A nova queridinha da América, Jennifer Lawrence, está de volta em uma ficção científica um tanto híbrida com um drama amoroso. “Passageiros”, também estrelado por Chris Pratt (de “Guardiões da Galáxia”), é um filme que trabalha um tema um tanto batido em ficção científica: o das hibernações em viagens espaciais que duram muitos anos. Só que procurou-se dar um molho especial à história, abordando-a por um outro viés que mais se aproxima de uma questão moral.
A viagem em questão dura cerca de 120 anos e é realizada pela espaçonave Avalon para um planeta colônia chamado Homestead II, pertencente a uma empresa privada. Cerca de cinco mil pessoas viajam em hibernação, quando a nave atravessa uma nuvem de asteroides, colidindo com um bem grande, o que vai provocar um defeitinho na nave que, inicialmente, apenas desligará uma das câmaras de hibernação e vai despertar seu ocupante, Jim Preston (interpretado por Pratt), que acordou noventa anos antes de a nave chegar a seu destino, ou seja, ele foi condenado a passar o resto de sua vida sozinho pela nave, embora tivesse uma única companhia, o robô Arthur (interpretado por Michael Sheen, que nada tem a ver com Martin ou Charlie Sheen). Nem é preciso dizer que Jim pirou na batatinha. Depois de cerca de um ano, ele reparou numa moça em hibernação e se sentiu atraído por ela. Ao checar seus dados no sistema, ele descobriu que ela se chamava Aurora Lane (interpretada por Lawrence) e era escritora. Quanto mais Jim conhecia a vida e a personalidade de Aurora, mais ele se apaixonava por ela. Até que ele tomou a decisão de tirá-la da hibernação para iniciar um relacionamento amoroso com a moça, algo de sérias implicações morais. A partir daí, vemos uma linda história de amor que pode sofrer uma terrível reviravolta, mas chega de “spoilers”.
Pois é, ficou a impressão de que a ficção científica aqui foi o pano de fundo para uma história de amor que, por sua vez, serviu como pano de fundo para discutir uma questão de ordem ética. A ficção científica até retorna com mais força ao fim do filme, mas para novamente servir de escada à historinha de amor que podia ser um pouco menos trivial. Mas como é Hollywood e não é cinema europeu, sobretudo o francês, que é mais realista e menos sonhador, somos obrigados a engolir obviedades, o que é uma pena.
Uma coisa que foi meio inquietante foi a variação de sentimentos da personagem Aurora. Eu sei que o cinema é a arte do ilusório, que na tela grande o amor vence todas as adversidades (quando na vida real é justamente o contrário), mas o comportamento de Aurora me pareceu pouco digno para algo tão imperdoável. E foram dadas chances de redenção para toda a complexidade da questão que foram simplesmente descartadas, o que foi uma pena, pois seria um desfecho pelo menos mais honroso para os personagens. Esse era o tipo do filme que se tornaria muito mais interessante se o “happy end” fosse abolido e seria algo totalmente compreensível, dado o contexto da trama.
Além das aparições de Lawrence e Pratt como protagonistas, tivemos uma rápida, mas muito boa presença de Laurence Fishburne como Gus Mancuso, um membro da tripulação que também é retirado da hibernação, e uma meteórica aparição de Andy Garcia bem ao final do filme. Sempre acho muito lamentável essas aparições muito rápidas de atores consagrados. Fica uma impressão muito amarga de decadência para com artistas de que gostamos muito.
Dessa forma, “Passageiros” é um filme que, acima de tudo, trabalha mais uma questão moral, mas todo esse discurso foi jogado no lixo em prol de um final feliz hollywoodiano. A ficção científica e o drama amoroso? Apenas panos de fundo. Uma pena. Mais uma impressão de boa ideia que foi desperdiçada.