Batata Movies 2 (Especial Oscar 2021). Wolfwalkers. Liberdade E Preservação Do Meio Ambiente.

Wolfwalkers
Cartaz do Filme

Dentre as nossas análises de filmes que concorrem ao Oscar nesse ano de 2021, falemos hoje de “Wolfwalkers”, que concorreu à estatueta de Melhor Animação. Para podermos falar desse filme, uma co-produção Irlanda/Luxemburgo, vamos precisar dos spoilers de sempre.

Entre lobos e homens | carmattos
Robyn, uma menina que vai conhecer um mundo todo novo…

O filme fala da história de Robyn, uma menininha inglesa que gosta de caçar lobos e vive com seu pai numa cidadezinha irlandesa dominada pelos ingleses. O povo irlandês é hostil aos invasores ingleses. Estamos no ano de 1650. O pai de Robyn, Bill, quer que a menina fique em casa em virtude da hostilidade dos irlandeses para com os ingleses e ele não quer que a menina o acompanhe na sua tarefa de caçar lobos numa floresta próxima. O temido Lorde Protetor da cidade quer destruir a floresta em que os lobos vivem para afugentá-los, já que os lobos atacam as criações de ovelhas. Quando Robyn segue o pai às escondidas, ela acaba descobrindo todo um mundo novo dentro da floresta, onde conhece Mebh, uma menininha que vive lá e é uma Wolfwalker, ou seja, uma espécie de menina lobo que, quando adormece, se transforma num lobo. Aliás, Robyn vai conhecê-la quando ela está transformada em lobo, mordendo acidentalmente o braço de Roobyn, que também a transforma numa wolfwalker. A mãe de Mebh, sabendo dos perigos do ser humano com relação à floresta, saiu para procurar um novo lugar para os lobos, mas nunca mais voltou, pois ela foi aprisionada pelo Lorde Protetor. Caberá à Robyn e a Mebh salvar os lobos da destruição da floresta, assim como tirar a mãe de Mebh do cativeiro.

Wolfwalkers - filme de animação com meninas e lobos - trailer – Lugar Nenhum
Robin irá encontrar Mebh e se tornar amiga dela…

Essa animação é surpreendente em vários aspectos. Em primeiro lugar, por ser algo de época, se passando numa época em que os ingleses subjugavam os irlandeses, com toda essa animosidade ficando bem clara na animação. Em segundo lugar, vemos aqui uma lenda que lembra demais as histórias de lobisomem, mas não com o wolfwalker sendo uma criatura monstruosa (ele até o era para os citadinos que eram vistos pelo Lorde Protetor como supersticiosos por causa disso), mas sim como um ser da floresta que deve ser preservada juntamente com sua fauna. Os lobos, vistos no início do filme como criaturas selvagens e perigosas, se tornam cachorrinhos muito fofinhos e amáveis quando entramos no mundo da floresta e conhecemos Mebh e sua mãe. E aí, os seres humanos, principalmente os ingleses, são vistos como os grandes vilões da história. É interessante perceber que, tanto dentro dos ingleses quanto dentro dos irlandeses, vemos pouquíssimas pessoas virtuosas. Além de Robyn, temos o seu pai Bill e um citadino que foi “para o tronco” por ordem do Lorde Protetor, que era alimentado às escondidas por Robyn. Os demais ingleses eram vistos como os opressores do povo irlandês, e estes últimos eram retratados de uma forma rústica e caricata.

Wolfwalkers”: animadora brasileira conta detalhes sobre a produção do  filme, indicado ao Oscar | Super
Tornando-se uma wolfwalker…

Essa também é uma animação que fala de liberdade. O pai de Robyn era subordinado a um Lorde Protetor que exigia obediência de seus subordinados, não dando a eles qualquer liberdade. A vida da floresta, em contrapartida, era o espaço da liberdade por excelência, onde o contato prosaico com a natureza era a sua maior manifestação, contra as rígidas regras das convenções sociais, além da liberdade de todo um povo (no caso, o irlandês) tolhida pela dominação inglesa.

filme wolfwalkers Archives - Mundo Cultura
Lobos muito bacanas…

Dessa forma, “Wolfwalkers” é uma animação que concorre ao Oscar que tem um sabor um pouco diferente das demais animações que concorrem à estatueta. Apesar de se assemelhar às demais animações quanto a algo de mágico e fantasioso, “Wolfwalkers” se diferencia pelo seu conteúdo histórico e pela mensagem ecológica de preservação do meio ambiente, onde os humanos são os verdadeiros vilões da história e figuras mitológicas como lobisomens são esvaziados de seus conteúdos aterrorizantes e se tornam criaturas virtuosas que defendem a floresta em que vivem, sendo a sua casa. Vale muito a pena dar uma conferida.    

Batata Movies 2 (Especial Oscar 2021). A Noite De Premiação.

