Ultimamente, muitos filmes da Coreia do Sul têm aparecido por aqui, sendo alguns bem interessantes, outros nem tanto. Desta vez, assisti em pré-estreia no Joia, lá em Copacabana, a película “A Criada”, dirigido por Chan-Wook Park, que foi um filme bem interessante. Sua principal característica é a de que ele conta a sua história em camadas que vão se interagindo no transcorrer da exibição.
Vemos aqui a história de Sook-Hee (interpretada pela belíssima Tae-ri Kim), uma moça de origem pobre, filha de uma lendária ladra, que juntamente com um colega de trapaças (interpretado por Jung-woo Ha) vai dar um golpe numa família rica composta por Kouzuki, um velho que era aficionado por histórias obscenas (interpretado por Jin-Woong Jo) e sua sobrinha, Hideko (interpretada por Min-Hee Kim). O plano é o comparsa de Sook-Hee vir como um conde que ensina Hideko a desenhar e pintar, seduzindo-a para casar com a moça e aproveitar sua instabilidade emocional para interná-la num hospício. Sook-Hee seria a criada de Hideko. Quanto ao tio depravado, ele seria convencido a viajar para o Japão, país pelo qual tinha muita admiração. Na primeira parte do filme, vemos o golpe sendo colocado em execução e a história é contada do ponto de vista de Sook-Hee. Só que o término da primeira parte não acaba como o planejado e tem um desfecho surpreendente. É hora de tomarmos conhecimento da segunda parte do filme, onde todos os acontecimentos da primeira parte são vistos agora pelo ângulo de Hideki. E a terceira parte do filme é vista mais em terceira pessoa.
Por que o filme chama a atenção? Porque essa estrutura narrativa, contada em três capítulos, sendo que os dois primeiros capítulos contam a mesma história do ponto de vista de duas personagens diferentes, é algo que pode até não ser muito novo e original, mas não vemos todo dia por aí. E isso torna a trama mais interessante, sendo contada em camadas que, tais como as peças de um quebra-cabeça, acabam completando a narração da história, quando vamos para a terceira e última parte, que dá todo o desfecho da história. Esse detalhe ajuda a prender a atenção do espectador e torna a história mais deliciosa de se assistir.
O filme tem outras características que chamam a atenção, sobretudo nos temas de forte conteúdo erótico, com tórridas cenas de sexo entre Sook-Hee e Hideko. O caso amoroso entre as duas ajuda, inclusive, a colocar a história de pernas para o ar e deixar a trama mais imprevisível. É interessante perceber como a carga de erotismo do filme podia ser mais delicada e agradável em alguns momentos (como as cenas de sexo das amantes) e altamente agressivo em outros (como nas cenas onde Hideki narrava histórias de cunho masoquista para uma plateia masculina convidada por seu tio). O filme também primava por uma fotografia e figurino deslumbrantes. Mas, aliada a essa parte de maior plasticidade e sensualidade, o filme também mostrou um certo conteúdo de violência que, se não incomodou no transcorrer da película, ficou mais forte ao final. E, ainda, tivemos a oportunidade de ver algumas cenas engraçadas ao longo do filme, embora não possamos classificá-lo propriamente como uma comédia, mas serviram como bom alivio cômico.
Dessa forma, “A Criada” é um curioso filme da Coreia do Sul que já está em nossas telonas e que tem as características de mesclar de forma eficiente erotismo, violência e humor, além de possuir uma estrutura narrativa em camadas, diferente das narrações convencionais que vemos por aí. Definitivamente, é uma película que não vai te deixar indiferente e uma boa experiência cinematográfica. E não deixe de ver o trailer abaixo.