uma desvantagem (a descrição das cenas de ação sem o impacto visual dos quadrinhos) e uma vantagem (acréscimo de elementos à história, tanto no núcleo do Quarteto Fantástico quanto no do Homem Aranha, que se revelou um personagem-chave para essa história, principalmente por ter trocado de lado depois de ser um admirador fiel de Tony Stark).

No próximo artigo, finalmente chegaremos ao filme e a comparação entre as três mídias. Até lá!

Quadrinhos. Um violento impacto visual, algo que se perde nos livros
Quadrinhos. Um violento impacto visual, algo que se perde nos livros
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