E estreou “Tomb Raider, A Origem” em nossas telonas. E, antes que algum fã já estranhe o título do texto, quero dizer que essa falta de glamour mencionada aí em cima é vista como algo extremamente positivo. Toda vez que a gente fala dessa famosa personagem dos games, nos lembramos imediatamente da atuação de Angelina Jolie. Só que, pelo menos no primeiro filme, me pareceu que vimos uma personagem altamente glamourizada. Não tive a oportunidade de vê-la nos joguinhos eletrônicos, mas a Croft de Jolie parecia um tanto marrenta e muito segura de si, vícios que já vimos em inúmeros heróis masculinos por aí, não sendo isso algo positivo nem para um gênero, nem para outro, além de Jolie esbanjar muita sensualidade para a personagem. Assim, aquela Croft de tempos pretéritos parecia um tanto plana e sem graça, ainda mais quando falava com seus antigos amigos de longa data, dando ao espectador a impressão um tanto desagradável de estar caindo de para-quedas na história.
Pois bem. Com todas essas referências um tanto negativas sobre Lara Croft no cinema, vamos nós para assistir a “Tomb Raider” de 2018, agora com a Alicia Wikander, premiada com o Oscar. As comparações serão inevitáveis. E o que pode ser dito desse novo Tomb Raider, que busca a origem de nossa heroína? Este foi um filme que deixou impressões muito positivas. Li em algum lugar, nessa floresta selvagem que é a internet, gente sentando o malho em Wikander, dizendo que ela não era boazuda como Jolie, parecia masculinizada, etc. Pura maldade. Mesmo que Wikander não tenha os atributos físicos de Jolie, sua Lara Croft teve muito mais essência. Creio que, por se tratar de um filme de “origem”, Wikander acabou tendo alguma vantagem nisso, pois sua Croft foi muito mais bem construída.
E a face angelical da atriz contribuiu de forma positiva para a sua desglamourização. Ela não era uma heroína perfeita, acima do bem e do mal, totalmente artificial como a Croft de Jolie. Ela era muito mais humana, com suas virtudes, coragens, medos, traumas e mágoas. Uma menina levemente atrevida, mas também destemida e um pouco frágil. E Wikander consegue amarrar todas essas características muito bem, fazendo a gente comprar a personagem.
A história é relativamente simples. A moça, que sempre fora muito ligada ao pai desde cedo (interpretado por Dominic West) sofre com o sumiço dele depois que ele parte para uma ilha do Japão onde uma antiga rainha maligna foi sepultada. Com espírito arqueólogo, Richard Croft vai em busca do corpo dessa rainha. E desaparece. A moça, que precisa assinar uns papéis reconhecendo a morte do pai para assumir os negócios das empresas da família, se recusa a fazê-lo e começa a seguir uma série de pistas que Richard deixou. Ela consegue chegar à ilha depois de muitas saias justas. E aí…
Esse é um daqueles filmes de ação cheios de referências. Há muita porrada, bomba e tiro, há os mistérios arqueológicos a la Indiana Jones, há a cumplicidade entre pai e filha, há o vilão canastrão. Nada de muito novo e fora do convencional. Somente a presença de Wikander, que não temos o hábito de ver em produções desse tipo e a grande curiosidade de como ela encararia tal papel. De qualquer forma, é legal a gente ver um filme de aventura, pelas armadilhas das tumbas, pelos enigmas de antigas inscrições, pelo embate entre fé e razão.
Dessa forma, “Tomb Raider, A Origem” é um filme que vale a pena ser visto, pois ele desmistifica o glamour montado em cima da personagem dos games quando da película feita por Angelina Jolie. Vikander nos dá uma Croft muito mais humana, sem perder o pique da ação. E é, também, um filme divertido, apesar de não apresentar nada de muito novo. Não deixe de assistir.