Oscar 2021: veja como foi a noite de premiação
“Nomadland”, de Frances McDormand e Chloé Zhao, foi o grande vencedor da noite…

Uma cerimônia mais intimista e humana, laureada pela diversidade. Assim foi a festa do 93º Oscar esse ano. A pandemia trouxe várias consequências para a festa do cinema. A primeira foi o atraso das produções dos grandes estúdios que acabou dando mais chance a produções menores e mais independentes deixando uma marca da diversidade entre os indicados. A segunda foi a abertura dada à exibição dos indicados no streaming em virtude dos cinemas fechados, o que deu um acesso maior ao grande público aos indicados (confesso que vi muito mais filmes na poltrona do meu sofá este ano do que nos cinemas nos anos anteriores). Em terceiro, a cerimônia, com um número menor de pessoas, lembrou muito as primeiras cerimônias ainda na década de 20, quando os prêmios eram entregues num jantar para convidados. O espaço da cerimônia – a Estação de Trem Union Station em Los Angeles – também chamou a atenção por sua elegância, singeleza e charme, longe dos teatros opulentos que sempre vimos. Como os atores indicados não puderam levar muitos acompanhantes (na verdade somente um por indicado), os atores estavam “livres” de seus managers e muito mais livres, leves e soltos no tapete vermelho, para a alegria dos jornalistas que os entrevistavam. Cada bloco da cerimônia tinha um mestre de cerimônias diferente, e quando eles falavam dos indicados, geralmente eles se dirigiam aos mesmos, dando um tom muito intimista à noite. A cerimônia também teve outros indicados sendo mostrados em outras localidades na Europa. O que chamou a atenção foi a ordem das premiações, com a estatueta de Melhor Filme não sendo o último Oscar a ser entregue, mas sim a estatueta de Melhor Ator.

Vencedores do Oscar 2021: Acompanhe a lista de premiados em tempo real ·  Notícias da TV
Melhor Atriz Coadjuvante para Yuh-Jung Youn. Diversidade em cena…

E as premiações em si? Podemos dizer que “Nomadland” saiu como o grande vencedor da noite, ganhando as estatuetas de Melhor Filme, Direção e Atriz para Frances McDormand, superando a forte presença de Viola Davis e a jovialidade de Carey Mulligan. É o terceiro Oscar de McDormand, que, apesar de ser mais do que merecido, soou um pouco como um Oscar inesperado, já que ela havia sido premiada mais recentemente. Mas seu trabalho foi realmente arrebatador. Outro Oscar um tanto inesperado dentro dessa linha, mas muito merecido foi o de Melhor Ator para Anthony Hopkins. Riz Ahmed e Chadwick Boseman, com a oportunidade de ser o segundo Oscar póstumo da História, vinham fortes. Mas o talento de Hopkins superou as barreiras da idade e do fato dele já ter ganho um Oscar, embora isso já tenha sido há muito tempo com “O Silêncio dos Inocentes”. “Meu Pai” também teve uma merecida premiação de roteiro adaptado. O roteiro original também foi merecido para “Bela Vingança”, a história que teve um interessante plot twist ao seu final.

12 filmes favoritos do Oscar 2021 e onde assisti-los | Revista Bula
Anthony Hopkins, o melhor ator, não foi a cerimônia…

A noite de premiação teve alguns indicados previsíveis confirmados. Um deles foi “Druk”, que ganhou o Oscar de Melhor Filme Internacional. Seu diretor, Thomas Vinterberg, emocionou a plateia quando disse que sua filha iria trabalhar no filme, mas morreu dias antes num acidente de carro, onde o motorista que provocou o acidente passava mensagens no celular. Ele fez questão de rodar o filme na escola em que a filha estudava e com seus colegas reais. “Soul” também levou a marca de obviedade, ganhando as estatuetas de Animação e Trilha Sonora. Já Daniel Kaluuya era o favorito para o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, confirmando o prêmio para “Judas e o Messias Negro”, embora eu preferisse a atuação de Lakeith Stanfield no mesmo filme. Kaluuya deixou a mãe, que assistia a cerimônia de Londres, numa saia justa quando ele agradeceu a ela por ter transado com seu pai para ele nascer e poder vivenciar aquele momento. A anciã não sabia onde meter a cara. “A Voz Suprema do Blues” ganhou dois prêmios bem merecidos: figurino e maquiagem e cabelo, onde Viola Davis foi “enfeiada” para fazer sua personagem (eu gostaria de ver Maquiagem e Cabelo para “Era Uma Vez Um Sonho” e figurinos para “Mulan”, mas…). “O Som do Silêncio” ganhou a óbvia estatueta de som e a não tão óbvia estatueta de montagem (acho que “Meu Pai” seria mais merecedor dessa categoria).

Confira os melhores momentos do Oscar 2021 - NerdBunker
Daniel Kaluuya, o Melhor Ator Coadjuvante…

E Mank? O campeão de indicações (dez ao todo) somente levou duas estatuetas técnicas: fotografia (onde o preto e branco foi fenomenal) e design de produção, ambas merecidíssimas (embora o Oscar de design de produção para “Meu Pai” também seria muito justo, com tantas mudanças no mesmo cenário para expressar o Alzheimer do protagonista).

Thomas Vinterberg, diretor dinarmaquês, vence o Oscar de Melhor Filme Internacional com 'Druk' — Foto: Reprodução/Oscar
O discurso de Vinterberg sobre a morte da filha muito emocionou…

O prêmio para Melhor Atriz Coadjuvante foi sintomático dos novos tempos do cinema e da Academia, pois foi vencido por Yuh-Jung Youn, numa mostra de que a renovação dos membros da Academia está mundializando a premiação, não ficando apenas no terreno da premiação de indústria, com o objetivo de se fazer mais dinheiro. Como foi dito ontem na TV por Arthur Xexéo, essa nova visão de mundo do Oscar poderia muito bem dar a premiação à Fernanda Montenegro se “Central do Brasil” estivesse concorrendo hoje. O discurso de Youn foi um dos pontos altos da noite, onde ela brincou muito com a plateia, arrancando risadas. Ela disse que foi um prazer ver Brad Pitt, um dos produtores de “Minari”, pela primeira vez, e perguntou por que ele não apareceu nas filmagens. Disse que não estava lá para concorrer, pois não é melhor que Glenn Close (que disputava sua oitava estatueta e perdeu novamente) e que teve mais sorte que as demais. Disse que sempre viu o Oscar como um programa de TV na Coreia e que, finalmente, estava lá com eles.

