Uma co-produção argentino-uruguaia na área. “Minha Amiga do Parque”, de Ana Katz, é uma película, acima de tudo, sobre a fragilidade que a solidão impõe às pessoas. Tudo isso acompanhado de bebês, carrinhos, mamadeiras e passeios no parque.
Vemos aqui a história de Liz (interpretada por Julieta Zylberberg), uma mãe de primeira viagem que precisa cuidar de seu filho com alguns meses de vida, sozinha. Isso porque seu marido está em viagem de trabalho. O cotidiano de Liz é ficar totalmente dedicada à criação de seu filho, tendo poucas formas de companhia. Esse detalhe, mais o arrependimento que ela teve de não produzir leite para seu filho deixaram-na extremamente fragilizada. Um belo dia, Liz encontra Rosa (interpretada por Ana Katz), que também tem uma criança. Logo, as duas começam uma amizade. Mas a forma como Rosa se comporta, seja incitando Liz a sair de uma lanchonete sem pagar a conta, seja sem ter qualquer pudor de ser pidona com as coisas de Liz, seja falando um monte de mentiras, incomoda desde o primeiro instante. O filme, a partir daí, vai desenvolvendo essa ideia e a gente fica na expectativa de como Liz, fragilizada pela solidão, vai ser ou não um alvo fácil para Rosa, que parece ser, no mínimo, uma irresponsável. Ou mau-caráter mesmo…
O filme, que parece ser uma historinha água com açúcar, vai paulatinamente ganhando tons dramáticos, à medida que Liz aprofunda suas relações na rua. O caminho que essas amizades tomam parece não ser o melhor, e a história vai dando sinais disso. A gente espera que Liz quebre a cara fragorosamente ao final do filme. Isso vai mesmo acontecer? Chega de tantos spoilers.
As atrizes estiveram muito bem. Julieta Zylberberg teve uma atuação cativante, sobretudo nos seus momentos de fragilidade. Ela conseguia envolver bem o espectador no clima de solidão e tristeza na qual estava metida. Já Ana Katz funcionou bem como a amiga falsa, interesseira, sonsa e irresponsável de Liz. O mais interessante é que não temos uma personagem simples e plana no caso de Rosa, sendo mais complexa até do que a própria protagonista.
Mesmo que façamos algum juízo de valor sobre as personagens, o filme deixa bem claro que quer destacar as suas características humanas, mostrando não somente os defeitos, mas também as virtudes e fraquezas, sobretudo das personagens Liz e Rosa.
Assim, se “Minha Amiga do Parque” é uma película relativamente curta (cerca de 86 minutos), podemos destacar a fragilidade que a solidão impõe como tema principal, seguida pela construção das personagens, que se são marcadas inicialmente por juízos de valores, ainda assim elas são exibidas como figuras humanas com defeitos, virtudes e fragilidades. Temos uma protagonista estressada e no fio da navalha em virtude de sua solidão. E uma antagonista que, apesar de interesseira, também deixa escapar seu lado emotivo. Nada de tão pirotécnico (o desfecho da película se faz num tremendo anticlímax), num choque de realidade que elenca o humano como fator principal.