O diretor Eduardo Escorel traz par nós um documentário realizado no já longínquo ano de 2016. “Imagens do Estado Novo 1937-1945” é um importante documento e fonte histórica de nosso país, pois traz, na materialidade de suas imagens, muito do que aconteceu no período de nossa História que ficou conhecido como “Ditadura do Estado Novo”. Vindo desde a Revolução de 1930 e chegando até ao suicídio de Vargas, o documentário não deixou de ser fiel ao seu recorte, enfatizando mais o período 1937-1945. Além de muito material oficial do governo e do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), temos imagens também de particulares e de filmes como “O Descobrimento do Brasil”, de Humberto Mauro. Todas essas imagens são cimentadas e significadas por uma narração que tem a sua visão e interpretação dos fatos, que nem sempre pode agradar a gregos e troianos. De qualquer forma, sabemos que a História possui múltiplas interpretações do passado e que todas essas interpretações têm um local de fala, ou seja, não são neutras ideologicamente, como nada o é (até a suposta postura de ser neutro ideologicamente é uma postura ideológica). Como professor de História, consegui identificar vários elementos factuais que são trabalhados em sala de aula como, por exemplo, o Plano Cohen, que foi um complô orquestrado pelo governo ao denunciar uma suposta tentativa comunista de golpe, totalmente falsa, para justificar um golpe de estado dado pelo próprio Vargas para se perpetuar no poder.
Vimos, também, a campanha queremista, onde era pedida uma Assembleia Constituinte e a permanência de Vargas no poder. Ou então as pressões militares para que Vargas saísse do governo após a Segunda Guerra Mundial. Mas o grande trunfo é que os filmes também mostram o cotidiano daqueles fatos, que eram cimentados por muitos eventos de curta duração praticamente despercebidos hoje, como um acidente de carro que manteve Vargas no hospital por alguns meses, fazendo com que sua ausência deteriorasse sua posição política num momento decisivo. Ou as visitas de Roosevelt ao Brasil nas tentativas de dissuadir o Estado Novo a continuar namorando com o Eixo.
Ou ainda, imagens (coloridas) dos eventos cívicos dos quais Vargas participava no Estádio de São Januário. Imagens de pessoas influentes do governo como Osvaldo Aranha ou Gustavo Capanema, também se faziam presentes. Toda essa materialidade de imagens trazem aqueles distantes dias até nós de uma forma muito vívida e ajudam a gente a compreender melhor todo o contexto daquela época, mesmo que sejam imagens lidas por uma versão ideologizada.
Aliás, essa é a grande questão colocada ao início da película: será que é possível fazer uma reconstrução histórica do período com um acervo de imagens? Nesse caso foi possível, mesmo que essa seja apenas uma das leituras possíveis de passado que podemos assumir. As imagens têm um peso tão determinante nesse documentário que ele tem a duração de 227 minutos, ou seja, quase quatro horas de duração, sendo o filme dividido em duas partes com um intervalinho de dez minutos. Até a exibição do filme se processa como antigamente.
Assim, “Imagens do Estado Novo 1937-1945” é uma grande relíquia de nosso cinema e uma espécie de material obrigatório para historiadores. Acima de um filme, esse documentário pode ser considerado uma verdadeira fonte histórica, pela força de suas imagens e pela leitura delas. Programa imperdível, sendo aquele tipo de filmes que já falamos aqui um monte de vezes, ou seja, aquele filme para ver, ter e guardar.