Mia Neal vence Oscar de melhor maquiagem pelo trabalho em "A Voz Suprema do Blues" — Foto: AP Photo/Chris Pizzello
Mia Neal, a Melhor Maquiagem e Cabelo para “A Voz Suprema do Blues”…

As demais premiações: o curta de animação foi para “Se Alguma Coisa Acontecer, Te Amo”, um alerta para as mortes por armas nos Estados Unidos; “Two Distant Strangers” ganhou para Melhor Curta, um filme que mostra um afroamericano sendo morto pela polícia, com isso acontecendo recorrentemente (ao estilo de “Feitiço do Tempo”), com nosso protagonista sempre evitando morrer pela polícia, sem sucesso; “Collete”, um filme sobre uma ex-prisioneira de um campo de concentração voltando ao seu cativeiro depois de muitos anos ganhou o prêmio para curta documentário; “Professor Polvo” ganhou para Documentário longa (embora eu preferisse “Crip Camp”); o sofrível “Tenet” ganhou para efeitos visuais (embora eu preferisse “O Céu da Meia Noite”); e a canção ficou com “Fight For You”, para “Judas e o Messias Negro”.

Roteirista de 'Meu Pai' no Oscar — Foto: Reprodução
“Meu Pai” levou a premiação de Roteiro Adaptado…

Fazendo um balanço das premiações, repetiu-se a tendência dos últimos anos de não dar muitos Oscars a somente um filme. A já citada renovação da Academia está humanizando cada vez mais o Oscar, deixando de ser uma premiação americana de indústria para ser uma premiação que tem um enfoque muito maior na mundialização e na arte, o que aproxima o Oscar dos festivais europeus, mais conhecidos por premiar o talento e a arte. Ou seja, podemos terminar essas linhas com a frase batida de que “Há males que vêm para bem”, ou seja, a transformação profunda que a pandemia provocou em nossas vidas mudou também o Oscar, mas para melhor. Que a diversidade e a arte continuem a dar as cartas. E fiquem agora com a lista dos vencedores do Oscar abaixo, junto com os demais indicados.

Tiara Thomas, H.E.R. e Dernst Emile II levam Oscar de melhor canção original por "Fight For You", no filme de "Judas e o Messias Negro" — Foto: AP Photo/Chris Pizzello
Tiara Thomas, H.E.R. e Dernst Emile II ganharam o Oscar de melhor canção original por “Fight For You”, para o filme filme de “Judas e o Messias Negro”

Veja, abaixo, os vencedores do Oscar 2021 em negrito e grifados:

Melhor filme

  • “Meu pai”
  • ‘”Judas e o messias negro”
  • “Mank”
  • “Minari”
  • “Nomadland” (vencedor)
  • “Bela vingança”
  • “O som do silêncio”
  • “Os 7 de Chicago”

Melhor atriz

  • Viola Davis – “A voz suprema do blues”
  • Andra Day – “Estados Unidos Vs Billie Holiday”
  • Vanessa Kirby – “Pieces of a woman”
  • Frances McDormand – “Nomadland” (vencedora)
  • Carey Mulligan – “Bela vingança”

Melhor ator

  • Riz Ahmed – “O som do silêncio”
  • Chadwick Boseman – “A voz suprema do blues”
  • Anthony Hopkins – “Meu pai” (vencedor)
  • Gary Oldman – “Mank”
  • Steve Yeun – “Minari”

Melhor direção

  • Thomas Vinterberg – “Druk – Mais uma rodada”
  • David Fincher – “Mank”
  • Lee Isaac Chung – “Minari”
  • Chloé Zhao – “Nomadland” (vencedora)
  • Emerald Fennell – “Bela vingança”

Melhor atriz coadjuvante

  • Maria Bakalova – “Borat: fita de cinema seguinte”
  • Glenn Close – “Era uma vez um sonho”
  • Olivia Colman – “Meu pai”
  • Amanda Seyfried – “Mank”
  • Youn Yuh-jung – “Minari” (vencedora)

Melhor ator coadjuvante

  • Sacha Baron Cohen – “Os 7 de Chicago”
  • Daniel Kaluuya – “Judas e o messias negro” (vencedor)
  • Leslie Odom Jr. – “Uma noite em Miami”
  • Paul Raci – “O som do silêncio”
  • Lakeith Stanfield – “Judas e o messias negro”

Melhor filme internacional

  • “Druk – Mais uma rodada” (Dinamarca) (vencedor)
  • “Shaonian de ni” (Hong Kong)
  • “Collective” (Romênia)
  • “O homem que vendeu sua pele” (Tunísia)
  • “Quo vadis, Aida?” (Bósnia e Herzegovina)

Melhor roteiro adaptado

  • “Borat: fita de cinema seguinte”
  • “Meu pai” (vencedor)
  • “Nomadland”
  • “Uma noite em Miami”
  • “O tigre branco”

Melhor roteiro original

  • “Judas e o Messias negro”
  • “Minari”
  • “Bela vingança” (vencedor)
  • “O som do silêncio”
  • “Os 7 de Chicago”

Melhor figurino

  • “Emma”
  • “A voz suprema do blues” (vencedor)
  •  
  • “Mank”
  • “Mulan”
  • “Pinóquio”

Melhor trilha sonora

  • “Destacamento blood”
  • “Mank”
  • “Minari”
  • “Relatos do mundo”
  • “Soul” (vencedor)

Melhor animação

  • “Dois irmãos: Uma jornada fantástica”
  • “A caminho da lua”
  • “Shaun, o Carneiro: O Filme – A fazenda contra-ataca”
  • “Soul” (vencedor)
  • “Wolfwalkers”

