Batata Séries – Jornada Nas Estrelas, A Série Clássica (Episódio Piloto) – The Cage.

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Capitão Pike, o varão “Pike” das Galáxias…

Dando sequência à análise de episódios de “Jornada nas Estrelas, vamos falar do primeiro episódio da série, o piloto intitulado “The Cage”.

A Enterprise, sobre o comando do capitão Christopher Pike, atravessa uma onda de rádio proveniente do Sistema Talos, com um antigo sinal de socorro. O sinal vem da SS Columbia, uma nave que desapareceu há dezoito anos. O capitão prefere manter o curso para Veja para levar seus feridos, já que não há indícios de sobreviventes. A decisão do capitão de não fazer o resgate deixa a tripulação da ponte estupefata. O capitão sai da ponte e passa, nos corredores, por um casal que parece mais estar indo à praia, em trajes civis (indício de que há militares e civis na nave). Nos seus aposentos, Pike chama o Dr. Boyce, que concorda com sua prioridade de ir a Veja levar os feridos e lhe oferece um Martini. Pike diz que está cansado das responsabilidades de capitão e pensa em aposentadoria. O Dr. Boyce diz claramente que se Pike deixar essa vida, corre risco de definhar. Spock entra em contato e diz que foram encontrados sinais de vida em Talos. Há 11 sobreviventes, num planeta com atmosfera de oxigênio e disponibilidade de água e alimentos. Pike decide mudar o curso para Talos em dobra sete. Uma ordenança quase se choca com Pike e este resmunga que não está acostumado com mulheres na ponte. A tenente (interpretada por Majel Barrett) olha para ele de forma surpresa e Pike pede desculpas, dizendo que com ela é diferente, o que leva a outro olhar surpreso da tenente. Aqui a gente tem que fazer um parênteses. Estamos falando de um produto cultural da segunda metade da década de sessenta do século passado, quando passava-se muito longe de qualquer coisa a discussão sobre empoderamento feminino. Mesmo que aos nossos olhos do século 21, a postura de Pike tenha sido extremamente machista para uma pessoa do século 23, deve-se ficar registrado aqui a forma perplexa como a personagem de Barrett olha para seu capitão, mostrando a sua indignação com o machismo do capitão. E temos a presença de duas mulheres na ponte de comando, algo que não acontecia em outras séries da época, como em “Viagem Ao Fundo do Mar”, com um submarino repleto de varões. Essa postura da tenente é ainda mais notável quando sabemos do comportamento de algumas mulheres que assistiram esse piloto da série, pois elas reclamaram de uma forma bem machista da postura da tenente, ao bom estilo “quem essa mulher pensa que é para estar aí nesse posto?”.  Assim, podemos dizer que Roddenberry já nos primeiros momentos de “Jornada nas Estrelas” diz ao que vem a série, que é discutir sobre a questão da diversidade e da barreira dos preconceitos.

Star Trek: Discovery' Lead is 'Number One' from 'The Cage'
Majel Barrett como a Número 1. Um olhar de perplexidade contundente contra o machismo…

A Enterprise chega ao planeta e Pike escolhe seu grupo de descida, não escolhendo a tenente, que é a “Número 1”, ou seja a Primeira Oficial da nave. Nossa tenente fica um pouco chateada de não ir, mas Pike dá um argumento convincente do tipo “como não sabemos direito o que há lá, precisamos de oficiais experientes na nave”. Ou seja, houve uma preocupação de se justificar o fato de que a tenente foi preterida: ela é uma oficial experiente e ficará responsável pela nave na ausência do capitão. Pela primeira vez vemos o teletransporte sendo usado e o impressionante cenário de Talos IV, que, mesmo sendo uma espécie de pintura, é de grande realismo para um episódio piloto. Spock e Pike encontram a plantinha azul que emite sons e que se silencia quando se pega em suas folhas. Aqui, o Spock dá o seu conhecido sorriso, já que o personagem ainda não estava suficientemente construído em toda a sua lógica vulcana. É encontrado um acampamento somente com homens idosos, os sobreviventes da SS Columbia. Pike se apresenta dizendo que é o capitão da “United Space Ship Enterprise”, fazendo com que a gente saiba o que é o U.S.S. da nave. Aparece Vina, que teria nascido logo depois do acidente e os pais morreram. Enquanto isso, nas profundezas do planeta, os talosianos assistem tudo. Vina diz que Pike é um excelente espécime e os idosos pedem desculpas pelo linguajar demasiadamente científico. Vina diz que é hora de mostrar o segredo deles à tripulação da Enterprise. Vina leva Pike para a entrada de uma caverna e ele é imobilizado e capturado pelos talosianos. Os idosos desaparecem e a tripulação tenta abrir a caverna com os phasers, o que não acontece. Spock comunica à Numero 1 que não há sobreviventes e que perderam o capitão, que caiu numa armadilha.

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A Número 1 e sua ordenança, uma personagem também com seu carisma, apesar de ser o lado mais fraco da corda…

Pike acorda na jaula. Ele tenta fugir mas não consegue. Há outras jaulas com outras espécies. Os talosianos chegam e Pike se apresenta, dizendo que é de um sistema solar do outro lado da galáxia e que suas intenções são pacíficas. Os talosianos se comunicam por telepatia e discorrem sobre Pike sem falar com ele. Pike escuta o que falam. E fica especialmente preocupado quando eles citam que logo começará a experiência.

Na nave, vemos a primeira reunião da tripulação na franquia. Foi dito que os talosianos têm a capacidade de criar ilusões e que têm um cérebro três vezes maior que o humano, podendo ser uma ameaça caso a nave ataque o planeta. Mas o capitão está encarcerado por eles. A Número 1 decide atacar Talos IV.

Os talosianos começam o teste, dando a Pike algo importante para ele proteger. Ele acaba em Rigel VII com Vina pedindo ajuda. Pike logo percebe que tudo aquilo é uma ilusão. Uma criatura surge e Pike luta contra ela, mesmo sabendo que tudo é de mentirinha. Pike mata o ser e retorna para a cela, agora acompanhado de Vina. A moça diz para Pike que ele pode ter o que quiser, mas Pike só quer saber de como se aproximar dos talosianos e não deixar mais que os mesmos usem sua mente contra ele.

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O sorriso de um Spock ainda sob construção…

Do lado de fora do túnel, a tripulação usa uma arma mais sofisticada para abrir a porta, entretanto nada acontece. O doutor diz que tudo o que estão vendo pode não passar de uma simples ilusão e a montanha onde está a caverna já pode até ter sido destruída.

Vina começa a responder algumas perguntas de Pike. Os talosianos foram para as profundezas, pois houve uma guerra e acabaram se desenvolvendo mentalmente, criando um mundo aparente e não mais se preocupando em desenvolver coisas para o mundo real, capturando alienígenas para estudar suas vidas e experiências reais. Pike está na dúvida de se Vina é real e ela afirma que sim. Nisso, entra uma talosiana que retira Vina da jaula e a leva para o castigo por ter falado demais.

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Os talosianos…

Um alimento é dado para Pike. A talosiana se comunica com ele dizendo isso e ele pergunta o que acontecerá se ele se negar a comer. A talosiana lhe dá um castigo e ele tem a ilusão de estar sendo queimado. A talosiana diz que ele precisa consumir o alimento. Pike então pergunta por que a talosiana não lhe dá uma ilusão de fome. Isso quer dizer que os talosianos têm limites em sua força telepática? A talosiana ameaça Pike, dizendo que há coisas mais desagradáveis na sua cabeça para ela transformar em castig. Pike consome o alimento e faz menção de avançar na talosiana que se assusta. Pike chega à conclusão de que a talosiana não pode ler sua mente o tempo todo. Pensamentos primitivos parecem não poder ser lidos. A talosiana fala que Vina é real e que ela foi a única sobrevivente da sua espécie.. Pike pergunta por que é importante que ele sinta atração por Vina. Seria para criar uma comunidade humana? E por que Vina é castigada se ele é que desobedece? Sarcasticamente, a talosiana fala dos sentimentos de Pike: proteção emocional e simpatia. E sai dizendo: “Excelente”. Pike vai para outra ilusão onde está fazendo um piquenique com Vina na sua casa, onde até seu cavalo aparece. Pike se lembra então da conversa que teve com o doutor, de que queria abandonar tudo e ter uma vida mais prosaica, afastada da realidade. E, agora que ele estava naquela encenação, entendia a resposta do doutor de que abandonar a realidade era um passo para definhar. Pike conversa com Vina para buscar uma saída para aquelas ilusões e ela confirma a tese de que os talosianos não lêem a mente com pensamentos primitivos. Mas isso é somente por um tempo e depois eles assumem o controle de tudo novamente, o que tornou Vina uma escrava. Os dois acabam se declarando um para o outro e os talosianos percebem que os humanos escondem os sonhos até de si mesmos. O ambiente é mudado e Vina agora é uma sensual escrava verde de Órion que se apresenta para Pike e outros homens. Pike fica incomodado com a visão e se afasta, mas Vina vai atrás dele para seduzi-lo.

