E chegou o tão esperado “Jackie”, mais um dos filmes que concorrem ao Oscar esse ano. Dirigido pelo chileno Pablo Larraín, o mesmo que produziu o bom filme “No”, a película “Jackie” está indicada a três estatuetas: melhor atriz, para Natalie Portman; melhor figurino; e melhor trilha sonora. Esse é um filme que vai se centrar na trajetória da primeira-dama Jaqueline Kennedy (interpretada por Natalie Portman) nos dias do assassinato de seu marido, o presidente John Kenedy. E de como ela vai lidar com o violento trauma, perder seu status de primeira-dama e, ainda por cima, preparar todos os detalhes do funeral e resguardar a integridade de seus filhos, num momento em que todo o país está profundamente abalado.
A história terá como fio condutor principal uma entrevista que “Jackie” (como ela era chamada) dá para um repórter em sua casa, depois de passado todo o episódio do atentado. O clima da entrevista não é exatamente algo muito amistoso, pois Jackie está enfurecida com o que alguns jornalistas escreveram sobre seu marido. Então ela assume uma postura muito firme perante seu entrevistador, partindo para o ataque em qualquer deslize ou frase infeliz que o jornalista diga.
Ainda, ela deixou claro que editaria toda a entrevista da forma que quisesse antes que chegasse aos jornais. A partir desse fio condutor, nos remetemos a tudo o que aconteceu com ela, não seguindo propriamente uma ordem cronológica, com várias idas e vindas, por exemplo, de um filme que ela fez na Casa Branca, onde falava das alterações que fazia no espaço para tornar a residência oficial cultural e historicamente mais detalhada, onde houve todo um cuidado especial no quarto de Abraham Lincoln.
O assassinato do presidente também foi meio que distribuído ao longo do filme, mais exatamente em dois momentos. Agora, o que mais tomou tempo na película foi o preparativo do funeral, onde Jackie entrou em atritos com muitas pessoas, desde Robert Kennedy (interpretado magistralmente por Peter Sarsgaard) até os assessores de Lyndon Johnson, onde ela batia o pé em alguns momentos, desafiando todas as normas de segurança para dar um enterro digno ao marido.
A velocidade dos acontecimentos e todo o trauma provocado pela morte de Kennedy também fizeram com que ela trocasse rapidamente de opinião, levando todos à loucura. Um momento muito bonito do filme foi quando Jackie conversava com um padre no cemitério de Arlington sobre as questões envolvendo a fé e a desesperança. Esse momento do filme ficou muito bom em virtude do padre ter sido interpretado pelo inesquecível John Hurt, que nos deixou recentemente e deu a nós esse pequeno presente antes de partir.
Na interpretação dos atores, três merecem destaque. Em primeiro lugar, obviamente Natalie Portman. Ainda não tive a oportunidade de ver as outras indicadas a melhor atriz. Mas podemos dizer aqui que Portman fez um bom trabalho de caracterização. Seu rosto estava envelhecido e muito magro, o que mostrou que a atriz se preocupou em passar uma imagem diferente daquela que ela tem de garotinha. A sua atuação transitava entre uma mulher aparentemente fútil, passando pela postura firme de uma primeira-dama, chegando até a uma mulher atormentada por todo o ocorrido.
Assim, havia violentas oscilações de emoção na sua interpretação e não deve ter sido fácil lidar com tudo aquilo. E ela ainda tinha que se preocupar com a parte icônica de sua personagem, fazendo caras e bocas que nos lembrassem de Jackie. Então podemos dizer que foi um trabalho realmente bom. Agora, se digno de Oscar, somente vendo as outras indicadas. Um ator que merecia pelo menos a indicação de coadjuvante é Peter Sarsgaard. O homem foi muito bem como Robert Kennedy, com uma atuação muito contida e enfrentando com muita dignidade todas as explosões emocionais de Jackie. Houve um momento no filme em que ele teve uma pequena explosão emocional, para logo depois voltar para sua serenidade perante toda a tragédia novamente. Depois de Portman, Sarsgaard foi o que mais chamou a atenção. Não podemos nos esquecer de falar também do ator John Carroll Lynch, que interpretou Lyndon Johnson e, apesar de aparecer muito pouco, chamou demais a atenção por seu semblante fechadíssimo, beirando até o soturno, e com um olhar muito penetrante, principalmente num momento em que ele entra em atrito com Jackie.
Assim, “Jackie” é mais um daqueles filmes imperdíveis que estão na lista do Oscar, que mostram todo o comportamento da primeira-dama perante a morte traumática do marido, tendo violentas oscilações. Esse foi um filme também muito pautado nas interpretações dos atores e numa boa montagem, já que a ordem cronológica não foi respeitada. Vale a pena a experiência.