Batata Movies – Um Limite Entre Nós. Campeão Moral?

 

Cartaz do Filme

Estreou nas telonas mais um candidato ao Oscar. “Um Limite entre Nós” (“Fences”) concorreu a quatro estatuetas (melhor atriz coadjuvante para Viola Davis, melhor filme, melhor roteiro adaptado e melhor ator para Denzel Washington) e ganhou o merecido Oscar de atriz coadjuvante para Viola Davis. Esse filme, estrelado e dirigido por Denzel Washington, é baseado na peça de teatro de mesmo título, escrita por August Wilson, que também assinou o roteiro. Por isso mesmo, a película ficou com uma tremenda cara de teatro filmado, onde exigia-se muito do espectador, que tinha que prestar uma atenção danada nos diálogos. Mas isso não significa que o filme tenha sido ruim. Muito pelo contrário, aliás. Me arrisco a dizer que esse filme poderia perfeitamente ganhar a estatueta de melhor filme sobre “Moonlight”.

Um casal aparentemente feliz

No que consiste a história? Temos aqui a vida de Troy (interpretado por Washington), um pai de família altamente simpático e brincalhão que trabalha numa companhia de limpeza, juntamente com seu amigo Bono (interpretado por Stephen Henderson). Troy é casado com Rose (interpretada por Davis) e é um cara muito durão com seus dois filhos, o que provoca muitos conflitos entre eles. Tudo isso acontece em virtude da vida pregressa de Troy, que foi muito complicada e cheia de amarguras, e que serviu de referência para ele educar seus filhos. Ou seja, Troy queria mostrar aos filhos que na vida real ninguém terá pena deles e que os rapazes devem aprender a conviver com essa forma impiedosa de relacionamento com o mundo. Assim, Troy, por ser muito teimoso e turrão, criava sérios problemas de relacionamento no seu âmbito familiar e todas essas confusões tinham que ser resolvidas por Rose, que funcionava na família como uma espécie de “voz da razão”. Mas um deslize de Troy acabaria implodindo esse seio familiar.

Mas logo os problemas de relacionamento aparecem

Por que esse filme é muito bom? Porque ele possui uma grande quantidade de personagens muito bem construídos, e cada um tinha uma função específica na trama, funcionando harmoniosamente como as engrenagens de uma máquina muito bem azeitada. A forma amistosa como os personagens interagiam entre eles no início do filme fazia os espectadores se apropriarem daquele espaço e parecia que estávamos sentados naquele quintal juntamente com Troy, Rose e Bono. Por isso mesmo, depois de que se estabeleceu essa relação mais intimista entre os protagonistas e o público, as situações de choque que iam aparecendo afetavam com a mesma intensidade os personagens e os espectadores. Nesse ponto, o filme foi muito eficaz, apesar de seu andamento um tanto lento e maçante, onde parecíamos ver um teatro filmado.

Viola Davis. Prêmio merecidíssimo

Uma metáfora muito interessante foi empregada na película. Troy tentava, o tempo todo, construir uma cerca, que simbolizava duas coisas na história. Em alguns momentos, ela era uma representação da indivisibilidade do meio familiar, como se a cerca pudesse abrigar sua família e mantê-la intacta dentro de seus limites. Mas em outros momentos, a cerca representava justamente o contrário, ou seja, ela era uma metáfora das barreiras entre Troy e os filhos, ou entre ele e a própria esposa.

A atuação de Denzel Washington foi primorosa, e confesso que, pela primeira vez, fiquei em dúvida se o prêmio de Casey Affleck foi merecido ou não. De qualquer forma, parece que funcionou a lógica de indústria, ou seja, é dado o Oscar para o ator mais jovem, com uma carreira mais promissora, cujo rótulo de “vencedor do Oscar” vai atrair mais dinheiro, em detrimento ao ator mais velho e já consagrado, cuja premiação não será tão lucrativa assim no futuro. Já o prêmio para Viola Davis foi merecidíssimo, pois ela deu tamanha nobreza para a sua personagem que ela acabou se tornando uma figura totalmente admirada e incontestável. Agora, cá para nós: ela parecia muito mais uma atriz principal do que coadjuvante. Ah, mas aí ela concorreria com Emma Stone, que é praticamente o mesmo caso de Casey Affleck e Denzel Washington. Aí a gente começa a entender os critérios de premiação que são mais vantajosos para os lucros da indústria do que para com o talento.

Assim, “Um Limite Entre Nós” é um grande filme e não seria surpresa se ele ganhasse o premio de melhor película da noite. Acho, inclusive, que sua premiação seria mais justa que a dada a “Moonlight”, mesmo que tenhamos presenciado uma cara de teatro filmado. A boa construção dos personagens e a forma como interagiam foram as grandes virtudes, pois compramos afetivamente todas aquelas pessoas. Não deixe de ver.

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