Susan Oliver | Memory Alpha | Fandom
Vina. De lourinha indefesa a uma mulher que fazia um estratégico jogo duplo…

Na Enterprise, uma equipe de descida se prepara para se teletransportar. Mas o teletransporte somente funciona para a Número 1 e a ordenança. Aqui temos o famoso gesto de Spock, onde ele grita: “as mulheres!”. A Número 1 e a ordenança se materializam na jaula e Vina, que estava quase seduzindo o capitão, olha para as duas mulheres de forma atravessada, que não se abalam. A Número 1 disse que Vina estava na tripulação da SS Columbia, insinuando então que ela seria mais velha do que aparenta. Aparece uma talosiana, que diz a Pike para escolher a mulher que quiser. A Número 1 é muito inteligente, o que poderia dar filhos inteligentes, sem falar que a Número 1 tem fantasias com o capitão, o que a constrange. Já a ordenança é jovem e com grande libido. Essa forma seca de querer arranjar um casamento para duas cobaias de laboratório por parte dos talosianos é emblemática e é uma critica velada aos casamentos arranjados, mais frequentes na década de 60 do que hoje. Mas Pike nutre sua cabeça com pensamentos agressivos para ficar fora do alcance da telepatia dos talosianos, ameaçando-os com bastante raiva. A talosiana castiga Pike e diz para ter os pensamentos certos, para cooperar.

Star Trek the Cage Vina dress (com imagens) | Jornada nas estrelas ...
Buscando estratégias para sair da jaula…

Spock ia partir com a nave, pensando na tripulação, etc., etc. (algo muito estranho deixar o capitão, a Numero 1 e a ordenança para trás), mas os controles não respondem. Em Talos IV, a talosiana tenta pegar as armas da tripulação na jaula e Pike consegue prendê-la, estrangulando-a. Esta diz que destruirá a Enterprise se Pike não largar seu pescoço. Os talosianos invadem telepaticamente a Enterprise e começam a coletar os dados do computador da nave. Em Talos IV, Pike entrega a refém para a Número 1 e tenta atirar com o phaser, aparentemente descarregado, no vidro da cela. Achando que é uma ilusão, ele aponta o phaser para a cabeça da talosiana e o buraco no vidro aparece, com a ilusão desaparecendo. Todos vão para a superfície e a entrada da caverna também está toda destruída, agora que as ilusões acabaram. A talosiana diz que eles não tem para onde ir e que construirão uma civilização na superfície sob a orientação dos talosianos. A Número 1 toma mais uma atitude e coloca seu phaser para sobrecarregar e explodir, pois nenhum humano deve viver como escravo. Outros talosianos chegam e eles chegam à conclusão que a raça humana é muito perigosa pois, no cativeiro, mesmo com tudo que lhes agrade, ainda sim é uma raça muito violenta pois não tolera ficar presa. A Número 1 já tinha desativado o phaser quando os outros talosianos chegaram. Vina diz que a tripulação da Enterprise está livre para ir embora. Pike fica revoltado, pois foi aprisionado junto com a ordenança e a Número 1 e não recebeu sequer um pedido de desculpas. Os talosianos disseram que os humanos eram sua última esperança, pois eram mais adaptáveis. Pike sugeriu uma colaboração mútua, mas os talosianos não quiseram, pois acreditavam que quando os humanos aprendessem as técnicas de ilusão dos talosianos, eles se destruiriam.

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Presa e caça muito se estudaram…

A Enterprise tem de novo a sua energia. A ordenança e a Número 1 voltam. Pike fica na superfície e vê a verdadeira aparência de Vina. Muito ferida na queda da SS Columbia, a moça foi reconstruída pelos talosianos, mas eles não tinham ideia das verdadeiras formas humanas e Vina ficou com uma aparência terrível. Mas Vina foi presenteada pelos talosianos com sua bela aparência e com a ilusão de um Pike somente para ela. Pike volta para a Enterprise a tempo de ainda ter a piada fnal na ponte, onde a ordenança pergunta quem teria sido a Eva dele. A ordenança é repreendida pela Número 1 e o doutor faz uma piada com o capitão. Fim do episódio.

Esse episódio piloto de Jornada nas Estrelas, onde tudo começou enquanto série e franquia, suscita algumas discussões. Em primeiro lugar, é curioso perceber como um tema tão caro à ciência, como o ato da observação e experimentação, é tratado no episódio. A espécie talosiana lança mão da ciência para estudar espécies alienígenas como cobaias, privando-as de sua liberdade. O ato de experimentar e observar, ferramenta básica do método científico, parece, num primeiro momento, algo maniqueísta, já que é usado como um artifício para aprisionar outros povos. Por um outro lado, Christopher Pike, enquanto prisioneiro dos talosianos, também lança mão do expediente da experimentação e da observação para entender mais o povo que o aprisiona e buscar uma forma de se libertar da jaula. Assim, se o método científico aprisiona, ele também pode libertar. Ou seja, o método científico é nada mais, nada menos do que uma ferramenta. O que importa é o uso que se faz dele. Mais ou menos a mesma coisa que falamos hoje da internet.

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No diálogo final, a busca por um acordo…

Um segundo ponto, e esse é muito curioso, é a tensão entre utopia e distopia já no episódio piloto. Os talosianos, uma espécie muito desenvolvida (seu cérebro era três vezes maior que o dos humanos) vivia nas profundezas em função de uma guerra do passado. Por estarem numa situação de clausura, desenvolveram demais a mente e passaram a fazer experiências com outras espécies alienígenas, criando uma distração para os dias de confinamento, ao invés de retomarem a vida e reconstruírem sua civilização. Tal situação os impossibilitou de reconstruírem sua civilização por si mesmos e a dependerem de mão-de-obra alienígena para isso, onde os humanos eram a melhor opção.  Daí a necessidade de Pike e Vina se unir para promover a reprodução e formar essa mão-de-obra. Uma vez que Pike entende essa condição de fraqueza dos talosianos, ele oferece uma ajuda mútua que é rechaçada pelos talosianos, pois os humanos se destruiriam no momento em que eles aprendessem as técnicas telepáticas dos talosianos. Assim, se temos uma condição mais distópica atribuída aos talosianos no início do episódio, com a situação da guerra passada e do aprisionamento de espécies, ao final do episódio, os talosianos e humanos chegam ao entendimento, mais utópico, com os primeiros reconhecendo que a liberdade é muito importante para os segundos e com os humanos oferecendo ajuda aos talosianos, mesmo tendo sido aprisionados. Só ficou mal contado como Vina e a ilusão de Pike poderiam ser úteis para os talosianos reconstruírem sua civilização, esse sim um furo de roteiro.

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No fim, tudo era ilusão…

O terceiro ponto, que já foi mencionado acima, é o da questão de gênero, corajosamente abordada para a época que o episódio foi feito (1964), pois a posição da mulher naquela sociedade era altamente periférica. E aí, temos uma ponte onde duas mulheres trabalham, à despeito das observações machistas do capitão. O papel de Majel Barrett nesse episódio é de suma importância, pois ela era a Número 1 da nave, ou seja, era a capitã na ausência do capitão, e deu umas três olhadas perplexas para seu superior quando ele estava em arroubos de machismo. Ou seja, uma reação sutil que acaba sendo muito mais contundente do que se ela fosse mais direta. Já a nossa ordenança, que teria o papel mais vulnerável para o machismo do capitão, usava com inteligência o argumento de que precisava estar na ponte, já que o próprio capitão havia lhe dado ordens receber dela relatórios periodicamente. Foi especial a forma sarcástica dela entregar o relatório para o capitão no final do episódio. E mais delicioso ainda o atrevimento dela ao perguntar para o capitão, na ponte, perante todos os varões e superiores, quem seria escolhido por ele para ser a sua Eva. Lembremos que estamos em 1964, onde séries como a já citada “Viagem Ao Fundo do Mar”, não tinham mulheres em postos militares, e que as próprias mulheres telespectadoras achavam a Número 1 muito petulante por estar num posto geralmente destinado a um homem. Assim, Roddenberry já entregava seu cartão de visitas de abordar temas polêmicos para sua época no piloto da série. O leitor mais atento pode perguntar: e Vina? Ela também foi uma personagem ativa, jogando em duas frentes. Num momento, ela lançava mão de sua ligação com os talosianos para seduzir Pike, noutra hora, ela se aliava a Pike para buscar fugir da jaula, sendo uma personagem mais complexa que o da lourinha indefesa a ser salva pelo varão.