Melhor curta de animação

  • “Burrow”
  • “Genius Loci”
  • “If anything happens I love you” (vencedor)
  •  
  • “Opera”
  • “Yes people”

Melhor curta-metragem em live action

  • “Feeling through”
  • “The letter room'”
  • “The present”
  • “Two distant strangers” (vencedor)
  • “White Eye”

Melhor documentário

  • “Collective”
  • “Crip camp”
  • “The mole agent”
  • “My octopus teacher” (vencedor)
  • “Time”

Melhor documentário de curta-metragem

  • “Colette” (vencedor)
  • “A concerto is a conversation”
  • “Do not split”
  • “Hunger ward”
  • “A love song for Natasha”

Melhor som

  • “Greyhound: Na mira do inimigo”
  • “Mank”
  • “Relatos do mundo”
  • “Soul”
  • “O som do silêncio” (vencedor)

Canção original

  • “Fight for you” – “Judas e o messias negro” (vencedor)
  • “Hear my voice” – “Os 7 de Chicago”
  • “Husa’vik” – “Festival Eurovision da Canção: A saga de Sigrit e Lars”
  • “Io sì” – “Rosa e Momo”
  • “Speak now” – “Uma noite em Miami”

Maquiagem e cabelo

  • “Emma”
  • “Era uma vez um sonho”
  • “A voz suprema do blues” (vencedor)
  • “Mank”
  • “Pinóquio”

Efeitos visuais

  • “Problemas monstruosos”
  • “O céu da meia-noite”
  • “Mulan”
  • “O grande Ivan”
  • “Tenet” (vencedor)

Melhor fotografia

  • “Judas e o messias negro”
  • “Mank” (vencedor)
  • “Relatos do mundo”
  • “Nomadland”
  • “Os 7 de Chicago”

Melhor edição

  • “Meu pai”
  • “Nomadland”
  • “Bela vingança”
  • “O som do silêncio” (vencedor)
  • “Os 7 de Chicago”

Melhor design de produção

  • “Meu pai”
  • “A voz suprema do blues”
  • “Mank” (vencedor)
  • “Relatos do mundo”
  • “Tenet”
Oscar 2021: veja como foi a noite de premiação
Uma turma da pesada…

Batata Movies 2 (Especial Oscar 2021). Emma. A Shipadora Do Século XIX.

Crítica: Emma (2020, de Autumn de Wilde) | Minha Visão do Cinema
Cartaz do Filme…

Dentre as nossas análises de filmes que concorrem ao Oscar desse ano de 2021, falemos hoje de “Emma”, que concorre a duas estatuetas: Melhor Maquiagem e Cabelo e Melhor Figurino. Para podermos falar desse filme, vamos precisar dos spoilers de sempre.

Emma. 2020 Emma Woodhouse | Emma woodhouse, Filmes, Moda
Emma tem fama de casamenteira…

O filme fala da história de Emma (interpretada por Anya Taylor-Joy), uma mocinha da Inglaterra do século XIX que tem como diversão principal arranjar casamentos entre as pessoas do seu círculo numa cidadezinha de interior. Cheia de si, arrogante e vaidosa, ela controla a vida das pessoas com a fama de casamenteira que conseguiu. Entretanto, ela é vista com reservas por Knightley (interpretado por Johnny Flynn), que critica a vaidade e arrogância de Emma. Knightley, assim como Emma, também é um observador arguto dos membros daquela sociedade e quase sempre não concorda com as estratégias que Emma tem para as pessoas no que se refere ao arranjo de casamentos.

Emma (2020) - Romances Históricos
Knightley não aprova as atitudes de Emma…

O filme, baseado numa história de Jane Austen, tem um gostinho de comédia, mas soa mais como uma espécie de crítica à sociedade tradicional do século XIX, onde as vidas das pessoas são regidas por rígidas convenções sociais e a preservação das aparências, ao invés das pessoas serem livres para fazerem suas escolhas afetivas. Emma se vê como uma grande sabichona e conhecedora das pessoas, mas chegará um momento na história em que ela vai errar feio em suas previsões. O preconceito e arrogância da garota também a colocarão numa tremenda saia justa quando ela comete uma indelicadeza com uma senhora, o que a deixou muito mal na fita com todos. A partir daí, suas amizades mais próximas começam a deixá-la. Outros erros de avaliação de Emma se revelam e ela finalmente percebe que tem que assumir uma postura mais humilde e que ela deve desfazer os malfeitos provocados por seu comportamento arrogante. Como a moça se arrependeu de seus atos e tentou consertá-los, a história lhe reservou o happy end que o leitor de repente até já adivinhou: ela se casa com Mr. Knightley, com quem se estranhava constantemente. Ou seja, algo bem óbvio em termos de roteiro.

Emma. - Humor, ironia e uma mesa cheia de biscoitos - SMUC
Controlando a vida das pessoas…

Já que temos uma história meia boca aqui, onde os diálogos altamente rebuscados deixam a coisa um tanto morosa e o final feliz redime todos os pecados da protagonista, vamos às indicações. A premiação de figurino encontra concorrentes fortes como “Mank” e “Mulan”. Talvez haja uma chance maior para maquiagem e cabelo, embora o trabalho em “Era Uma Vez Um Sonho” também tenha ficado muito bom.

CRÍTICA | 'Emma': adaptação irritante com Anya Taylor-Joy robótica
Um final óbvio…

Dessa forma, “Emma” é um filme engraçadinho, mas que não desperta muito entusiasmo pela história que tem até o mérito de fazer uma crítica de costumes, mas que é muito trivial e tem um desfecho altamente conveniente (uma ruína para Emma poderia cair bem melhor aqui). As indicações são merecidas, mas enfrentarão uma grande concorrência.  

