Por Carlos Lohse
A Editora Aleph faz mais um bom lançamento da série “Legends” de “Guerra nas Estrelas”. “A Armadilha do Paraíso”, escrita por A. C. Crispin, a mesma autora de “Portal do Tempo”, um livro do Universo de “Jornada nas Estrelas”, é o primeiro livro de uma trilogia que fala do início da trajetória de um herói muito amado por todos: Han Solo. Um dos personagens mais icônicos de “Guerra nas Estrelas”, Han Solo pode ser qualificado como um daqueles mocinhos de jeitão canalha. Se nos primórdios do cinema, os mocinhos eram personagens que tinham apenas virtudes e não tinham qualquer defeito, com o tempo esse modelo se desgastou e os mocinhos passaram a ficar também com características, digamos, menos nobres. Um dos primeiros personagens desse modelo foi o inesquecível Rick, interpretado por Humphrey Bogart em “Casablanca”. E, definitivamente, Han Solo se tornou o paradigma desse mocinho para as gerações mais recentes. Por isso, Crispin destilou todo o seu talento para criar um passado para esse personagem tão cultuado.
E o que podemos dizer do primeiro livro da trilogia Han Solo? Ele é tudo de bom. A autora se focou nas características do personagem exibidas em “Uma Nova Esperança”, ou seja, o fato de Solo ser um grande malandro, apenas pensar nele e de ser um descrente total em qualquer questão de ordem mística ou religiosa, para buscar as origens disso. Dando uns pequenos “spoilers”, nosso personagem teve uma infância muito difícil. Ele não sabe sua origem, viveu como menino de rua e praticamente como escravo de um grupo de contrabandistas, sendo espancado sistematicamente em sua infância. Mas, para sobreviver, ele fugiu, não sem antes ver quem o amava, uma Wookie, por sinal, ser assassinada. Sua ideia era ser piloto num planeta chamado Ylesia, onde havia uma fábrica de destilação de especiarias que eram usadas como drogas. Mas lá havia também uma estranha seita cujos fiéis entravam num estranho transe. O plano de Solo era juntar o máximo de créditos que pudesse como piloto para entrar na Academia Imperial. Em tempo: Solo já tinha alguma experiência como piloto de speeders. Só que seu plano sofreria uma mudança de rumo ao conhecer uma fiel que trabalhava na confecção de especiarias, que não tinha um nome, mas sim um número: 921. A partir daí, a vida de Solo se transformará numa verdadeira montanha-russa, com situações que nos darão todas as condições de testemunhar o amadurecimento desse personagem.
Crispin consegue uma narrativa altamente feliz e nos dá, com muito êxito, um passado para Solo. Tudo o que o personagem passa nessa história torna o comportamento dele em “Uma Nova Esperança” plenamente compreensível. Seus sonhos, dores, expectativas e angústias tiram aquela capa durona dele e nos mergulham em sua natureza mais frágil, que ele quer esconder de todos. Vemos ainda aparecer um senso de companheirismo e dignidade no personagem à medida que a narrativa avança, afastando-o de sua visão inicial de menino de rua instruído a praticar furtos. Tudo isso regado a muita ação e romance, que em alguns momentos ficava um pouco excessivo. A personagem 921, por exemplo, nos remetia muito àquelas donzelas indefesas de filmes da época muda. Mas isso não tira o brilhantismo da narrativa e a boa construção do personagem de Han Solo a qual o livro se propôs.
Dessa forma, “A Armadilha do Paraíso” é mais um excelente lançamento da série “Legends” de “Guerra nas Estrelas” trazidas a nós pela Editora Aleph e, o melhor de tudo, esse é apenas o primeiro livro da trilogia que busca compreender a trajetória de Han Solo escrita por uma autora de gabarito como A. C. Crispin. Imperdível em todos os sentidos.