Sabemos que esse piloto não foi aprovado num primeiro momento, talvez por ser desafiador demais na época, talvez pela aparência demoníaca de Spock, que muito incomodou os WASPs de plantão. Mas “The Cage” ficou imortalizado como a obra seminal de “Jornada nas Estrelas” e um documento definitivo de uma franquia que faria muito sucesso nas cinco décadas seguintes.

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Um final feliz para Vina…

Batata Séries – Personagens de Jornada nas Estrelas – Jean-Luc Picard

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Um personagem icônico…

A Batata Espacial, em sua sessão Batata Séries, começa hoje a fazer pequenos artigos sobre personagens de Jornada nas Estrelas. Vamos começar com o mitológico Jean-Luc Picard.

James T. Kirk | Memory Alpha | Fandom
A comparação com Kirk é inevitável…

Jean-Luc Picard  é sempre lembrado como o capitão da Enterprise D. Quando ele apareceu em “Encontro em Far Point”, o episódio piloto de TNG, as comparações com o Capitão Kirk logo se tornaram inevitáveis. Podemos dizer que os dois capitães tiveram trajetórias distintas. Kirk, por exemplo, era o aluno certinho da Academia da Frota Estelar, tornando-se o homem impetuoso e aventureiro enquanto capitão da Enterprise. Já Picard foi exatamente o oposto. Era um aluno impetuoso e indisciplinado na Academia da Frota Estelar a ponto de ter um coração mecânico, pois se envolveu numa briga com nausicanos, sendo esfaqueado por isso. Mas quando assumiu o comando de naves estelares, Picard mostrou-se como profundamente moral, lógico e muito inteligente, sendo um mestre da diplomacia e do debate, que resolve problemas aparentemente insolúveis entre múltiplas partes. Picard, por exemplo, é um profundo conhecedor da cultura klingon, com sua presença sendo indispensável em questões de ordem diplomática entre a Federação e o Império Klingon. Apesar de tais resoluções serem geralmente pacíficas, Picard também é mostrado usando suas notáveis habilidades táticas em algumas situações, quando elas são requeridas. Ele gosta de histórias de detetives, interpretando Dixon Hill nos holodecks, dramas shakespearianos, cavalgadas e chá Earl Grey. Picard fez o primeiro contato com cerca de 27 espécies, incluindo ferengis e borgs.

Captain Horatio Hornblower R.N. (1951)
Horatio Hornbower (aqui na pele de Gregory Peck). Uma inspiração para Picard…

Jean-Luc Picard nasceu em La BarreFrança, filho de Maurice Picard e Yvette Gessard,  a 13 de julho de 2305, e sempre sonhou em entrar na Frota Estelar, contra a vontade do pai. Havia atritos entre Jean Luc e seu irmão Robert, por questão de ciúmes do irmão mais velho. Ele não conseguiu passar em sua primeira prova para entrar na Academia da Frota Estelar, porém subsequentemente foi admitido e se tornou o primeiro calouro a vencer a maratona da Academia. Ele era um cadete imaturo e atribuiu ao zelador Boothby chegar a um comportamento mais maduro. Seu treinamento acadêmico em arqueologia é mencionado várias vezes no decorrer da série e ele continua a buscar a tecnologia como um passatempo; ele também afirma que uma vez foi reprovado em química orgânica. Pouco depois de se formar, Picard foi esfaqueado no coração por um nausicano, deixando o orgão irreparável e requerindo substituição por um implante partenogênico. Picard inicialmente foi para a U.S.S. Reliant como alferes. Mais tarde, serviu como primeiro oficial a bordo da USS Stargazer, tornando-se posteriormente seu capitão, após a morte do capitão titular. Durante esse período, ele inventou uma tática de escape/ataque com a nave que ficou conhecida como a Manobra Picard.

10 Best Jean-Luc Picard Episodes of Star Trek: The Next Generation ...
Com Q, um debate eterno sobre as virtudes e defeitos dos humanos…

Star Trek: The Next Generation mostra Picard no comando da USS Enterprise (NCC-1701-D). O episódio piloto da série mostra a missão da nave de investigar um problema na Estação de Far Point, desviando-se quando a entidade Q faz de Picard um “representante” em um julgamento acusando a humanidade de ser uma “raça infantil perigosamente selvagem”.Picard persuade Q a testar a humanidade, com a entidade escolhendo julgar a performance da tripulação em Far Point. O julgamento “termina” sete anos depois (quando Q lembra Picard que ele nunca foi encerrado), no episódio final da série, quando a humanidade é absolvida pela demonstração de Picard de que a espécie tem a capacidade de explorar as “possibilidades da existência”.

Resistance is futile: Jean-Luc Picard and the terrifying history ...
Locutus, um grande trauma…

O último episódio da terceira temporada, “The Best of Both Worlds“, mostra Picard sendo assimilado pelos Borg, tornando-se Locutus, para servir como um ponte entre a humanidade e os Borg; sua assimilação e recuperação são pontos críticos do desenvolvimento do personagem, dando o pano de fundo para o filme Star Trek: First Contact e o desenvolvimento de Benjamin Sisko, o protagonista de Star Trek: Deep Space Nine.  Stewart pedia à Gene Roddenberry para manter Picard como um Borg por alguns episódios a mais além do final da terceira temporada, já que ele achou que seria mais interessante do que restaurar Picard na Parte II. É mais tarde revelado em First Contact que apesar de todos os maquinários Borg terem sido removidos de seu corpo, ele ainda possui lembranças traumáticas e sofre pesadelos de sua assimilação. Aliás, vale mencionar aqui que o Picard visto na série é diferente do Picard visto nos longas. Na série, ele mantém suas características originais, de ser uma pessoa moral, diplomática e capaz de resolver conflitos na base da conversa. Já o Picard dos longas está mais levado pelo espetáculo da ação, lembrando o Capitão Kirk e sua impetuosidade.

Robert Picard | Memory Beta, non-canon Star Trek Wiki | Fandom
Atritos com o irmão Robert…

O episódio “Family”, da quarta temporada, revela que Picard tem um irmão, Robert, que assumiu as vinícolas da família em La Barre depois que Jean-Luc se juntou a Frota Estelar. Robert e sua esposa Marie tem um filho, René, sobrinho de Jean-Luc. Durante Star Trek Generations, Ele descobre que Robert e René morreram em um incêndio. Picard ficou muito abalado com essas perdas, pois além da perda dos entes queridos, muito lhe atormentou o fato de que a linhagem da família seria interrompida, já que ele não tinha filhos.

Tapestry (episode) | Memory Alpha | Fandom
Esfaqueado em seus anos de imaturidade…

Picard junta forças com o lendário James T. Kirk em Generations para derrotar o Dr. Tolian Soran. Comandando a nova USS Enterprise-E, Picard novamente confronta os Borg em First Contact. Seus traumas originários da assimilação em Best of Both Worlds vão interferir em suas decisões e ele se recusa a destruir a Enterprise E que está tomada pelos borgs. Picard chegará ao disparate de chamar Worf de covarde. Mas ele será redirecionado a um comportamento mais ponderado depois que toma uma baita bronca de Lily, sua amiga do século 21.  Mais tarde ele luta contra a relocação forçada dos Ba’ku em Star Trek: Insurrection, onde descobrimos que ele é um bom dançarino de Salsa, e encontra Shinzon, um clone romulano feito com seu próprio DNA, em Star Trek Nemesis.  Tal situação de ter um antagonista que é a versão mais jovem de si próprio novamente colocará nosso capitão em conflito, onde ele tenta usar a diplomacia para salvar seu eu mais impetuoso, pois passou uma infância da humilhações nas minas remianas.