Batata Movies 2 (Especial Oscar 2021). Greyhound, Na Mira Do Inimigo. Perigoso Jogo De Esconde-Esconde.

Greyhound: Na Mira do Inimigo (2020) - Ficha do Filme | Cinema e Afins
Cartaz do Filme

Dentre nossas análises dos filmes que concorrem ao Oscar, vamos falar hoje de “Greyhound, Na Mira Do Inimigo”, que concorre à estatueta de Melhor Som. Para podermos falar desse filme, vamos precisar dos spoilers de sempre.

Greyhound: Na Mira do Inimigo - Uma missão falha - SMUC
Krause precisa proteger um comboio…

Vemos aqui a história do Capitão Krause (interpretado por Tom Hanks), que tem uma difícil missão: defender um comboio de embarcações da Marinha Mercante que cruzam o Oceano Atlântico em direção à Europa durante a Segunda Guerra Mundial. O grande problema são os temidos submarinos alemães, que afundam esses barcos da Marinha Mercante, buscando evitar que os Estados Unidos consigam prover seus aliados na Europa com toda uma gama de produtos. O comboio tem apoio de aviões até uma determinada parte da travessia, quando as embarcações entram num setor chamado “buraco negro”, onde a única defesa que o comboio tem são alguns barcos que fazem a escolta. Essa lacuna dura cerca de cinco dias, quando as embarcações estão mais próximas à Europa e o apoio aéreo retorna. A embarcação que lidera a defesa do comboio é o Greyhound, capitaneado por Krause, que está em sua primeira missão de travessia do comboio. Com um péssimo tempo e o mar revolto, as estratégias de defesa tem que ser meticulosamente calculadas pelo capitão para encontrar um inimigo praticamente invisível e atacá-lo sem desperdiçar munição, pois há vários submarinos alemães atacando simultaneamente.

Greyhound: Na Mira do Inimigo – Papo de Cinema
Uma vigília incessante…

É um filme muito tenso, onde vemos Krause liderando seus homens ao mesmo tempo que ele precisa estar em contato com as outras embarcações de defesa. Apesar da infinidade de termos técnicos de navegação, com o tempo o espectador consegue entender o que está acontecendo, pois ele vai aprendendo o significado desses termos à medida que as situações ocorrem. Vemos toda a dificuldade de comunicação para que tudo o que ocorre chegue ao capitão, onde toda a equipe deve estar muito bem treinada e qualquer hesitação pode decidir questões de vida ou morte (até um espirro pode prejudicar as comunicações e atrasar uma ordem decisiva do capitão). Volta e meia, os submarinos sobem à superfície para pegar oxigênio e estão visíveis, mas as condições do tempo e do mar prejudicam as visualizações. Nesse contexto, os radares precisam funcionar dentro da maior eficiência possível e um defeito neles pode ser algo fatal. Os submarinos alemães também podem lançar iscas para enganar os radares quanto à sua posição. A autoconfiança dos alemães em destruir as embarcações era tão grande que eles entravam em contato com o Greyhound para fazer guerra psicológica, xingando ofensas e ameaçando de morte a todos. Mas a concentração da equipe não podia esmorecer um segundo. O filme mostra tudo isso com grande desenvoltura e a gente deve tirar o chapéu para Tom Hanks, não somente por sua soberba atuação de sempre, mas também pelo fato de que ele assina o roteiro, que é baseado no livro de C. S. Forester, “The Good Shepherd”.

Crítica | Greyhound: Na Mira do Inimigo (2020)
Apesar dos radares, o contato visual é determinante…

Com relação a única indicação que o filme recebeu, a de Melhor Som, creio que esse filme não ganhará, pois me parece que “O Som do Silêncio” é o grande favorito, o que é uma pena, pois esse filme é muito instigante e cativante. Talvez ele merecesse mais indicações técnicas, como os Efeitos Visuais.

Na Apple TV+ | Greyhound: Na Mira do Inimigo - Clube da Poltrona
Um homem muito religioso…

Assim, “Greyhound, Na Mira Do Inimigo” é um filme que concorre ao Oscar que não é tão badalado, mas apresenta uma história de guerra muito interessante onde Tom Hanks interpreta o protagonista principal e ainda assina o roteiro. Mesmo que não ganhe o Oscar, o valor desse filme foi reconhecido pela indicação de Melhor Som que recebeu, embora ele tivesse bala na agulha para mais indicações.  

Batata Movies 2 (Especial Oscar 2021). Nomadland. Crise Econômica Ou Estilo De Vida?

Crítica: Nomadland | Oscar 2021
Cartaz do Filme…

Dentre as nossas análises de filmes que concorrem ao Oscar desse ano de 2021, falemos hoje de “Nomadland”, que concorre a seis estatuetas: Melhor Filme, Melhor Atriz para Frances McDormand, Melhor Direção para Chloé Zhao, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Montagem e Melhor Fotografia, além de ter ganhado os Globos de Ouro de Melhor Filme de Drama e Melhor Direção. Para podermos falar desse filme, vamos precisar dos spoilers de sempre.

Nomadland”: filme que é sério concorrente ao Oscar pode ser assistido de  graça em plataforma digital
Fern, uma mulher que vive nas estradas, aqui e ali…

Vemos aqui a trajetória de Fern (interpretada por Frances McDormand), uma mulher que perdeu emprego, marido e casa depois da crise de 2008, tendo apenas a estrada e trabalhos temporários que surgem ao longo da via para viver, morando em sua pequena van e tendo uma vida totalmente nômade. Fern irá ter uma infinidade de empregos diferentes e conhecerá muitas pessoas ao longo da estrada, passando pelas mais diversas experiências. Uma vida que pode ser muito dura, mas onde também se encontra muita solidariedade entre os nômades, vítimas da recessão mas que, ao mesmo tempo, não conseguem mais se readaptar à vida sedentária.

