Mais um bom documentário brasileiro. “Cora Coralina, Todas as Vidas”, busca descrever com riqueza de detalhes a trajetória dessa grande figura brasileira e, sobretudo, goiana. Uma mulher nascida no fim do século retrasado, que teve uma vida relativamente simples, mas não menos emocionante. Uma mulher de letras, que se informava lendo tudo o que podia, algo que a transformou numa escritora simplesmente magistral. Classificada como poetisa, seus escritos eram altamente descritivos, o que fazem os especialistas da área tomá-la como uma transição entre a prosa e a poesia, entre o épico e o lírico.
O diretor Renato Barbieri conseguiu conduzir o filme de uma forma maravilhosa, onde ele, assim como a escritora, mescla gêneros. Se a gente tem a parte documentário do filme, com entrevistas de especialistas e até de filhos da poetisa, por outro lado, temos uma cara de filme de enredo, pois a personagem Cora é interpretada por várias atrizes como Tereza Seiblitz e Walderez de Barros, sendo essa parte tomada por grandes momentos de sensibilidade e beleza. O documentário e o filme de ficção dão as mãos na película para justamente traçar com muita eficiência a trajetória de Cora. Mas o documentário não fica apenas nesses dois pólos. Podemos testemunhar, também, figuras como Camila Màrdila, Beth Goulart e Zezé Motta declamando os textos da poetisa, com certeza a grande atração do filme, pois suas palavras conseguem descrever com precisão altamente racional tudo o que ela via e vivia, mas essa precisão é ornamentada por uma beleza toda singular do texto.
A descrição não é fria, ela sempre vem seguida de uma reflexão que toca emocionalmente a alma. Ainda, o filme traz como uma espécie de bônus imagens de arquivo com depoimentos da própria Cora Coralina sobre vários assuntos, indo desde coisas de sua vida pessoal (uma artista também em fazer doces de frutas que chegaram até ao Papa, no Vaticano), até reflexões mais básicas sobre a vida, como a importância de se fazer tudo (até arear uma panela) da melhor forma possível e com muito amor. Todos esses elementos interagem entre si e dão uma química poderosa a todo o filme, que se torna uma espécie de documento e testemunho dessa importante escritora brasileira muito celebrada, principalmente depois que Carlos Drummond de Andrade a descobre e escreve um artigo sobre ela em sua coluna de jornal e que não pode cair no esquecimento.
Assim, “Cora Coralina, Todas as Vidas” é um daqueles documentários fundamentais, sendo uma preciosa joia que deve ser preservada e guardada, pois fala da vida de uma pessoa com depoimentos e belas encenações. Um documentário que fala de uma figura ímpar da literatura, considerada por alguns a maior personalidade da História do Estado de Goiás. Um filme de cinema com “F” maiúsculo, que consegue transpirar afeto e emoção. Um programa imperdível.