Jean-Luc Picard | Memory Alpha | Fandom
Nemesis: Picard luta contra sua versão mais jovial…

Depois do sucesso dos filmes de Star Trek com a tripulação da série clássica, uma nova série de televisão com um novo elenco foi anunciada em 10 de outubro de 1986. O criador de Star Trek ,Gene Roddenberry, nomeou Picard em homenagem a um ou ambos os irmãos Auguste Piccard e Jean Felix Piccard, cientistas suíços do século XX Auguste Pìccard foi um físico que inventou o batiscafo, uma espécie de submarino projetado para navegar a grandes profundidades. Auguste, juntamente com seu irmão Jean também eram balonistas. O filho de Auguste, Jacques Piccard, desceu no oceano para explorar a Fossa das Marianas. A descendência francesa de Jean Luc Picard é também uma homenagem direta ao explorador Jacques Cousteau.

Jean-Luc Picard | Memory Alpha | Fandom
Picard com peruca. Roddenberry não gostou…

Patrick Stewart, que havia atuado no teatro pela Royal Shakespeare Company, foi originalmente considerado para o papel de Data. Stewart disse que ele não ficaria interessado em assumir um papel de coadjuvante “para ficar sentado”. Roddenberry não queria Stewart como Picard, todavia; ele tinha imaginado um ator que era “masculino, viril e com muito cabelo”. A primeira escolha de Roddenberry era Stephen Macht, levando “semanas de discussão” com Robert Justman, Rick Berman e o diretor de elenco para convencê-lo de que “Stewart era a pessoa que eles estavam procurando para sentar na cadeira do capitão”; Roddenberry concordou depois de fazer testes com todos os outros candidatos para o papel. O próprio Stewart estava incerto dos motivos que influenciaram os produtores a escolher “um ator britânico, shakesperiano, careca e de meia idade” como capitão da Enterprise. Ele teve sua peruca vinda de Londres para se encontrar com os executivos da Paramount Pictures, porém Roddenberry mandou Stewart retirar a peruca “horrível”. Sua voz estentórica impressionou os executivos, que imediatamente aprovaram sua contratação. Roddenberry enviou à Stewart alguns livros de Horatio Hornblower, de  C. S. Forrester, dizendo que Picard era baseado em Hornblower, porém o ator já estava familiarizado com o personagem, tendo lido os livros quando criança. Podemos ver esse personagem no filme O Falcão dos Mares, protagonizado por Gregory Peck. Hornblower é um capitão da marinha britânica que se comporta como uma espécie de cavaleiro introspectivo.

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Jacques Cousteau, outra influência…

Enquanto a série progredia, Stewart exerceu mais controle sobre o desenvolvimento do personagem. Quando a produção do primeiro filme da The Next Generation começou, “era impossível de se dizer onde Jean-Luc começou e Patrick Stewart terminou”. As filmagens da primeira temporada de TNG foram um caos, mas Stewart foi fiel a seu trabalho e desenvolveu cada vez mais o personagem.

Auguste Piccard – Wikipédia, a enciclopédia livre
Auguste Piccard, inventor do batiscafo…

Stewart afirmou que, “Um dos prazeres de ter feito a série e interpretado este papel é que as pessoas são tão atraídas pela ideia de Star Trek… vários anos depois do fim da série… eu gosto de ouvir quanto as pessoas gostaram de meu trabalho… é sempre gratificante para mim que esse inglês, careca e de meia idade parece se conectar com eles”.O ator também comentou que seu papel ajudou abrir Shakespeare para os fãs de ficção científica. Ele já notou uma “presença regular de trekkers na platéia” sempre que ele se apresenta no teatro, e adicionou que “Eu encontro essas pessoas depois, recebo cartas deles e os vejo nos bastidores… E eles dizem ‘Nunca vi Shakespeare antes, achei que não iria entender, porém foi maravilhoso e mal possa esperar para voltar'”.

A volta de Picard na série produzida para a CBS All Acess no ano de 2020 trouxe reações díspares no fandom. Enquanto algumas pessoas gostaram do agora aposentado almirante, enfraquecido por uma doença degenerativa, mas obcecado em salvar a vida da andróide Soji, pois ela seria um resquício de seu amigo Data, que se sacrificou para salvar a vida de Picard em “Nemesis”, por outro lado há fãs que criticam a nova série, por ser distópica em demasia, abordar em demasia temas como o suicídio e a melancolia, além de novos personagens tratarem muito mal o protagonista da série. Ainda, causou muita estranheza a consciência do almirante ser trasladada para o corpo de um andróide. 

Poderia se falar muito mais de Picard aqui, mas podemos ver uma descrição mais completa do personagem no site Memory Alpha. Para isso, segue o link

https://memory-alpha.fandom.com/wiki/Jean-Luc_Picard

Por hoje ficamos por aqui. Num futuro próximo, falaremos de outros personagens de Jornada nas Estrelas. Até lá!!!

Star Trek Picard: tudo que você precisa saber sobre a nova série ...
Um personagem numa volta um tanto equivocada…

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 6, Episódio 19) Brincadeira De Criança. Pais Desnaturados.

Icheb numa encruzilhada…

Hoje em nossas análises sobre episódios da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager”, falemos de “Brincadeira de Criança”, o décimo-nono episódio. Ele é um desdobramento de “Coletividade”, o décimo-sexto episódio, onde crianças borgs voltaram a ser indivíduos.

Ficar na Voyager ou retornar ao planeta natal????

O plot é simples. Numa feirinha de ciências promovida para as crianças da nave, quem se destaca é o adolescente mais velho, Icheb, cujos dons em astrofísica poderão ser muito úteis para a nave. Entretanto, Janeway alerta para Sete de Nove (que faz as vezes de mãe e de professora para as crianças ex-borgs) que os pais de Icheb foram descobertos e o rapaz será entregue à sua família. O problema é que nem Icheb, nem Sete de Nove parecem estar muito à vontade com isso. E, ainda, o planeta natal de Icheb foi muito destruído pelos borgs, tornando-se uma sociedade agrária, com um conduíte transwarp borg bem nas vizinhanças do planeta, o que aumenta a chance de reassimilação de Icheb. Assim, Janeway terá que lidar com a espinhosa tarefa de segurar Sete de Nove, que sobe geral nas tamancas para segurar Icheb na nave, o próprio Icheb, que não tem muita vontade de retornar ao planeta, e os pais do menino, que querem que ele retorne. Depois de muita conversa com os pais, Icheb decide ficar com eles e se despede da tripulação da Voyager. Mas aí entra novamente Sete de Nove, pois ela descobre que Icheb foi assimilado numa nave ao invés de na superfície do planeta, como dizia o pai de Icheb.

Uma feira de ciências…

Bolada com a mentira, Sete vai novamente atazanar Janeway para, desta vez, a Voyager voltar ao planeta e cobrar explicações. Quando chegam por lá, eles descobrem que aquela civilização criou o patógeno que matava os borgs adultos (vide análise de “Coletividade”) e os inoculava usando crianças contaminadas com o patógeno como isca (credo!). Assim, Icheb já estava numa navezinha em direção ao conduíte transwarp borg para atrair um cubo. A Voyager viaja rapidamente para salvar o garoto e ainda consegue provocar sérias avarias na esfera borg (pois é, veio uma esfera ao invés de um cubo). O episódio termina com uma conversa entre Sete de Nove e Icheb, onde eles combinam que o garoto terá total autonomia em suas escolhas pessoais, como não poderia deixar de ser.

Uma professora orgulhosa…

É um episódio interessante, principalmente porque ele desperta algumas questões de nível ético. A principal delas está no fato de que o indivíduo sempre deve ter liberdade para seguir as suas vontades. Quando a família de Icheb foi descoberta, Sete de Nove, ainda experimentando seus conflitantes sentimentos humanos, ficou completamente fora de si ao perder um de seus alunos (e, por que não, filhos?) para os pais biológicos do rapaz. Não lhe ocorreu que o menino poderia decidir por si mesmo. Isso realmente acontece muito por aí, quando os pais decidem o futuro dos filhos sem consultá-los. Essa era uma prática muito comum, por exemplo, no Antigo Regime, onde a vida dos filhos era totalmente decidida pelos pais (com quem eles iam se casar, se tinham ou não direito a herança, qual seria o oficio que eles desempenhariam, etc.) que tinham, inclusive (leia-se o pai), direito de vida e morte sobre os filhos. Dar liberdade de escolha ao filho é algo mais presente nas sociedades liberais. Outra questão ética que está presente no episódio se revela no plot twist (o episódio ficaria muito fraco se ele se baseasse somente no direito de escolha de Icheb), quando os pais usaram o próprio filho como isca para matar borgs. O que parece num primeiro momento algo muito assustador e altamente reprovável, nos faz levar a outra questão: os próprios pais de Icheb disseram que tal medida era para preservar sua própria espécie da destruição total. Ou seja, era uma medida feita num ato de desespero. Até que ponto, nós que estamos numa zona de conforto, não tomaríamos tal medida desesperada e profundamente antiética também? Não quero justificar o injustificável, mas será que seríamos nobres ao ponto de repelirmos totalmente essa medida desesperada num ataque que poderia acabar com toda nossa civilização? Fica a pulga atrás da orelha para você aí, leitor.

