Mais uma curiosa produção passou em nossas telonas. “Lucky” nos lembra muito daqueles casos de pessoas que têm uma vida longeva, apesar de alguns hábitos pouco salutares. Mas, será que problemas existenciais atingem esse tipo de pessoas? Pelo que o filme mostra, claro que sim.
O Lucky em questão (interpretado por Harry Dean Stanton) é um velhinho, veterano da Segunda Guerra Mundial, que vive numa cidadezinha de interior. Ele tem hábitos muito metódicos. Ao se levantar da cama, faz exercícios, se arruma, para numa lanchonete, depois vai para uma loja comprar cigarros, assiste a programas de TV e, depois, vai a um bar à noite. Ele tem a mania de fazer palavras cruzadas e de descobrir com precisão o significado de algumas palavras. Um belo dia, Lucky tem um mal estar e cai ao chão, o que vai forçar ele a ir ao médico. Qual não é a surpresa quando o médico diz a ele que tem uma saúde de ferro e que esse mal estar é apenas o sinal de uma velhice, que prenuncia uma morte inevitável? A partir daí, nosso Lucky fica bem incomodado com a situação, com sua cabeça fervilhando de problemas existenciais. Afinal de contas, ele percebe que já está numa idade muito avançada e que sua morte é questão de tempo. Mas, como encarar essa situação escabrosa com naturalidade, já que ela acontece para todo mundo e é inevitável?
O filme torna-se uma espécie de jornada pelo conhecimento de si mesmo, onde as descobertas se darão nas pequenas experiências do cotidiano, rotineiras ou não. O personagem protagonista vai passando por situações que ajudam a ele enxergar o verdadeiro sentido da vida aos poucos e ele acaba concluindo que, diante do inevitável, o melhor mesmo é curtir enquanto se está por aqui e sorrir. Embora a coisa tenha ficado meio artificial, pois Lucky era muito sisudo e mal humorado na maioria das vezes, o filme acaba entregando uma mensagem otimista. Agora, para aproveitar bem a película, é imperativo que o espectador entre no ritmo dela, demasiadamente lento. Por isso, mesmo que os grandes detalhes aqui estão nas pequenas e singelas coisas que podem tornar a vida mais divertida e com sentido.
Nem é preciso dizer que esse é um filme de um ator só, com os demais sendo meros coadjuvantes. Harry Dean Stanton consegue trabalhar muito bem o seu personagem, um velho rabugento e mal humorado que passa pelo problema existencial. A gente conseguia sentir quando o cara estava deprimido, mesmo estando constantemente de mau humor. Foi bem legal ver a sua atuação e também lamentar a sua morte, ocorrida em 15 de setembro último, aos 91 anos. É a vida imitando a arte. Outra curiosidade aqui é a participação de David Lynch como ator no filme, um simpático idoso que está entristecido, pois perdeu seu… cágado (!).
Assim, “Lucky” pode até ter um ritmo lento, exigindo uma certa paciência do espectador, mas é não deixa de ser uma película interessante, pois tem um personagem protagonista bem construído, com um problema existencial e buscando um sentido para o pouco de vida que lhe resta. Mais um filme com uma boa questão para se refletir.