Mais um filme que concorre ao Oscar. Temos aqui o russo “Sem Amor”, que concorre à estatueta de Melhor Filme Estrangeiro. Confesso que nem gosto muito do enredo da película: um casal em crise, com violentas brigas, fruto de uma decisão mal tomada de viverem juntos, tratam o filho como um verdadeiro empecilho às suas vidas, o que deixa a criança num mato sem cachorro, obrigando-a a tomar uma atitude drástica, onde somente aí os pais farão alguma coisa com relação ao menino.
Infelizmente, a gente vê muito disso por aí, com crianças praticamente jogadas ao mundo sem qualquer base ou apoio de pais que são completamente irresponsáveis e pensam apenas em si próprios. Creio aqui que o diretor Andrey Zvyagintsev optou pelo cinema como arma de denúncia das injustiças que vemos por aí pelo mundo. Nesse ponto, o filme é uma obra-prima, pois ele é extremamente perturbador, optando pelo trágico, mas, principalmente com a noção de que a lição não foi aprendida e que os mesmos erros continuarão, tudo isso em virtude da falta de amor e compaixão entre as pessoas. Vemos aqui uma história extremamente tensa, onde o espectador frequentemente sai de sua zona de conforto, se é que há alguma. A gente também se revolta um pouco com os próprios personagens em sua falta de compaixão e com a preocupação com apenas seus próprios umbigos, fugindo de suas responsabilidades para quem os ama. “Sem Amor” pode então ser qualificado, também, como um filme extremamente revoltante, onde o espectador não desenvolve qualquer empatia com seus personagens, muito pelo contrário até.
Pelo menos, o filme mostrou algo de muito interessante: como uma investigação policial se processa de forma muito eficiente em países que minimamente levam a segurança pública a sério. A gente se pergunta, ao assistir à película, se toda aquela competência aconteceria da mesma forma por aqui. E, geralmente, as conclusões sobre este questionamento não seriam muito boas, infelizmente. Mas não entrarei em maiores detalhes em virtude dos spoilers.
Creio que, por despertar sentimentos tão fortes (definitivamente não dá para a gente ficar indiferente ao que vemos ao longo da projeção), essa é uma película que mereceria o Oscar, não fosse a forte concorrência com filmes como “O Insulto” e “Corpo e Alma”, mais digeríveis pelo público. Entretanto, a sua indicação já abriu espaço suficiente para a sua denúncia de um grave problema social que transcende fronteiras e culturas, ou seja, não estamos criando nossas crianças direito, parecendo ser esse um fenômeno mundial, principalmente quando vemos esse tipo de situação tanto aqui no Brasil quanto num país tão culturalmente diferente do nosso quanto à Rússia. Tem ficado por aí a dúvida de se a inserção cada vez maior da mulher no mercado de trabalho está tirando a referência de vida das crianças, pois elas não têm mais a companhia materna à sua disposição o dia inteiro para educá-las.
Ao mesmo tempo, se isso estiver acontecendo, ainda assim a solução não seria retirar a mulher do mercado de trabalho e confiná-la em casa com seus filhos. De qualquer forma, as consequências dessa falta de referência na educação das crianças em todo o mundo recairão sobre nós mesmos. Por essas e por outras, “Sem Amor”, apesar de profundamente odioso, é um filme fundamental, onde o cinema cumpre a sua função social de denúncia. É para se ir ao cinema, assistir, se indignar e, principalmente, refletir…