Por Carlos Lohse
Este ano tivemos no cinema um dos grandes e esperados lançamentos da Marvel, “Capitão América – Guerra Civil”. Esse filme foi cercado de grande expectativa, pois era uma aposta para recuperar o interesse na fase dois da Marvel, que parecia perder um pouquinho de força com tantos filmes de vários super-heróis juntos. Era necessário dar um upgrade na franquia. Isso até foi feito em “Homem Formiga” e “Deadpool”, com uma investida bem sucedida no humor e em novos personagens. Mas, cá para nós, a sequência de “Vingadores” não tinha sido lá essas coisas. Era urgente uma boa história para o Capitão América, o Homem de Ferro, Viúva Negra e companhia. E, para isso, foi recuperada do Universo dos quadrinhos “Guerra Civil”. Essa história parte da seguinte premissa: os super-heróis têm um grande poder e ações totalmente ilimitadas, algo potencialmente perigoso. Assim, é necessário que os super-heróis passem a sofrer alguma regulamentação do governo, o que divide nossos protagonistas. Um grupo, liderado pelo Homem de Ferro, aceita tal atitude e assina um documento se comprometendo a isso. Já outro grupo, liderado pelo Capitão América, fica contra essa determinação, alegando que sua liberdade de escolha será reprimida, e que limitar suas ações pode até ser mais perigoso. Assim, os dois grupos muito argumentarão e também duelarão, o que vai trazer muitas cenas de ação e, principalmente, pancadaria.
Bom, uma das primeiras vezes em que as ações violentas de heróis foram questionadas, pelo que eu me lembre, foi num episódio das Meninas Superpoderosas, onde foi feita uma sátira aos “Tokusatsus” japoneses e as heroínas mirins comandavam um enorme robô que lutava contra um gigantesco monstro e destruíam toda a cidade, matando seus habitantes. À medida que os prédios e estádios eram destruídos, a gente podia escutar o grito das pessoas. Mas isso era feito num espírito de muita gozação, bem ao estilo daquelas animações que usavam uma violência altamente escrachada, em tom muito cômico. Quem diria que um dia esse tema passaria a ser abordado de forma muito séria nos filmes de super-heróis americanos e, ainda por cima, isso aparecesse em dois filmes este ano, que praticamente estrearam um atrás do outro, primeiro o da DC (“Batman vs. Superman”) e, depois, da Marvel (“Capitão América – Guerra Civil”). Se na história da DC, a questão foi mais uma rixa pessoal entre heróis, onde um desaprovava o método do outro, na Marvel, houve uma maior implicação política na questão, onde até a opinião pública tinha peso. Entretanto, a forma como a história da Marvel foi abordada nos quadrinhos, no livro e no filme, tiveram semelhanças e diferenças. A ideia aqui é fazer uma breve explanação de como “Guerra Civil” foi contada nestas três mídias e elaborar uma pequena comparação entre elas. Primeiro vamos falar um pouco dos quadrinhos, passando imediatamente para o livro e, depois, para o filme. Acho que o leitor já percebeu que teremos que lançar mão de muitos “spoilers” para fazer essa comparação.
Comecemos com os quadrinhos. Aqui foi usada a edição da Panini, de autoria de Mark Millar (roteiro) e Steve McNiven (desenhos). A ideia da tal regulamentação de super-heróis vem depois que acontece uma grande tragédia que vitimou cerca de novecentas pessoas, tragédia essa causada por um motivo muito banal: um “reality show” de um jovem grupo de super-heróis, os Novos Guerreiros. Ao encurralar um grupo de vilões, Nitro, o mais poderoso deles, provocou uma explosão de dimensões devastadoras num bairro residencial de Stamford. No funeral de uma das crianças vitimadas pela explosão, Tony Stark é hostilizado pela mãe. Ao mesmo tempo, Johnny Storm, o Tocha Humana, é praticamente linchado na saída de uma boate, sendo isso um sinal de que a opinião pública se voltava contra os super-heróis. Já há um debate da necessidade dos super-heróis terem um registro. Enquanto isso, num aero porta aviões da Shield, a comandante Hill, que substituiu Nick Fury no comando da força de segurança, prepara uma tocaia para o Capitão América, que consegue fugir. Logo, logo, dois grupos ficam bem delineados: os que vão respeitar a lei e se registrar, liderados por Stark e os que vão se rebelar contra isso, liderados por Steve Rogers.
A história do Universo dos quadrinhos é muito rica na diversidade dos super-heróis. Vemos, por exemplo, os X-Men, que decidiram tomar uma postura neutra. O Quarteto Fantástico, por sua vez, sofreu um verdadeiro racha interno, não só no grupo, mas até no casamento entre Reed e Sue Richards. O marido, com sua mentalidade totalmente racional, ficou do lado de Stark e do governo, mas Sue não gostava muito dessa regulamentação e o rumo autoritário que as coisas tomavam, passando para o lado liderado por Capitão América. Outro detalhe muito bem trabalhado foi a participação do Homem Aranha na história. Ele recebe de Stark um traje cheio de upgrades e fica do lado do Homem de Ferro na questão. Peter Parker até revela sua identidade publicamente para dar o exemplo. Mas isso acabou colocando Tia May e Mary Jane em risco e as duas tiveram que ficar num lugar seguro, distante de Parker, que muito sofreu com isso. Ainda, a primeira grande batalha entre os super-heróis levou Golias à morte, através das mãos de um Thor clonado por Stark. Tudo isso levou o aracnídeo a contestar o que o Homem de Ferro fazia e Parker trocou de lado. Há também a presença do Justiceiro, do lado do Capitão América, e do Príncipe Namor, que entrou na batalha à pedido de Sue, mas também porque sua prima, Namorita, morreu na explosão de Stamford. Logo, temos uma quantidade de heróis bem rica na revista. Até alguns super-vilões ficaram em ambos os lados da luta. Outro detalhe interessante foi a prisão em que ficavam os super-heróis capturados e que eram contra o registro. Ela ficava numa espécie de dimensão paralela, altamente à prova de fugas, já que seria impossível manter um super-herói numa prisão normal.
No próximo artigo, vamos continuar a comentar como “Capitão América – Guerra Civil” foi abordada nos quadrinhos e começaremos a falar da versão da história no livro. Até lá!