Um filmaço em nossas telonas. “Professor Marston e as Mulheres Maravilhas” conta a história real de William Moulton Marston, um professor universitário de psicologia que ficou conhecido por desenvolver um tipo de detector de mentiras e por conceber a famosa heroína Mulher Maravilha dos quadrinhos. O filme tem todo um charme especial, até porque a vida de nosso professor Marston foi extremamente singular, ainda mais para a época em que ele viveu (ali pela década de 20, 30, 40…). Singular eu digo por ele ser um homem à frente de seu tempo, desafiando de peito aberto as convenções rígidas da sociedade americana e caretíssima da época, embora ele não tenha feito isso sozinho.
Pois bem, nosso professor Marston (interpretado por Luke Evans, que as pessoas lembram mais por seu papel na mais recente versão de “Drácula”) criou uma teoria em psicologia que ele queria usar para compreender as relações humanas. Marston vivia com sua esposa Elisabeth (interpretada por Rebecca Hall), outra pesquisadora formada que tentava, sem sucesso, seguir sua carreira acadêmica, pois não era aceita nos doutorados da vida por ser mulher. Ambos observavam as pessoas no campus da universidade e observavam o comportamento delas para suas pesquisas. Até que um dia surgiu uma jovem lourinha muito bonita de nome Olive (interpretada pela fofíssima Bella Heathcote) que logo interessou ao casal, que queria trabalhar em especial com a moça. Esse singular relacionamento a três foi sendo balizado e dilapidado pelo detector de mentiras que Marston havia desenvolvido, chegando a algo muito inusitado para a época e servindo de inspiração para Marston conceber a Mulher Maravilha posteriormente. Mas não entrarei em mais detalhes por causa dos spoilers.
O filme surpreende principalmente aqueles que não conhecem o universo dos quadrinhos da Mulher Maravilha, pois a heroína foi concebida originalmente de uma forma bem diferente da apresentada hoje em dia. Entretanto, já podíamos presenciar na película muitos elementos que reconhecemos hoje na Mulher Maravilha: os braceletes, a roupa apertada e curta, a tiara, a influência da cultura grega antiga, o laço que forçava as pessoas a falar a verdade, etc. Fica bem claro que a personagem foi fortemente inspirada nas duas mulheres que faziam parte da vida de Marston, ou seja, Elisabeth e Olive.
Esse também é um filme que fala do assunto de superar tabus e preconceitos numa sociedade com um conservadorismo extremamente indócil, onde as pessoas acham que podem ditar o seu modo de vida, desvalorizando e perseguindo aqueles que não rezam por sua cartilha. O professor Marston, Elisabeth e Olive enfrentaram juntos situações muito escabrosas em vários momentos, levando a contenda de cabeça erguida em alguns episódios, mas fraquejando em outros, o que despertava um sofrimento enorme, e que nos ajudava a lembrar de que se tratava de seres humanos ali, independentemente de suas escolhas de vida e de convenções sociais.
Os três atores protagonistas estiveram muito bem. Não conheço toda a carreira de Evans, mas dos filmes que vi, esse foi disparado o que teve a sua melhor atuação. Rebecca Hall estava simplesmente primorosa, no seu papel da forte e, ao mesmo tempo, frágil Elisabeth. A belíssima Bella Heathcore não chegou ao nível dos dois atores já descritos aqui, mas ela emocionava muito nos momentos mais dramáticos. Ou seja, eles formaram uma trinca de respeito que vendeu bem a ideia principal do filme, que é a de ser feliz, não importa o que seu entorno diga de sua felicidade e de seu modo de vida. Outro grande barato da película foi ver algumas páginas de quadrinhos originais da Mulher Maravilha, tal como ela fora concebida pelo Professor Marston. Esse pequeno detalhe já é motivo suficiente para justificar o preço do ingresso do filme para os amantes dos quadrinhos.
Assim, “Professor Marston e as Mulheres Maravilhas” é um filmaço que deve ser assistido por todos. Pelos amantes dos quadrinhos, pelos amantes de um bom filme que reflete sobre os avanços e retrocessos da mentalidade de uma sociedade e pelos amantes do chamado empoderamento feminino que circula por aí hoje, cuja gênese foi formada há várias décadas e da qual a Mulher Maravilha é o seu maior ícone. Esse é o caso clássico do filme que é para ver, ter e guardar. Programa imperdível.