'Nomadland' é grande favorito ao Oscar de melhor filme, dizem 'termômetros'  do Oscar | Oscar 2021 | G1
Ela encontra muita solidariedade pelo caminho…

O filme conta com a ajuda de nômades verdadeiros e, num certo clima de Road Movie, busca mostrar como essas pessoas que parecem invisíveis à sociedade americana conseguem sobreviver nesse panorama de crise econômica. Totalmente descartados pela sociedade, eles recorrem às mais diferentes estratégias, à medida que vão relatando suas experiências de vida. Há aqueles, como Fern, que pegaram a estrada depois de fortes perdas. Há outros que simplesmente optaram por essa vida, pois viram os entes queridos trabalharem a vida inteira e não puderam desfrutar de todas as suas economias pois morreram logo depois que se aposentaram. Alguns simplesmente foram afetados pela crise e não tiveram mais para onde ir. Ou seja, o filme, ao expressar de forma multifacetada a vida dos nômades, responsabiliza sim a crise econômica, mas também mostra que a vida na estrada pode ser uma opção, tudo variando muito de caso a caso. O acampamento nômade no deserto que vemos na película é o indicativo de que temos toda uma sociedade e cultura nômade sendo forjada nos Estados Unidos, algo peculiar e curioso aos nossos olhos sedentários. E, mesmo com certos desconfortos como não ter um banheiro à disposição ou enfrentar o forte frio, os nômades se adaptam à sua realidade e conseguem levar a sua vida, mesmo sendo vistos pelos sedentários com um certo preconceito, encarados como sem-teto ou pessoas em estado de forte miserabilidade.

Nomadland" conquista BAFTA
McDormand e Zhao…

Falemos, agora, das indicações. Frances McDormand está muito bem em seu papel, mas a concorrência com atrizes mais jovens (o que significa maior chance de novos contratos lucrativos) e o fato dela ter abiscoitado um Oscar nos últimos anos acaba tirando um pouco suas chances. Chloé Zhao pode ter chances de ganhar como diretora ou roteiro adaptado. A fotografia parece ter mais chances que a montagem, pois o filme mostra paisagens muito deslumbrantes do interior dos Estados Unidos, indo da neve inclemente aos desertos e paisagens rochosas, passando por parques florestais, o que dá ao Road Movie um certo gostinho de Western, muito embalado pela música country, que tem um certo destaque no filme. Tais paisagens ganham muito em beleza, mas também conseguem passar um forte sentimento de desolação, dialogando bastante com o filme e o espectador.

Favorito ao Oscar 2021, Nomadland encanta pelas contradições
O filme tem grandes paisagens…

Dessa forma, “Nomadland” é mais um filme graúdo que concorre nas categorias principais do Oscar. Com uma grande atriz e uma grande diretora, provavelmente essa película deve sair com premiações, o que não seria nenhuma surpresa.

Batata Movies 2 (Especial Oscar 2021). Bela Vingança. E Uma Covardia Muito Feia.

Bela Vingança - Filme 2020 - AdoroCinema
Cartaz do Filme

Dentre as análises de filmes que concorrem ao Oscar nesse ano de 2021, falemos hoje de “Bela Vingança”, que concorre a cinco estatuetas: Melhor Filme, Melhor Atriz para Carey Mulligan, Melhor Diretor para Emerald Fennell, Melhor Roteiro Original e Melhor Montagem. Para podermos falar desse filme, vamos precisar dos spoilers de sempre.

Bela Vingança': A realidade perturbadora retratada no filme indicado a 5  oscars | Oscar 2021 | G1
Cassandra atraía abusadores…

Vemos aqui a história de Cassandra (interpretada por Carey Mulligan), uma moça que se finge de bêbada em Night Clubs para que os homens a levem para a sua casa e aproveitem a sua suposta condição de vulnerabilidade para abusar sexualmente dela. Mas Cassandra se revela sóbria na hora em que o homem vai cometer o abuso, colocando-o numa tremenda saia justa. Ela faz isso, pois quando estava na Universidade, sua amiga muito próxima Nina sofreu abusos sexuais de estudantes de medicina e a moça se retirou da Universidade, pois ao acusar os colegas de abuso, a visão machista que existe desde sempre acabou culpando-a pelo ocorrido. Para ficar solidária com a amiga, Cassandra também se retirou da Universidade e as duas não terminaram o curso por causa disso. Mais tarde, Nina comete suicídio. Cassandra, então, começa sua saga de colocar os abusadores em seu lugar, mas ela também tem um objetivo maior: ir atrás das pessoas que desgraçaram a vida de Nina e se vingar. No meio disso tudo, aparece na vida de Cassandra Ryan (interpretado por Bo Burnham), que está muito interessado nela e parece ser um cara muito legal. Mas nem sempre as coisas são o que parecem ser.

Bela Vingança': A realidade perturbadora retratada no filme indicado a 5  oscars | Oscar 2021 | G1
… e os encostava contra a parede…

O filme tem uma mensagem muito clara que é a denunciar o abuso de mulheres em situação de vulnerabilidade pelos homens. Cassandra é uma espécie de “justiceira” que não recai no expediente da violência para castigar os machistas. Num primeiro momento, fica parecendo que vemos uma vingança à meia bomba. Mas, numa segunda análise, essa é a melhor resposta a se dar, onde temos um grande susto que é dado, mas nenhuma maldade ou violência é cometida, algo que é mais atribuído ao universo masculino. A ideia de Cassandra é fazer os algozes passarem pelo mesmo constrangimento que ela e Nina passaram, mas sem a violência que sofreram, não sendo um “olho por olho”.

