E chegou às telonas o filme sobre o McDonald’s, estrelado por Michael Keaton. Mais exatamente, esse é um filme sobre Ray Kroc (interpretado por Keaton), um vendedor de máquinas de milk-shake que não parecia ter muito futuro, até o dia em que ele vendeu oito máquinas de milk-shake para os irmãos Mac e Dick McDonald, quando conheceu o sistema de produção de hambúrgueres que ficavam prontos em apenas 30 segundos, numa época em que as lanchonetes demoravam muito para fazerem comida e trocavam os pedidos.
Não havia pratos ou talheres. A comida era colocada em sacos e copos de papel e as pessoas comiam onde quisessem. O ano era 1954 e Kroc viu um grande futuro nisso, com o sonho de abrir muitas franquias das lojas pelos Estados Unidos inteiros. Mas, antes disso, ele teria que fazer uma sociedade com os irmãos e, ainda por cima, entrar em conflito com os mesmos que não queriam fazer a rede de fast food crescer muito em nome da qualidade da comida que vendiam (os irmãos temiam que com o aumento de franquias, cada loja desse uma qualidade e um tratamento diferente para a comida que vendiam, piorando o serviço).
Bom, para não dar tantos mais spoilers, esse aqui é um dos filmes onde se fala de capitalismo, obviamente. Mas se fala de um jeito dúbio. Cá para nós, esse Ray Kroc foi um tremendo de um motherfucker, e passou para trás os dois irmãos que tiveram toda a ideia que concebeu originalmente o que o McDonald’s é hoje. Assim, o filme carrega o nosso protagonista nas tintas da vilania. Mas também carrega nas tintas do grande herói americano empreendedor, que tem na sua visão e persistência as grandes virtudes. Se o McDonald’s ficasse na filosofia dos dois irmãos fundadores, ele seria uma lanchonetezinha de interior e nada mais.
Foi Kroc quem deu uma dimensão mundial à marca. Assim, Keaton teve a dupla tarefa de encenar o ideal de empresário de sucesso na Meca do capitalismo e, ao mesmo tempo, ser o cara filho da mãe inescrupuloso que passa por cima de tudo e de todos para alcançar seus objetivos. Nem é preciso dizer que o ator veterano foi muito bem. E, por isso mesmo, sua presença tem sido cada vez maior nos últimos filmes que temos visto por aqui. Laura Dern, como a esposa abandonada de Kroc, que mais flertava com sua ambição, também foi muito bem. O peso da idade já atinge o semblante da atriz que, entretanto, não perdeu sua beleza e doçura. E dava dó da mulher ser tão abandonada pelo marido, o que significa que sua atuação convenceu bastante.
Assim, “Fome de Poder” é um interessante filme que fala de um Império que está muito presente na vida de muitas pessoas hoje em dia, que é a cadeia de lanchonetes McDonald’s. Esse é um filme dos heróis dúbios do capitalismo empreendedor, que são um exemplo de sucesso e persistência, mas também um paradigma clássico da ambição e falta de escrúpulos de quem busca o lucro e o sucesso à qualquer custo. Um bom papel dado a um grande ator que é Michael Keaton e parece estar mais em forma agora do que nos anos 80, quando era mais jovem. Vale a pena dar uma conferida.