Pai pressiona o filho a ficar no planeta…

Dessa forma, “Brincadeira de Criança” é um episódio de “Jornada nas Estrelas Voyager” que merece uma revisita em virtude das questões éticas que aponta, sendo um bom desdobramento do episódio “Coletividade”. Vale a pena dar uma conferida.

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 6, Episódio 18) De Cinzas A Cinzas. Fantasmas Do Passado.

Uma alienígena recauchutada…

Hoje nas nossas análises da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager, falemos do décimo-oitavo episódio, “De Cinzas a Cinzas”. É o tipo do episódio centrado num personagem, no caso Harry Kim, e que lança mão de dolorosas questões quando o passado é revirado. Um episódio que reabre cicatrizes.

Uma versão humana antiga…

O plot é o seguinte. Uma alienígena Kobali chega até a Voyager pedindo permissão para pousar. Ela alega que é uma antiga alferes da nave, Lindsay Ballard, morta em missão. Seu corpo foi lançado ao espaço e recuperado pelos Kobali, que têm a capacidade de retornar corpos mortos à vida e integrá-los a sua sociedade. Mas Lindsay não consegue se adaptar e foge para a Voyager. Inicialmente sob forte suspeita, a recém-chegada vai, aos poucos, convencendo a tripulação e Janeway. Exames médicos feitos pelo Doutor confirmam a argumentação da jovem. A partir daí, Kim e Lindsay tomam o centro das atenções do episódio, mostrando um relacionamento regado a muitos elementos da vida pregressa em comum dos dois que acabará levando a um romance. Mas o “Pai” Kobali de Lindsay retorna à Voyager e não abre mão de levar a “filha” de volta, nem que tenha que atacar a nave, o que vai ser um problema sério, pois a tecnologia de ataque dos Kobali é muito forte. Ao mesmo tempo em que há esse impasse, Lindsay começa a ter problemas de adaptação (sua aparência humana introduzida pelo Doutor começa a desaparecer, ela perde a memória de sua vida pregressa com os humanos, assim como demonstra uma adaptabilidade maior à cultura Kobali). Dessa forma, a moça acha que é melhor retornar para a vida Kobali, deixando Kim na mão.

Ela tem um passado com Kim…

Ou seja, é um episódio mais voltado para desenvolvimento de personagens, algo que ajuda o público trekker a criar algumas afinidades com a série. Aqui é importante ver isso, ainda mais porque o personagem Harry Kim é visto por alguns fãs como perfeitamente dispensável, por parecer não feder nem cheirar. Eu creio que todo o seu personagem pode ter sua importância na série se bem trabalhado. Foi uma pena retirarem, por exemplo, a Kes da série. Apesar das críticas, sempre se pode dar uma repaginada no personagem e se fazer mais de uma tentativa para recuperar sua relevância na história. É tudo questão de se fazer um bom roteiro onde os personagens se encaixem bem. Acredito (sou um otimista nessas horas) que o público reconhece esses esforços. Para confirmar essa minha tese, muitas séries de “Jornada nas Estrelas” são criticadas em sua primeira temporada, mas depois se recuperam nas temporadas seguintes, pois os roteiristas reinventam depois de ouvir as críticas.

Tentando trazer os bons momentos de volta…

Agora, coitado do Kim. Sacanagem com ele. Não podia a Lindsay ficar na nave com a aparência Kobali e o alferes compartilhar todas as dificuldades de adaptação com ela? Imagine Paris e Kim compartilhando suas DRs e trocando experiências? Até que não seria de todo mal, se usado nas doses certas. Se as crianças borgs foram anexadas à tripulação, por que não Lindsay? Uma ótima oportunidade para se desenvolver bons roteiros e histórias para os episódios vindouros.

Dúvidas sobre quem realmente é…

Assim, “De Cinzas a Cinzas” é mais um episódio mediano de “Jornada nas Estrelas Voyager”, mais preocupado com desenvolvimento de personagens. De qualquer forma, fica uma sensação de que se iniciou um bom plot que poderia dar mais frutos para episódios posteriores, só que isso não foi bem aproveitado. Uma pena.

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 6, Episódio 17) “Spirit Folk” (Espírito Do Povo). Inquisição Holodeck.

Uma comunidade prosaica…

Dando sequência às nossas análises de episódios da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager”, falemos hoje de “Spirit Folk”, o 17º episódio. Esse é o típico “episódio holodeck” e algumas pessoas torcem o nariz para esse tipo de episódio, pois ele não se foca no retorno da Voyager à Terra e nos problemas que podem surgir no espaço à medida que a nave avança para casa. Entretanto, pode-se dizer que o episódio é um tanto divertido, pois um bug daqueles meteu bastante gente em apuros.

Mulheres que viram vacas????

O plot consiste num programa de holodeck desenvolvido por Tom Paris (sempre ele!) que, de tão carregado, exigiu demais das máquinas e começou a dar problemas, já que o programa roda continuamente. O programa é sobre uma cidadezinha do interior da Irlanda chamada Fair Haven (ela já apareceu no 11º episódio da sexta temporada) e os personagens do programa começam a notar que os tripulantes da Voyager fazem coisas, digamos, mágicas, como transformar mulheres em vacas, acabar com um tempo nublado e substituí-lo por um dia ensolarado, ou tirar uma criança que estava presa num buraco sem um ferimento sequer. Isso acontece em virtude do bug que o programa está sofrendo por ficar rodando continuamente.

Um Doutor Padre…

Assim, os moradores de Fair Haven acham que estão lidando com espíritos que amaldiçoam a cidade. O único morador que não cai muito nessas ideias com fundo de crendice popular é Michael, o dono do bar e o “namorado” de Janeway. Ele chega a ser “capturado” por Kim e Paris para ser “consertado” e não perceber mais que os tripulantes são de uma nave espacial. Mas ele finge que foi consertado e retorna para Fair Haven falando de tudo o que viu. Quando Kim e Paris estão novamente no programa para fazer mais alguns ajustes, são capturados pelos moradores da cidade, que tentam fazer todo o tipo de magias para expulsar os “maus espíritos”. O Doutor (que fazia as vezes de padre) é enviado para lá para detê-los e tem o seu emissor móvel (usado para deixá-lo livre da influência de um programa com bugs) retirado. Com isso, ele é “hipnotizado” e começa a abrir o jogo. Michael pega o emissor móvel e Janeway pensa que é o Doutor, ordenando o transporte. Como resultado, Michael aparece na ponte da Voyager. Será aí que a capitão abre o jogo sobre tudo o que está acontecendo. Assim, os personagens e a tripulação acertam uma espécie de convivência pacífica, onde os personagens serão mantidos no banco de dados do computador da nave e, eventualmente receberão visitas da tripulação.

Um Doutor enfeitiçado…

Pois é, creio que sou obrigado a concordar que é um episódio um tanto mediano. De chamar a atenção alguns poucos pontos: foi hilário ver alguns personagens virtuais se revoltando contra a tripulação e os tais bugs desabilitando os protocolos de segurança do holodeck, deixando-os totalmente perigosos (o tiro de espingarda que um painel do holodeck toma é muito engraçado). Outro detalhe é ver como os personagens falam de crendices populares na virada do século XIX para o XX (Paris dirigia um protótipo dos primeiros automóveis) de uma forma totalmente medieval, pensando até em queimar literalmente Paris, Kim e o Doutor. Exagero? Pode ser que não.

