Batata Movies – Eu, Daniel Blake. Uma Previdência Imprevidente.

Cartaz do Filme

E chegou o dia da estreia do grande vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2016. “Eu, Daniel Blake”, de Ken Loach, foi exibido no Festival do Rio ano passado, mas a procura pelo filme foi muito grande e não consegui assistir naquela época. Como a película foi laureada pelo grande prêmio do cinema na França, eu tinha certeza de que ela estrearia cedo ou tarde em circuito comercial por aqui. E foi o que aconteceu. Me despenquei para o Net Rio 5, assim que o filme entrou em circuito. E as expectativas sobre esse grande filme se confirmaram. É uma grande obra-prima que analisa muito bem a covardia pelas quais as pessoas passam quando elas dependem de serviço de Previdência Social. E isso porque estamos falando da Inglaterra.

Daniel Blake. Lutando por seus direitos

A história é sobre o Daniel Blake em questão (interpretado magistralmente por David Jones), um carpinteiro que sofre um ataque cardíaco e é impedido de trabalhar pela médica. Na hora de receber uma espécie de salário que vai cobrir seus meses de inatividade, a inspeção médica o declara apto para o trabalho e lhe corta o benefício. Blake, então, vai ter que recorrer a outra ajuda da Previdência Social inglesa, mas esbarra numa burocracia irritante, bem daquelas ao estilo que a gente conhece aqui no Brasil quando precisa resolver problemas semelhantes, e sua vida se torna uma via-crucis para tentar resolver esses problemas. No meio disso tudo, ele conhece Katie (interpretada pela fofíssima Hayley Squires), uma jovem mãe solteira, com um casal de filhos e que passa também por imensas dificuldades financeiras e problemas com a Previdência Social inglesa. Blake e Katie vão iniciar uma grande amizade para enfrentarem todas as dificuldades por que passam juntos e, ainda por cima, lutarem por seus direitos.

União comovente com Katie

Esse filme de Loach nos dá uma ideia de como é a situação dos menos favorecidos num país de Primeiro Mundo como a Inglaterra. Sentimos como existe toda uma burocracia que desmotiva as pessoas a lutarem por seus direitos. E isso num país onde foi desenvolvida a ideia de que o Estado nasce de um acordo entre os indivíduos e que a função dele é proteger os direitos e a vida das pessoas. Ou seja, a ética capitalista mais uma vez mostra aqui as suas garras, onde as pessoas precisam competir umas com as outras por trabalho em virtude da carência de empregos, assim como elas são maltratadas por instituições governamentais por não estarem na parcela produtiva da população. Loach consegue ser bem incisivo nessa crítica e nos faz sofrer com aqueles personagens, pois a identificação entre o público e eles é muito rápida. Quem já não ficou escutando aquela maldita musiquinha do autoatendimento pelo telefone, esperando ser atendido? Ou quem não já saiu por aí distribuindo seus currículos de porta em porta, somente ouvindo nãos? E, em casos mais extremos, já não ouvimos casos de quem precisa furtar coisas do supermercado para sobreviver à falta de grana ou até de ter que fazer coisas piores? Isso sem falar dos jovens mais safos que vendem produtos contrabandeados para se livrar da humilhação de um emprego que cobra muito trabalho e paga muito mal? Só não podemos nos esquecer de que tudo isso que é mostrado no filme não é apenas mérito de Loach. Também devemos bater palmas para roteirista Paul Laverty pela ótima forma com que ele conseguiu espelhar todas as situações dos menos favorecidos para simplesmente sobreviver.

O diretor Ken Loach (centro) rodeado por David Jones e Hayley Squires. Vencedores em Cannes!!!

Assim, “Eu, Daniel Blake”, é uma película fundamental, digna do prêmio que recebeu em Cannes ano passado. É mais um filme de denúncia, onde o cinema cumpre sua função social de gritar contra as injustiças. Mas isso não é nenhuma surpresa quando falamos de um diretor como Ken Loach, que sempre manteve olhos abertos para as questões sociais. Não deixem de assistir. Programa imperdível!!! E não deixe de ver o trailer abaixo…

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