Tom Cruise está de volta (como esse cara trabalha!), desta vez em “Feito na América” (“American Made”). Esse é mais um daqueles filmes que se baseia numa história real e, nesse caso, nos remete a algumas lembranças do passado, sobretudo no que tange ao que víamos no noticiário internacional dos telejornais lá da década de 80, quando temas altamente espinhosos como o Cartel de Medelín e os escândalos no governo americano que apoiava secretamente os contras da Nicarágua estavam na ordem do dia. Para quem vivenciou a época, esse filme é uma espécie de viagem no tempo, tornando-o muito atraente.
Mas no que consiste a história? Barry Seal (interpretado por Cruise) é um piloto comercial da TWA que tem uma vida pacata, fazendo, volta e meia, algumas coisas, digamos, pouco ortodoxas, como dar um sacolejo num avião de passageiros e alegar turbulência somente para quebrar a monotonia. Para ganhar um troco por fora, Seal contrabandeava charutos cubanos. Um belo dia, ele é sondado por Monty Schafer (interpretado por Domhnall Gleeson), um funcionário da CIA que, percebendo como o nosso protagonista era muito safo, o convoca para uma missão secreta do governo americano: fotografar movimentos guerrilheiros na América Central que recebiam armamento soviético (sim, a Guerra Fria ainda bombava naqueles anos). Seal aceitou a missão, largou uma vida confortável na TWA e partiu para essas missões, digamos, arriscadas. Foi o pontapé inicial para a vida do aviador entrar numa torrente de complicações que ele mesmo arrumou, pois se envolveu com traficantes colombianos que futuramente iriam compor o Cartel de Medelín (Pablo Escobar, inclusive), além de ser forçado pela CIA a enviar armas para os contras da Nicarágua, com o intuito de derrubar o governo sandinista, alinhado com a União Soviética. Ou seja, o homem trabalhava, simultaneamente, para traficantes de drogas e para o governo dos Estados Unidos, ganhando muita, muita grana. O problema é que essas coisas não se encaixavam muito bem… E aí, nosso simpático protagonista poderia se enrolar, e muito. Mas chega de spoilers por aqui.
A reconstituição de época do filme está ótima. Figuras como Escobar e o General Oliver North ficaram muito bem caracterizadas na película. Foram hilárias as menções ao presidente Ronald Reagan, onde pudemos ver, inclusive, trechos de filmes onde o ator presidente trabalhou, numa montagem muito engraçada que explicava o contexto em que o presidente tomou posse e suas atitudes de cowboy como o homem mais poderoso do planeta. Essa, sem a menor sombra de dúvida, foi a melhor parte do filme. Mas a coisa não parou por aí. As sequências de voos, onde víamos Seal transportando para lá e para cá armas e drogas, foram muito bem feitas. E, desta vez, Tom Cruise recebeu um papel que cai como uma luva para ele: a do carinha cafajeste, com um sorriso canalha no rosto, ao melhor estilo do “vou armar para me dar bem”. Rolou por aí até uma comparação entre esse filme e “Top Gun”, pelo fato de Cruise pilotar novamente aviões. Mas a comparação para por aí, pois se Maverick era o garotão da Força Aérea em “Top Gun”, ele não era 171 como Seal é agora em “Feito Na América”, alías um título de filme muito apropriado no contexto, quase uma espécie de declaração de mea culpa em virtude das estripulias que os Estados Unidos fazem com o resto do mundo. E devemos nos lembrar de que esse título em português é uma tradução literal do título original, algo que é muito raro de se ver e mais uma prova de que o título do filme cai como uma luva.
Assim, “Feito na América” é mais um bom filme de Tom Cruise. Se algum cinéfilo mais purista acha Cruise um mau ator (categoria na qual não me enquadro), pelo menos uma coisa somos obrigados a admitir: sua prolífica carreira está recheada de filmes de temáticas bem interessantes, indo desde o blockbuster mais convencional até filmes com um pouco mais de conteúdo como este. Por isso é que vale a pena acompanhar o trabalho deste ator, ainda mais porque ele não vai tentar te convencer a seguir a cientologia em seus filmes (pelo menos espero eu). Brincadeiras à parte, não deixe de assistir a “Feito na América”.