Um filme muito singelo e fofo em nossas telonas. “Tudo Que Quero” é, antes de tudo, uma película muito humana, muito tocante. Em segundo lugar, é um prato cheio para qualquer trekker, apinhado de referências que somente os fãs de “Jornada nas Estrelas” vão pescar logo de cara. Em terceiro lugar, temos atrizes do quilate de Dakota Fanning (sim, ela cresceu desde “Guerra dos Mundos”!!!), Toni Collette (a inesquecível e sempre amada Muriel) e Alice Eve (a Dra. Carol Marcus de… “Jornada nas Estrelas, Além da Escuridão”!!!). Com esse curto preâmbulo, já dá para perceber que o filme promete.
Mas, no que consiste a história da película? Temos aqui a trajetória de Wendy (interpretada por Fanning), uma moça na casa de seus 21 anos e que sofre de autismo. Ela está internada numa clínica sob tratamento ministrado por Scottie (interpretada por Collette). Wendy obviamente tem dificuldades de relacionamento e se fecha no seu mundinho, onde “Jornada nas Estrelas” tem uma parcela muito grande de sua atenção. Ao descobrir que haverá um concurso de roteiros de “Jornada nas Estrelas” para os fãs, a moça decide escrever sua história. Mas um imprevisto a impedirá de colocar o roteiro no correio para participar do concurso. E aí, com a cara, a coragem e seu cachorrinho de estimação, Wendy parte sozinha para Los Angeles com o objetivo de entregar o roteiro pessoalmente para a direção do concurso. É desnecessário dizer que essa viagem será feita com muitos percalços e a mocinha terá que se descobrir para superar todas as dificuldades.
Esse é um filme em que Fanning rouba a cena quase que completamente. A jovem atriz convence muito em sua interpretação de autista, robótica e repetitiva em alguns momentos, e com explosões paroxistas de desespero em outros. Sua beleza de mulher feita não apagou sua beleza infantil angelical, constituindo uma boa mistura estética. Mas o seu talento não se ancora em sua beleza, sendo espontâneo acima de tudo, fazendo com que a personagem conquiste o espectador desde o primeiro momento. A gente compra a ideia da menina, a gente torce por ela e sofre com ela. É como se a atuação de Fanning nos impregnasse totalmente e nos prendesse ao mundinho de sua personagem. O misto de obstinação e de fragilidade de Wendy nos apaixona fortemente.
Quanto às atuações de Collette e Eve, ambas foram bem. A última convenceu com o sofrimento de longa data provocado pela doença da irmã caçula. Já a primeira teve o paradoxo de ser uma terapeuta compreensiva e uma mãe relativamente opressora.
As referências ao Universo Trekker são uma atração à parte, que divertem demais os iniciados e, infelizmente, a ameaça de spoilers não me permite dizer. Digo, inclusive, que o grande momento do filme é uma referência ao Universo Trekker, que provoca uma situação muito terna e fofa, de fazer qualquer trekker ir às lágrimas (confesso que devo estar carregando nas tintas, pois me identifiquei demais com a personagem). De qualquer forma, o roteiro é quase que um personagem à parte na película e que ajuda muito a se entender a psique de Wendy e o seu relacionamento com sua irmã, Audrey (interpretada por Eve). Só para dar uma palhinha bem rápida, a história se passa num planeta árido e desértico, com o Capitão Kirk à beira da morte e Spock, seu primeiro oficial e amigo, tentando salvá-lo. Esse enredo inicial tem muita coisa a ver com a vida e os sentimentos de nossa protagonista e fica bem claro como a confecção do roteiro funcionou como uma espécie de terapia para a moça.
Dessa forma, “Tudo Que Quero” é um filme, sobretudo, para trekkers, mas não apenas para trekkers. Se os fãs de “Jornada nas Estrelas” vão se deliciar com as referências, esse também é um apaixonante filme de atrizes, com um destaque todo especial para Dakota Fanning, que nos arrebata do primeiro ao último minuto. Programa imperdível.