Um holograma à solta…

Em certos lugares por aí ainda vemos hoje um comportamento muito medieval e não são personagens de holodeck, mas pessoas da vida real, em carne e osso, vivendo em plena 2019, onde a tecnologia e a informação seriam suficientes para pessoas não dizerem mais sandices como a Terra ser Plana ou a inexistência da força de gravidade. Pelo menos havia Michael, um personagem que é a voz do racionalismo e da ciência, nadando contra a maré irracional da cidade, mergulhada em mitos ancestrais. É curioso que tal clima irracional tenha sido todo provocado por um bug no programa do holodeck, com se isso sacramentasse a incoerência de uma tradição e glorificasse o racionalismo da modernidade. Voltamos aos parâmetros erráticos de um passado ancestral por um problema num programa de computador moderno. Se o programa não tivesse alguma falha, tudo correria às mil maravilhas, dentro da lógica.

Deu ruim, Janeway…

Assim, “Spirit Folk” (“O Espírito do Povo”) não chega a ser um dos melhores episódios de “Jornada nas Estrelas Voyager”, mas traz de novo a discussão entre tradição e modernidade de forma um pouco maniqueísta, criticando a primeira e exaltando a segunda. A única coisa a se relativizar é o fato de que o clima prosaico antigo é valorizado a ponto de os personagens não serem simplesmente apagados do computador (tal como B’Elanna e Sete de Nove, numa análise mais fria, queriam). Revisite, mas não espere muito.

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 6, Episódio 16) Coletividade. Creche Borg.

Janeway e Sete de Nove com uma batata quente e adolescente na mão…

E depois da maratona de análises de episódios de  “Jornada nas Estrelas Discovery”, voltemos a analisar episódios da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager”. Hoje vamos falar de um episódio um tanto inusitado. “Coletividade” vai levantar a seguinte questão: e se um cubo borg fosse controlado por… adolescentes? A ameaça seria maior? Menor? Parece que os roteiristas Andrew Price e Mark Gaberman estavam com problemas com as crianças em casa (se é que eles as têm).

Fetos borgs!!!

Bom, vamos ao plot. Chakotay, Kim, Paris e Neelix jogavam uma partida de pôquer na Delta Flyer quando foram atacados por um cubo borg. Eles são capturados. Kim desaparece e os demais tripulantes estão numa câmara de assimilação. Entretanto, tem alguma coisa de errado. O cubo parece sem tripulação e ninguém foi assimilado. Um corpo com traços errôneos de assimilação paira na câmara. A Voyager, por sua vez, percebe que o cubo tem um comportamento altamente errático e identifica somente cinco assinaturas de drones em toda a nave, que geralmente abriga cinco mil tripulantes. Os borgs entram em contato com a nave e há uma negociação: em troca dos tripulantes da Voyager, eles querem o defletor navegacional da nave. Mas a Voyager ficaria impossibilitada de entrar em dobra. Sete de Nove acredita que os borgs querem o defletor para entrarem em contato com a coletividade. Janeway envia Sete para o cubo e ela descobre que as cinco assinaturas são de borgs adolescentes que ainda não atingiram o estado de maturação total, vindo daí o comportamento errático, típico dos adolescentes. Esses adolescentes perderam o link com a coletividade e buscam recuperá-lo. Sete retorna a Voyager com o corpo de um drone adulto para análises e o Doutor descobre que os borgs foram mortos por um vírus. Os borgs adolescentes não morreram pois estavam nas câmaras de maturação protegidos. As câmaras abriram previamente devido a falhas no sistema provocadas pela morte dos borgs. O Doutor também isolou o vírus, que ficou como uma alternativa para matar os adolescentes, pois eles se revelavam muito perigosos. Janeway deixa isso como uma opção na manga, à despeito do olhar de reprovação do Doutor depois que Sete, friamente, fala a uma capitã em dúvida de que os jovens borgs matariam sem hesitar. Já o acordo com a Voyager é mudado: ao invés do defletor, a nave dará aos borgs a oportunidade de Sete consertar as avarias do cubo. O líder dos adolescentes diz que as avarias precisam ser consertadas em duas horas, caso contrário os reféns da Voyager serão mortos. Kim está na Delta Flyer, recobra a consciência e tenta contato com a Voyager. Já Sete busca relembrar aos adolescentes a vida antes da assimilação para tentar evitar o link com a coletividade. Sete, ao analisar os sistemas do cubo, descobre que os borgs desistiram do cubo e dos adolescentes, pois eles estão avariados, mas os adolescentes não conseguem entender isso. Kim é capturado e tem implantes colocados no corpo, numa assimilação mal feita. O líder dos adolescentes perde a paciência e exige novamente o defletor enquanto Sete tenta convencer os demais borgs de que a coletividade não mais os procura. A Voyager emite um pulso de energia sobre o cubo e consegue transportar Neelix, Chakotay e Paris. Mas Sete e Kim permanecem no cubo. O líder, num acesso de fúria, ataca Sete mas o segundo borg em comando contra ataca. O core transwarp do cubo sobre uma instabilidade e Sete diz que o cubo precisa ser evacuado. O líder não aceita isso e, ao tentar consertar o cubo, é atingido por uma descarga, morrendo nos braços de Sete. Com todos de volta à Voyager, Kim é tratado pelo Doutor, que também retira os implantes das crianças, com elas voltando a ser o que eram antes da assimilação.

Borgs adolescentes

O plot do episódio não deixa de ser interessante, apesar de ser uma alegoria de um problema altamente cotidiano: como lidar com a chatice dos adolescentes. Ficou bem claro no episódio que um cubo borg com cinco adolescentes pode ser muito mais perigoso que um cubo com cinco mil drones adultos, pois o primeiro é altamente instável da mesma forma que os adolescentes são. Será que temos um preconceito implícito aí? A gente pode realmente colocar todos os adolescentes nesse patamar de rebeldia e imprevisibilidade? É o tal negócio. Se fosse qualquer outra série de TV, esse tema passaria batido e seria aceito numa boa. Mas em Jornada nas Estrelas há todo um discurso de diversidade e respeito às diferenças. E aqui pareceu que os adolescentes não tiveram esse privilégio de terem a sua diversidade respeitada. Eles foram rotulados como problemáticos e ponto. Logo, esse episódio acaba ficando datado com os preconceitos da época em que foi realizado. A gente percebe que nem a coletividade queria mais os garotos por estarem “com defeito”.

Janeway busca a diplomacia…

Outra coisa que incomoda é o desfecho. Sete de Nove é o único drone (fora Locutus) que voltou da assimilação para seu estado anterior. Isso a tornava muito especial na série. De repente, quatro dos cinco adolescentes voltam ao estágio anterior também, tirando de Sete seu destaque. Confesso que preferia um final mais “triste”, com os borgs adolescentes sendo não só desprezados pela coletividade, mas também sendo sacrificados no cubo (essa alternativa ficou apenas para o líder). Creio que seria muito mais impactante os adolescentes morrerem, pois, desprezados por sua cultura borg, não teriam mais onde se encaixar e dariam fim a si mesmos. Isso também seria uma alegoria de um problema atual, onde muitos adolescentes sentem a falta de apoio em suas famílias e meio que piram na batatinha por isso. Ou seja, por serem rotulados de “chatos” são tratados como párias, onde alguns chegam até à situação extrema da depressão profunda e do suicídio. Já que o episódio decidiu meter sua colher nesse problema cotidiano, que fosse até o fim com ele, ao invés de enveredar pelo fácil e previsível caminho do “happy end”.

Mas adolescentes podem ser muito imprevisíveis…

Dessa forma, “Coletividade” é um episódio de “Jornada nas Estrelas Voyager” que foge um pouco da ficção científica por retratar um problema cotidiano que é o difícil problema de relacionamento com adolescentes. O episódio caiu no erro de reproduzir preconceitos (o que é complicado numa série que se vende como respeitando as diferenças) e perdeu a oportunidade de falar da questão do abandono que alguns adolescentes sofrem, por optar por um final feliz. Um episódio que merece uma revisita, desde que visto sob um aspecto mais crítico.

Batata Movies – Capitã Marvel. Uma Heroína Que Funciona.

Cartaz do Filme

A Marvel dá mais um de seus tiros certeiros com “Capitã Marvel”. Protagonizado pela vencedora do Oscar Brie Larson, esse é um filme que tem o trunfo de um elenco estelar. Senão vejamos: além de Larson, temos as presenças de Samuel L. Jackson, Ben Mendelsohn, Jude Law e Annette Bening. Adicionado ao bom elenco, está o fato de termos em mãos uma boa história, com direito a plot twists. Tudo isso ajudou a alavancar o filme de uma heroína pelo menos em tese menos conhecida que um Homem Aranha, Hulk, Thor ou Capitão América. E podemos dizer que a forma como a película foi construída ajudou muito a popularizar a nossa capitã. Vamos lançar mão dos spoilers aqui.

