Batata Movies – Cartas Para Um Ladrão de Livros. Crime Como Ideologia?

Cartaz do Filme

Um curioso documentário brasileiro passou em nossas telonas. “Cartas Para Um Ladrão De Livros” mostra a trajetória de Laessio Rodrigues Oliveira, que frequentou o noticiário policial como o maior ladrão de obras raras do país há alguns anos. O filme mostra como Laessio começou sua vida no crime, inicialmente pegando revistas antigas em bibliotecas que tinham a imagem de Carmen Miranda, cantora da qual Laessio era grande fã. Com o tempo, Laessio descobre que há uma espécie de mercado, onde pessoas de condição social muito alta compram obras raras de todo o tipo, mantendo-as escondidas, já que elas não podem ser expostas, pois o crime seria revelado. Assim, Laessio transformou seu pequeno “passatempo” numa espécie de profissão e ele se especializou nos itens que eram roubados, adquirindo grande cultura geral. Laessio também fala de que ele seria incapaz de furtar algo de uma pessoa, mas que tem prazer em furtar coisas do Estado, já que este não cumpre com suas obrigações para com o povo. Segundo o protagonista do documentário, um figurão que compra uma obra rara furtada pode restaurar a mesma enquanto que o Estado não tem condições de fazer o restauro. Quando esse figurão morre, a obra acaba voltando para o Estado. O documentário também explorou bastante a opção sexual de Laessio, declaradamente homossexual e enfatizou seus relacionamentos enquanto esteve confinado na prisão.

Laessio,

Preferências sexuais à parte, e por se tratar de um personagem altamente polêmico, mesmo que o documentário dê muita voz ao personagem protagonista (como não deveria deixar de ser), o diretor Carlos Juliano Barros também entrevistou pessoas “do outro lado” ou seja, a diretora do Arquivo da Cidade do Rio de Janeiro, Beatriz Kushnir, assim como funcionários do arquivo que estavam revoltados com os furtos praticados por Laessio, e o delegado da Polícia Federal que conduziu as investigações, para deixar bem claro qual é o prejuízo à sociedade de um crime dessa natureza. Outro detalhe bem curioso é como a única pessoa que se deu mal com todo o episódio foi o próprio Laessio, com os figurões que compravam suas obras permanecendo completamente anônimos e ainda ameaçando o diretor do documentário de processo na justiça caso tivessem seus nomes divulgados. Já Laessio foi preso várias vezes nos últimos anos.

No Real Gabinete Português de Leitura

De qualquer forma, se algumas das obras raras foram jamais recuperadas, outras, por sua vez, voltaram aos arquivos, mostrando que os esforços de investigação não somente da Polícia mas da própria diretora do Arquivo da Cidade do Rio de Janeiro, surtiram efeito. A gente só não pode se esquecer de que o furto de obras raras impossibilita que pesquisadores de nossa memória e de nosso passado entendam um pouco melhor a construção de nosso país e de nossa identidade e isso prejudica em muito a compreensão de nós mesmos.

Vida pessoal muito explorada no documentário…

Por isso, apesar da imagem aparente de glamourização de Laessio no documentário, não podemos nos esquecer de que este é um crime grave, pois lesa a nossa já combalida memória nacional. Mesmo assim, vale a pena dar uma olhada no documentário e o espectador deve tirar suas próprias conclusões.