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Ryan parecia o homem perfeito…

O filme se torna mais interessante em função de seus plot twists, sobretudo no desfecho da película, onde o algoz maior, o estuprador de Nina, recebe a punição mais severa. Apesar dos plot twists, o filme tem uma constante: a de que nenhum homem realmente presta, com todos tendo alguma espécie de defeito ou dando os mesmos argumentos para justificar os malfeitos do passado.

Bela Vingança | Promising Young Woman | Crítica | Apostila de Cinema
Com a mãe de Nina, relembrando as dores do passado…

E as indicações? A indicação para Melhor Atriz está uma briga muito grande e Mulligan aparece com força. Continuo dizendo que minha favorita é Viola Davis, mas ela realmente já ganhou um Oscar e, se valer a regra de se premiar atrizes mais jovens para render mais contratos lucrativos, Mulligan ganha força aqui. Na direção, temos a presença de duas mulheres: Chloé Zhao, por “Nomadland” e Emerald Fennell por “Bela Vingança”. Seria muito interessante que uma das duas ganhasse, embora “Mank” venha forte com dez indicações, podendo também ser possível que seu diretor David Fincher tenha boas chances. A premiação para Roteiro Original, escrito pela mesma Emarald Fennell, também cairia muito bem.

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Chegando ao auge de sua vingança…

Dessa forma, “Bela Vingança” é mais um medalhão que vem forte na disputa pelas principais categorias. Um filme que denuncia o comportamento machista e abusador dos homens que se aproveitam de mulheres em situação de vulnerabilidade. Chances boas para a premiação de atriz, direção e Roteiro Original.

Batata Movies 2 (Especial Oscar 2021). Meu Pai. Labirinto Cognitivo.

Meu Pai - Filme 2020 - AdoroCinema
Cartaz do Filme…

Dando sequência às nossas análises de filmes que concorrem ao Oscar desse ano de 2021, vamos falar hoje de “Meu Pai”, que concorre a seis estatuetas: Melhor Filme, Melhor Ator para Anthony Hopkins, Melhor Atriz Coadjuvante para Olivia Colman, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Montagem e Melhor Design de Produção. Ou seja, temos aqui mais um filme graúdo, com várias indicações muito importantes. Para podermos falar sobre esse filme, vamos precisar dos spoilers de sempre.

Com Meu Pai, Anthony Hopkins mostra que disputa pelo Oscar 2021 será  acirrada · Notícias da TV
Um Anthony Hopkins primoroso…

O plot é muito simples. Vemos aqui a história de Anthony (interpretado por Anthony Hopkins) e sua filha, Anne (interpretada por Olivia Colman). Anthony tem o Mal de Alzheimer e Anne precisa cuidar do pai. Mas Anthony não tem muita noção da realidade e acha que não precisa de uma pessoa para cuidar dele. Com o tempo, Anthony vai se tornando cada vez mais confuso, à medida que a doença avança, até que ele termina num asilo, completamente perdido e praticamente voltando aos seus dias de infância, totalmente vulnerável nos braços de uma enfermeira.

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Olivia Colman consegue fazer uma grande dobradinha com Hopkins…

É um filme muito desesperador, à despeito de uma história muito simples. O que torna a película muito impactante é o fato de que testemunhamos todos os acontecimentos do ponto de vista de Anthony, onde progressivamente vamos perdendo a noção total da realidade, além das lacunas de memória aumentarem cada vez mais. Toda hora estamos juntos com Anthony numa situação nova, completa ou parcialmente desconexa da situação anterior, onde não nos lembramos quem são as pessoas ou, pior até, a identidade das pessoas vai mudando. Ficamos completamente perdidos e simplesmente não sabemos o que está acontecendo. É como se o espectador adoecesse do Alzheimer e testemunhasse o desenvolvimento da doença, sem ter a menor noção de que está com algum mal. Nos sentimos totalmente vulneráveis, confusos e inseguros. Uma hora estamos num apartamento. Momentos depois, estamos em outro. Uma hora, uma cuidadora tem determinadas características físicas; noutra hora, a mesma cuidadora já é outra pessoa. Num momento, estamos acordando e tomando o café; no instante seguinte, é a hora da janta e estamos comendo frango pela enésima vez. Ou seja, estamos numa espécie de turbilhão, um labirinto cognitivo onde não conseguimos estabelecer uma continuidade de nossas experiências cotidianas. Tudo isso dá uma sensação extremamente desagradável e, principalmente, um certo estado de pânico só de pensar que existe uma possibilidade de encarar uma doença tão horrível como essa no futuro.

Meu pai' comove com drama familiar em fuga dos clichês com Hopkins  impecável; G1 já viu | Pop & Arte | G1
Uma doença que pode trazer muitos conflitos…

E as indicações? Mais um medalhão para Melhor Filme que se torna uma incógnita se vai ganhar ou não. Hopkins parece ser um forte candidato, embora já tenha ganhado um Oscar de Melhor Ator no passado (há a forte concorrência de Chadwick Boseman e Riz Ahmed). O mesmo ocorre com Olivia Colman, que ganhou uma estatueta há menos tempo (aqui parece que Amanda Seyfried é a favorita). As indicações de Montagem e Design de Produção parecem ter mais chances, já que elas dão base de uma forma bem eficiente para a narrativa altamente fragmentada de um protagonista que sofre de um mal que embaralha toda uma narrativa linear. Roteiro adaptado parece ter boas chances também.

