Continuando nossa saga de analisar os filmes indicados ao Oscar, falemos hoje de “Lady Bird, É Hora de Voar”, que concorre a cinco estatuetas (Melhor Filme, Melhor Atriz para Saoirse Ronan, Melhor Atriz Coadjuvante para Laurie Metcalf, Melhor Direção para Greta Gerwig e Melhor Roteiro Original, também para Greta Gerwig). Além disso, o filme também levou o Globo de Ouro de Melhor Filme de Comédia ou Musical e Melhor Atriz de Musical e Comédia para Saoirse Ronan. Ou seja, mais um medalhão e páreo duro para a noite de premiação. Antes de mais nada, vejo esse filme como um grande enigma em termos de premiação, pois ele parece não ser grande coisa e está sendo muito celebrado. O que acontece aqui então?
Bom, a película conta a história de uma menina de Sacramento, Califórnia, de nome Christine McPherson (interpretada por Ronan), que adota o pseudônimo, considerado por muitos estranho, de Lady Bird. Podemos dizer que a moça é uma pós-adolescente que ainda não amadureceu de todo e é muito encucada com várias coisas, sendo a típica garota enxaqueca de tão chata que é. Ela vive às turras com sua mãe (interpretada por Laurie Metcalf). Tudo levava a crer que se tratava de um típico drama adolescente, onde devemos ver a garotinha perdida com uma certa complacência, pois os hormônios funcionando a mil não deixavam ela ter muito a consciência do que fazia. Ou seja, uma típica história para lá de sacal e barata.
Só que o filme não é somente isso (apesar de, inicialmente, ter-se a impressão de que ele será apenas isso mesmo). A menina chata, que pensa grande, pois ela quer ir para uma grande Universidade Americana, algo que praticamente ninguém põe fé (até os seus familiares), vai aos poucos revelando seus sonhos e fragilidades no meio em que ela vive, paulatinamente conquistando o espectador de forma arrebatadora já que, em algum momento de sua trajetória, a gente se identifica com a moça e começa a compreendê-la debaixo de todo aquele véu de chatice adolescente. Para começar, ela vive numa família que a própria moça intitula que está no “lado ruim da linha do trem”, ou seja no lado onde vivem pessoas de um estrato social mais baixo, ao contrário das mais ricas que moram do outro lado. Isso já a torna de cara uma outsider, o que muito incomoda a moça.
Ela tem uma amiga bem gordinha, também outsider e fragilizada por sua condição. Todos os jovens dessa comunidade (seja do lado de lá ou do lado de cá da linha do trem) frequentam uma Escola Católica e Lady Bird participa de várias experiências como o grupo de teatro, o primeiro namorado, a primeira vez e a tentativa de inclusão no grupo dos riquinhos descolados do colégio. Isso leva a menina a muitas esperanças e decepções que a amadurecem. Ou seja, vemos uma trajetória que é uma sucessão de lições de vida que nos fazem reavaliar nosso próprio passado à medida que o filme vai sendo exibido. A diretora e roteirista Greta Gerwig faz isso de uma forma muito afetuosa, levando o espectador a comprar a ideia, mesmo que Ronan parecesse com mais idade para o papel. Sei lá, a impressão que ela tinha dado em “Brooklyn” foi a de uma moça um pouco mais madura. Talvez essa diferença de idade seja até benéfica para a atriz, pois a gente realmente vê uma pós-adolescente imatura em sua atuação e acredita nela.
Assim, pelo número de estatuetas indicadas e pelos prêmios do Globo de Ouro, de repente um filme com cara de azarão tem mais tarimba para fazer bonito na noite de premiação. Esse é, sobretudo, um filme de atores, cujo elenco também não deixou a desejar. Vale a pena dar uma conferida.