Um bom filme passou em nossas telonas. “A Promessa” é um daqueles filmes que você vai para ver atores. Mas atores que fizeram fama em blockbusters e agora mostram o seu talento em películas de cunho um pouco mais dramático, ou seja, é um espaço onde os atores podem se desenvolver mais sem o amparo dos espetaculosos efeitos especiais. Isso volta e meia acontece (vimos isso em “Paterson” outro dia com Adam Driver) e merece nossa atenção, pois só nos ajuda mais a gostar (ou não) dos atores que vemos pelos cinemas da vida. Os atores aqui em questão são Oscar Isaac (o Poe Dameron de “Guerra nas Estrelas”) e Christian Bale (que se imortalizou com “Batman”).
No que consiste a trama? Temos aqui um jovem rapaz armênio que mora numa pequena vila em território turco, Mikael (interpretado por Isaac) que quer ir a Constantinopla (atual Istambul) para estudar medicina. Para isso, ele se casa com uma moça de sua comunidade para obter o dote e, assim, ter dinheiro para fazer sua viagem e seus estudos. Mikael irá se abrigar na casa de um parente onde uma jovem moça, Ana (interpretada por Charlotte Le Bon) é um misto de babá e professora particular das crianças da casa. Os dois rapidamente se apaixonam. Mas Ana namora Chris (interpretado por Bale) um repórter americano que está de olho na situação do Império Turco Otomano. Estamos à beira da Primeira Guerra Mundial e a Turquia fez uma aliança militar com a Alemanha, aproveitando o momento para começar uma limpeza étnica que pretende riscar os armênios do mapa. Assim, vamos ver esse triângulo amoroso passar por muitas turbulências provocadas pelo primeiro genocídio do século XX, que é muito pouco conhecido.
Após essa breve sinopse, nem é preciso dizer que o filme é muito mais que uma história de drama e romance. Se fosse somente isso, já seria uma película interessante. Mas aqui o cinema também cumpre sua famosa função social de denúncia, já citada em outros textos meus. Ainda mais porque o genocídio dos armênios cometido pelos turcos é algo muito pouco falado e até hoje os turcos não reconhecem publicamente esse fato. Esse elemento faz o filme crescer em grande importância, pois ele consegue expor a situação com uma grande dose de dramaticidade, não nos deixando indiferentes ao que se passa na tela. Presenciamos na película um verdadeiro massacre totalmente injustificado por maiores que sejam as causas que o provoquem, com vilas inteiras desarmadas sendo dizimadas sistematicamente, numa verdadeira política de extermínio.
E os atores? Bom, foi dito acima que a gente vai ao cinema ver esse filme principalmente por eles. E nossos artistas não decepcionaram. É verdade que o filme gira em torno do personagem de Oscar Isaac, dando a esse ator maiores oportunidades de atuação e de se demonstrar seu talento. E podemos dizer que ele foi muito bem. Se no início do filme, ficou uma certa desconfiança com relação ao seu sotaque armênio relativamente exagerado que poderia beirar até o caricato, com o tempo Isaac vai nos conquistando com sua atuação, sobretudo nos momentos mais dramáticos, onde ele atuou de forma muito forte. A gente compra realmente o personagem com ele. Christian Bale, apesar de ter tido menos tempo na tela, também foi muito bem. Ele passou uma figura mais rude e austera, um homem inconformado com a situação social pela qual os armênios passavam e, ao mesmo tempo, atormentado pela traição da namorada. Sentíamos um peso negativo em seu personagem, mas ao mesmo tempo ele nos atraía por lutar contra as injustiças que via. Um personagem complexo que é difícil de fazer, mais até do que o personagem de Isaac, mais simplório por ser o mocinho clássico. Já Charlotte Le Bon, a atriz que fez a doce Ana, não comprometeu, sendo a mulher que brincava com as crianças, a heroína que lutava por seu povo e a amante que era a pivô do triângulo amoroso que era interrompido a todo momento pelo motivo maior do genocídio e da necessidade extrema de se salvar os armênios.
Assim, “A Promessa” é um filme que chegou por aqui sem muito alarde e se prova ser uma película de boa qualidade pela interpretação de seus atores e pela séria questão social que aborda. Essa é uma grande pedida. Vale a pena dar uma conferida em DVD.