Meu pai' comove com drama familiar em fuga dos clichês com Hopkins  impecável; G1 já viu | Pop & Arte | G1
… e grande vulnerabilidade…

Dessa forma, “Meu Pai” é mais um candidato de peso que concorre ao Oscar. Atuações primorosas de Anthony Hopkins e Olivia Colman, mas como os dois já ganharam suas estatuetas, talvez a premiação vá para as gerações mais novas. Um  filme que tira completamente o espectador de sua zona de conforto, o colocando na realidade para lá de sombria do Mal de Alzheimer.

Batata Movies 2 (Especial Oscar 2021). Judas E O Messias Negro. Traição Num Ambiente De Guerra Civil.

Judas e o Messias Negro - Ingresso.com
Cartaz do Filme

Dentre as nossas análises de filmes que concorrem ao Oscar 2021, falemos hoje de “Judas e o Messias Negro”, que concorre a seis estatuetas: Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante para Daniel Kaluuya, Melhor Canção, Melhor Roteiro Original, Melhor Ator Coadjuvante (de novo!) para Lakeith Stanfield e Melhor Fotografia, além de ter ganhado o Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante para Daniel Kaluuya. Ou seja, temos mais um concorrente de peso aqui. Para podermos analisar esse filme, vamos usar os spoilers de sempre.

Judas e o Messias Negro ganha segundo trailer e tem estreia prevista para  fevereiro - Notícia Preta
Fred Hampton, o Messias Negro…

O filme fala da trajetória de Fred Hampton (interpretado por Daniel Kaluuya), o presidente do Partido dos Panteras Negras de Illinois. Dono de um discurso muito eloquente e cativante, Hampton tinha como principal ambição reunir vários grupos na luta revolucionária para instituir o socialismo nos Estados Unidos. Ele consegue o apoio de outras facções de afroamericanos, grupos de origem latina e até brancos sulistas. Sua capacidade de aglutinação de todas essas facções provocou a preocupação no FBI, que começa a investigar mais de perto as ações de Hampton. Para isso, será infiltrado no grupo de Hampton como informante do FBI Bill O’Neal (interpretado por Lakeith Stanfield), um puxador de carros que enganava as pessoas dando uma carteirada de policial e que foi pego pela polícia, recebendo a oferta de ser informante ao invés de ir para a cadeia. A vida de O’Neal não será fácil, pois ele fica muito temeroso com toda a forma de ser dos Panteras Negras e a ideia de ser pego como informante por eles o aterrorizava. Mas, com o tempo, O’Neal percebeu como Hampton tinha um lado também mais afável, além de começar a acreditar em sua causa. Entretanto, as pressões do FBI em cima dele eram simplesmente impossíveis de se aguentar, já que a ameaça de prisão sempre era algo bem real. A coisa irá culminar com uma tocaia organizada pelo FBI para matar Hampton, onde O’Neal teve que participar.

Judas e o Messias Negro: novo trailer do forte candidato ao Oscar - TecMundo
Bill O’Neal, o Judas…

O filme, baseado numa história real, mostra como o conflito entre os Panteras Negras e o governo teve ares de uma pequena guerra dentro dos Estados Unidos, com direito a tiroteios entre a polícia e os ativistas do movimento em alguns momentos do filme. São apresentados, do lado dos Panteras Negras, vários personagens que vão simplesmente morrendo ao longo do filme. É emblemático um tiroteio entre a polícia e os Panteras Negras em sua sede, sob os olhos atônitos da população. Quando os Panteras Negras são rendidos, os policiais, sem qualquer cerimônia, levam gasolina para dentro do prédio, incendiando-o de forma criminosa, sem qualquer preocupação com uma punição. Ou seja, era um verdadeiro clima de guerra que vimos ao longo da exibição, guerra essa completamente desigual em favor das forças do governo.

Judas e o Messias Negro': o que você precisa saber sobre o filme - Cultura  - Estadão
Uma ligação perigosa…

E quanto às indicações? O leitor pode estranhar duas indicações para melhor ator coadjuvante num mesmo filme. Mas isso volta e meia acontece, até porque provavelmente não haveria uma “vaga” de Melhor Ator para um dos dois atores indicados a Melhor Ator Coadjuvante. E aí, se coloca essas indicações a Melhor Ator Coadjuvante, até porque o Oscar é uma premiação de indústria e a indicação ao Oscar também é um rótulo que dá prestígio ao indicado, valorizando-o e fazendo a roda do dinheiro rodar mais. Como Kaluuya já ganhou o Globo de Ouro, existe uma possibilidade maior de premiação para Stanfield que, diga-se de passagem, merece muito o prêmio, pois não é fácil dar vida a um personagem tão dúbio quanto um informante, que vive constantemente no medo de ser descoberto, além de ter se arrependido de tudo o que fez (o verdadeiro O’Neal acabou se suicidando). Hampton, por sua posição idealista, parece um personagem mais fácil de se fazer do que O’Neal. A premiação para Melhor Filme sempre é uma incógnita, assim como o Roteiro Original. Já a fotografia, confesso que estou torcendo para o preto e branco de “Mank”.

Artigo| 'Judas e o Messias Negro' resgata uma história que o racismo tentou  apagar - Ponte Jornalismo
Relutância ao trair…

Dessa forma, “Judas E O Messias Negro” é outro concorrente de peso ao Oscar desse ano. As atuações de Daniel Kaluuya e Lakeith Stanfield são dignas de premiação, com uma chance maior para Stanfield, que fez um personagem mais complexo. Vemos aqui mais um filme baseado numa história real, que mostra uma luta crua dos afroamericanos pelos seus direitos e a violenta repressão que sofreram.

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