Brie Larson convenceu, e muito!!!!

O plot é o seguinte. Duas espécies alienígenas, os kree e os skrull, estão em guerra. E aí, uma terráquea, Carol Danvers, (interpretada por Larson) acaba envolvida nessa briga. Os kree, num primeiro momento, parecem ser uma espécie galante e nobre, ao passo que os skrull são violentos e feios.

Samuel L. Jackson arrebenta como um jovem Nick Fury…

Mas esse filme é um tremendo de um jogo de gato e rato, onde o que parece ser uma coisa pode depois ser completamente outra. E essa sequência de plot twists deixam a história divertida, com nossa própria protagonista não sabendo muito bem qual é a sua verdadeira identidade. Outro detalhe interessante do filme é a época em que ele se passa: 1995. Então, podemos ver e experimentar piadas referentes àqueles dias, tais como a demora para baixar um arquivo no PC ou os filmes que passavam no período, quando nossa protagonista cai numa loja do Blockbuster. Até Stan Lee (homenageado na vinheta de abertura em função de sua morte) em sua aparição na película, lia um roteiro de “Barrados no Shopping”, de Kevin Smith, filme em que ele fez uma participação naquela época.

Annette Bening, simplesmente deslumbrante e maravilhosa!!!

Ou seja, a Marvel continuou muito eficiente em sua parte de humor, sobretudo quando falava de gatos. Houve, também, a aparição do tesseract, o cubo cósmico que tem a capacidade de transformar qualquer desejo em realidade. Instrumento valioso para “Vingadores: Ultimato”? Provavelmente. Falando nisso, temos duas cenas pós-créditos na película que têm relação justamente com “Vingadores: Ultimato” e o tesseract.

Jude Law, menos tempo de tela…

E os atores? Foi muito legal ver a atuação de Brie Larson. A moça fez jus à sua premiação de Oscar de Melhor Atriz e esbanjou muito carisma, ao contrário do que podem pensar alguns que não gostaram muito da escolha de Larson para o papel. Ela teve, por exemplo, uma excelente química com Samuel L. Jackson, que fez um jovial e muito engraçado Nick Fury.

Os kree, nobres guerreiros que não são galak…

Pode-se dizer que essa dupla protagonizou até bons momentos de alívio cômico na história. Outra atriz que teve uma atuação muito esplendorosa foi Annette Bening, seja como a “mocinha” de gestos maternais com Carol Danvers, seja como uma maligna líder kree (eu disse que o filme tem muitos plot twists). Poucas vezes a gente vê um ator usando com tanta eficácia a expressividade da face como Bening, principalmente aqui nesse filme.

Os skrull, chatos, bobos e feios. Mas será que é isso mesmo???

Gosto muito de ver atores medalhões em filmes de super-heróis, pois eles dão mais credibilidade a todo o conjunto, ainda mais para esse tipo de filme, que o senso comum diz que se apoia quase que inteiramente à pirotecnia dos efeitos especiais. Jude Law, por sua vez, foi uma espécie de mentor kree para Danvers, mas mesmo tendo um plot twist com ele também, a sua atuação pareceu mais apagada se comparada à dos atores acima citados. Deu a impressão que Law teve menos tempo de tela que os demais. Entretanto, ele foi bem em todos os momentos em que apareceu.

Depois desse filme, você nunca mais vai querer um gato em casa…

Dessa forma, “Capitã Marvel” é um grande filme da Marvel, apesar de não ser o melhor de todos (ainda prefiro “Pantera Negra” e Thanos que se lasque). Mesmo assim, foi legal ver Brie Larson interagindo com esse Universo mais por seu carisma na interpretação do que pelo quesito físico da linguagem corporal das batalhas (é dito por aí que a atriz muito se preparou fisicamente para o filme, fazendo ela mesma várias cenas de luta). Foi também bacana ver um novo Nick Fury com Samuel L. Jackson dando uma outra leitura para o personagem. Annette Bening foi a cereja-surpresa do bolo. E agora resta a nós a torcida pela capitã arregaçar Thanos em “Vingadores: Ultimato”, já que os demais super-heróis ainda parecem muito deprimidos com a derrota de “Guerra Infinita”. Que o Homem Formiga saia também do mundo quântico e protagonize muitos momentos de alívio cômico com a capitã. A plateia agradece.

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery (Temporada 2, Episódio 8) Se Não Falha A Memória. Fan Service Para Os Dinossauros.

Referência direta a “A Jaula”…

Mais um episódio da segunda temporada de “Jornada nas Estrelas Discovery”. “Se Não Falha a Memória” pode ser considerado mais um bom episódio da série, considerando o rodízio episódios bons – episódios ruins, e bom também pelo fato de que ele é um tremendo fan service para os trekkers mais antigos, pois faz uma alusão direta ao primeiríssimo episódio piloto de Jornada nas Estrelas, “A Jaula”. Temos, inclusive, a aparição de cenas originais de “A Jaula” no início do episódio, até talvez para que os fãs mais novos que não tiveram contato com outras séries e momentos de Jornada nas Estrelas pudessem conhecer a referência.

As plantinhas ainda estão lá…

Vamos ao plot. A Seção 31 conversa com o comando da Frota Estelar (é a entidade secreta mais conhecida da galáxia) e eles acertam que vão colocar as naves para procurar Burnham e Spock, com exceção da Discovery, por motivos óbvios (Pike é o capitão de Spock e Burnham é tripulante). Mas a Discovery deve relatar à Seção 31 imediatamente se Burnham entrar em contato. A Imperatriz passa essas ordens para Pike, sem falar por que a Discovery está fora da busca, obviamente, e Pike desobedece parcialmente a ordem, ficando parado mas tentando rastrear Burnham, para desespero de Tyler, que prefere que a moça se vire sozinha, pois tem (como sempre) toda a capacidade para isso. Enquanto isso, Burnham e Spock chegam a Talos IV e encontram um enorme buraco negro. Burnham tenta se desviar mas Spock a impede, pois o buraco negro é uma ilusão imposta pelos talosianos como defesa. Enquanto isso, Culber e Stamets se desentendem. O médico não mais sabe quem é e não aguenta mais as investidas do engenheiro, pedindo para que ele tome o seu próprio caminho. Culber também vê Tyler na nave, ficando muito revoltado. Em Talos IV, Burnham encontra Vina e esta fala de toda a história que vimos em “A Jaula”. A moça fala que os talosianos querem ver Burnham e Spock. Eles propõem salvar Spock de sua loucura e dar acesso da mente de Spock a Burnham em troca dos dois compartilharem seu passado de dor com os talosianos. Burnham, como uma menina mimadinha, se recusa a princípio (difícil de entender isso, pois saber o que Spock tem em sua mente é vital para a questão do Anjo Vermelho), mas Vina a convence, mostrando seu rosto cheio de cicatrizes e dizendo que os talosianos não são tão maus como parecem, pois eles lhe deram uma nova vida. Burnham concorda desde que veja a mente de Spock primeiro. A visão de Spock começa com a fuga de Burnham pela floresta vulcana. O menino vê tudo e percebe quando Burnham é perseguida por uma espécie de cachorrinho do mato (um inseto que existe aqui na minha área) gigante. Spock fala com os pais, que a salvam. Spock viu o anjo pela primeira vez ali naquela situação. Anos depois, ele recebe um sinal para ir a um planeta remoto e se depara com o Anjo. Ele faz um elo mental com o anjo e a cara de Burnham aparece (essa sequência dá uma pista – que pode ser falsa ou não – de que Burnham seria mesmo o tal Anjo Vermelho); logo depois, ela vê uma guerra com muitos planetas sendo destruídos, extinguindo a vida na galáxia. Depois disso, a gente vê os dois irmãos batendo muita boca, com Burnham levando a melhor em alguns momentos e Spock levando a melhor em outros. Pelo menos me pareceu que Spock deu mais foras na Burnham (havia muito mais em jogo do que uma mera querela familiar) e confesso que gostei da interpretação do Ethan Peck também por causa disso. Ele foi bem contido, sem inventividades, fazendo o arroz com feijão. E conseguiu convencer com isso, sobretudo com sua voz grave que lembrava Nimoy e também o seu avô, o Gregory Peck, que daria até um bom vulcano vendo essa interpretação de seu neto agora. Mas, voltando ao plot. Spock dá a entender que o anjo tem pensamentos humanos, onde o desespero e a solidão dão a tônica. Os talosianos ainda fazem Burnham ver o que aconteceu com Spock na clínica psiquiátrica e viram que ele fugiu sem matar ninguém, apenas aplicando o toque neural vulcano. Na Discovery, Saru diz a Pike que muitos dados estão sendo enviados para um destino desconhecido e sem autorização. Pike pede que Saru investigue quem manda esses dados para fora da nave. Ainda, Culber sai na porrada com Tyler, com o consentimento de Saru e os dois param de brigar quando um diz para o outro que não sabe mais quem é, ou seja, a briga foi boa no sentido de que houve uma identificação entre os dois. Será que vai rolar algo? Agora, que a pancadaria foi muito pior que o Mortal Kombat da Burnham com a Imperatriz, ah isso foi! Como eles brigam mal!!! E, para piorar a situação, Saru ainda disse ao capitão que deixou os dois brigarem, pois achava que era assim que dois homens deviam resolver seus problemas, ou seja, mais uma questão do macho alfa em pleno século 23 (até Culber quis ser macho alfa, só espero que ele não vire homofóbico agora). Mesmo que digam que Kirk era o macho alfa por excelência, ainda creio que tais equívocos do passado não precisavam se repetir aqui numa série de 2018 falando do século 23. O machismo no futuro deveria ser encarado na série como uma questão já superada e não colocada de forma tão escrachada desse jeito para justificar um empoderamento feminino das personagens com mais protagonismo. As coisas deveriam ser mais espontâneas ao invés de forçadas. Pelo menos, Pike disse que essa situação não deve se repetir, já que a violência não leva a nada e o código de conduta deve ser cumprido. Tenho gostado mais dessa postura de capitão que o Pike tem tomado nos últimos episódios, pois a tripulação da Discovery é rebelde demais e tem horas que o capitão realmente precisa subir nas tamancas.

