Batata Movies – Pickpocket. A Arte Da Mão Leve.

            Cartaz do Filme

No último dia 25 de outubro, tivemos uma palestra na Maison de France do Rio de Janeiro  com a pesquisadora de Cinema Luíza Alvim, que lançou seu livro “A Música No Cinema de Robert Bresson”. Ela fez uma apresentação de seu estudo que fala das relações entre imagem e música no Cinema. Nesse ponto, o cineasta francês Robert Bresson constitui-se de um caso especial, pois ele era extremamente cuidadoso em estabelecer essa relação não somente entre a imagem e a música, mas também entre a imagem e os ruídos do cotidiano. O cineasta faz essa relação com muito cuidado, pois ele teme, de uma certa forma, que a dramaticidade de uma música possa carregar a imagem de um significado que a última não tenha. Daí toda uma cautela em se relacionar música e imagem. Essa foi apenas uma das ideias que o trabalho de Luíza Alvim aborda e seu livro é digno de uma resenha que ainda será feita um dia por aqui. Por hora, vamos falar um pouco de um filme de Robert Bresson que foi exibido logo após a palestra de Luíza Alvim. Trata-se de “Pickpocket”, de 1959, exibido no cinema da Maison de France numa cópia de 35mm.

                           Michel, o gatuno…

No que consiste essa pequena película de 75 minutos? Vemos aqui a história de Michel (interpretado por Martin La Salle). Ele é um cara que vive de praticar pequenos furtos, ou seja, ele é um “pickpocket”, ou o popular “batedor de carteiras”. O filme mostra o cotidiano desse pequeno gatuno, que vive num apartamento muito do chinfrim e que precisa praticar seus pequenos furtos para sobreviver. Michel tem uma mãe que está doente, mas ele quase não vai à casa dela, apesar de amá-la muito (nosso protagonista parece meio que envergonhado de sua condição e não quer dar muito as caras por lá). Assim, ele aparece esporadicamente, deixa algum dinheiro nas mãos de Jeanne (interpretada por Marika Green) para entregá-lo à sua mãe e some no mundo novamente. Michel já foi preso, mas foi solto por falta de provas e mantém uma relação um tanto tensa com um policial e um amigo. Um dia, Michel conhece um outro ladrão que tem a arte da mão leve muito desenvolvida e os dois começam a trabalhar conjuntamente até o dia em que Michel é preso e fica definitivamente no xadrez. Será nessa hora que Jeanne vai aparecer para servir de amparo a nosso protagonista e o início desse relacionamento que a vida da rua evitava parece que vai dar a Michel um novo rumo em sua vida.

        Jeanne, um motivo para mudar de vida…

É um filme com excelente fotografia, pouquíssima música e muitos sons do cotidiano das ruas. Muita narração em off descreve o pensamento de nosso protagonista, como o seu medo em tentar afanar vítimas um pouco mais atentas ou o sentimento de superioridade quando conseguia executar com destreza a arte do furto. Para nosso personagem, a mão leve praticamente era uma forma de vida, uma arte para a qual ele se dedicava e que precisava de todo um preparo especial. A descoberta de outro gatuno expert na área somente reforçou essa impressão. Mas como o crime não compensa, ele acabou quebrando a cara. Muito interessante é também a justificativa de cunho mais social que ele tentou jogar para cima do policial com o qual tinha uma relação mais tensa, sendo esse mais um elemento que mostra como o ato de furtar era para ele não apenas uma luta pela sobrevivência, mas também um modo de vida. Os momentos em que a arte do furto é praticada são, de longe, os melhores do filme e justificam o anúncio de “Cuidado com os pickpockets” que vemos lá no elevador da Torre Eiffel.

                                 Metendo a mão…

A coisa da sonoridade cotidiana da rua no filme, mais a narração e interpretação desprovida de emoções parecem ser da intenção do diretor de se colocar a película mais dentro de uma visão realista, ao invés de toda uma dramaticidade de cunho mais hollywoodiano. Para isso, ajudava muito o semblante sereno e frio do protagonista que não demonstrava qualquer reação perante as situações que ele passava ao longo do filme, fossem adversas ou não. Toda essa letargia e frieza parecia às vezes um tanto forçada e até irreal.

Na cadeia, uma possível redenção com a amada…

De qualquer forma, “Pickpocket” é um filme muito interessante e merece ser visto, pois faz parte de um cinema altamente reflexivo em sua concepção e que busca criar novas convenções. Um cinema que está ali coladinho à nouvelle vague. Vale a pena procurar por aí em DVD ou talvez até no Youtube.

 

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