Vina again…

Voltando novamente ao plot, Pike retorna para sua sala e reencontra Vina, que conversa sobre o passado dos dois e mostra ao capitão uma transmissão subespacial onde Spock e Burnham o põem a par de tudo. Pike decide ir para Talos IV depois da conversa com Burnham e Spock, mas o motor de esporos foi sabotado. A culpa recaiu sobre Tyler, sob a alegação de que ele queria manter a nave parada (tal como queria a Seção 31) e que as mensagens foram enviadas por ele (acharam seus códigos de acesso na transmissão das mensagens). Usando o argumento de que a Seção 31 faz técnicas neurológicas invasivas e Tyler pode ter sofrido tudo isso sem saber, Pike o confina a seu alojamento. E Airiam, com a maior cara de inocente, e as luzinhas vermelhas piscando em seu olho. Em Talos IV, Spock e Burnham, pelo acordo com os talosianos, devem compartilhar suas dores do passado. Burnham fugiu de casa, pois era uma ameaça para a família por causa dos extremistas da lógica. Mas Spock não queria que ela fosse embora. Assim, ela o ofendeu profundamente, para que ele pudesse sentir raiva dela e ela poder ir embora. Ele disse que essa foi uma atitude lógica e que o fez seguir seu caminho. Mesmo assim, o diálogo mostra um ressentimento muito forte entre eles, o que deixa Burnham arrasada.

Emocionante reencontro com Pike…

A Discovery chega a Talos IV com a nave de Leland em seu encalço, mesmo que Pike tenha tentado despistar a Seção 31. As duas naves travam o transporte em Spock e Burnham, podendo despedaçá-los. Pike recua, aconselhado por Vina, e deixa os dois irem para a nave da Seção 31. Mas na verdade, a presença dos dois na nave de Leland era uma ilusão talosiana e Burnham e Spock retornam para a Discovery na nave auxiliar. Spock dá um pequeno sorriso ao rever Pike ao vivo (alusão ao sorriso de Spock Nimoy em “A Jaula”). O episódio termina com a Discovery tendo que resolver o problema do Anjo Vermelho (e da futura destruição de toda a vida na galáxia) e ainda fugir da Seção 31 e da Federação, que estão em seu encalço.

Deixa os machos se entenderem!!!

O que podemos dizer mais desse episódio? A gente pode considerar que esse foi o verdadeiro episódio de estreia de Spock em Discovery, pois no episódio anterior seu estado meio lunático ainda não dava para se tirar qualquer impressão do que seria Spock na série. Retirando o fato de que sempre é bom ver Spock de volta, volto a dizer que comprei a atuação de Ethan Peck. Alguns acham a atuação de Zachary Quinto melhor. Talvez. Me parece que Quinto estudou mais o personagem, havendo a vantagem dele ter podido interagir com o próprio Nimoy. O problema foi a emotividade excessiva que Spock sofreu no Abramsverse. Agora, Peck faz um feijão com arroz, sem muitos trejeitos e que rende bem, mesmo quando tem que se passar por algumas falas ruins como vimos depois que os talosianos obrigam os irmãos a reabrir as feridas do passado. Aquela fala onde ele deixa claro que perdeu tudo foi bem desnecessária. A gente aceita até o momento em que ele diz que mergulhou de cabeça na lógica para não ficar suscetível à experiências emocionais como as que ele teve com Burnham, mas depois ele destrói esse argumento dizendo que ele perdeu tudo, até a lógica. Típica coisa mal escrita por causa de um exagero dramático. Pelo menos, espero que Discovery apresente Spock de uma forma bem mais lógica do que emocional nos próximos episódios, pois aqui ele soube levar as querelas emocionais com Burnham sem explosões de paroxismo. Que continue desse jeito.

Um bom Spock…

A ideia de Talos IV foi boa, pois além do fan service, o argumento de trazer de volta os talosianos foi a capacidade deles de curar Spock e de ser um terreno propício para os dois irmãos interagirem, ligando suas mentes. Ou seja, não se fez aqui um fan service jogado de qualquer jeito. A argumentação para se trazer os talosianos foi válida e encaixou bem na história do arco principal, aproximando mais Discovery de Jornada nas Estrelas.

Confesso que ainda me assusta a ideia de que o Anjo Vermelho pode ser a Burnham. Dar um protagonismo excessivo à essa personagem é um dos problemas mais graves dessa série e a história ir nessa direção só pioraria esse problema. Seria muito melhor a meu ver um personagem inteiramente desconhecido como Anjo, mas pelo rumo que a história está tomando (que o Anjo vem do futuro e é humano) parece que vai ser alguém conhecido mesmo. Que os roteiristas da Discovery não sejam tão óbvios como na temporada passada quando a característica klingon de Tyler ficou bem clara muito cedo.

Relação ainda conflituosa com a irmã…

Agora, que está muito engraçadinho a Airiam com a maior cara de inocente e dando uma volta em todo mundo, ah isso está. Sei não, estou achando essa tripulação incompetente demais para demorar tanto a detectar esse problema. Não se roda um diagnóstico nessa nave e se detecta logo uma invasão do sistema? Eles pelo menos poderiam ter detectado o problema e já começado a investigar demorando um tempo até chegar a Airiam. Do jeito que está, do tipo, “ah, tô enganando todo mundo!” pega meio mal.

… mas, para sacanear a Seção 31, vale até uma aproximação…

No mais, a coisa da Discovery agora estar contra tudo e contra todos, com a Seção 31 e a Frota Estelar juntas atrás da nave como vilãs, dá um ingrediente novo à história, embora isso não tenha a menor cada de Jornada nas Estrelas, devo dizer. Primeiro que a Seção 31 é ultrassecreta originalmente e aqui ela é mais conhecida (desculpem a piada infame) que o agente secreto português Manoel do terceiro andar (todo mundo sabe quem é). E mais: a Federação e a Frota Estelar, utópicas como elas só, seriam tão distópicas agora? Muito esquisito isso. Por isso que eu começo a entender Discovery como uma livre adaptação de Jornada nas Estrelas, sem a menor necessidade de seguir qualquer cânone, assim como aconteceu no Abramsverse. Só gostaria que os roteiristas e os vários showrunners (já estamos chegando ao quinto, caramba!) pensassem o mesmo, pois engolir algumas coisas goela abaixo como cânone está sendo sofrível.

De qualquer forma, “Se Não Falha A Memória” foi um bom episódio. Tivemos um bom fan service e um bom Spock. A nave agora segue como uma renegada, perseguida por todo mundo, e fica a expectativa em cima da Airiam e de Culber. E que o Stamets tenha melhor sorte, tadinho. Deu dó dele nesse episódio.

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