“Lion, Uma Jornada Para Casa”, foi um filme que concorreu ao Oscar no ano passado (mas não levou nenhum). Dirigido por Gath Davis, ele concorreu, na época, a seis estatuetas (melhor filme, ator coadjuvante para Dev Patel, atriz coadjuvante para Nicole Kidman, trilha sonora, roteiro adaptado e fotografia). Apesar de não premiada, essa película nos traz boas recordações. Esse é mais um daqueles filmes baseados numa história real, que deixam as pessoas maravilhadas de como a vida imita a arte. Uma história não muito simples que amplifica aos nossos olhos uma tragédia pessoal que precisa de um desfecho. Lembrando sempre que, como é um filme de mais longa data, tomarei a liberdade de usar spoilers.
Vemos aqui a trajetória do pequeno Saroo (interpretado por Dev Patel em sua fase adulta), um menininho que vive no interior da Índia com seu irmão mais velho, sua mãe e sua irmãzinha caçula. Os dois irmãos vivem de fazer pequenos biscates na rua, trazendo sempre um pouco de leite ou algumas frutas para a mãe, que trata a todos com muito carinho. É o ano de 1986 e a pequena família vive em situação de miséria extrema. Um belo dia, Saroo e seu irmão vão para uma estação de trem de madrugada para procurar algum biscate. O irmão mais velho deixa Saroo na estação, não sem antes pedir ao garotinho que fique onde está. Mas o irmão demorou para voltar e Saroo, ao procurá-lo, acabou entrando num trem vazio e adormeceu. O problema é que o trem deu a partida e andou por muito tempo até chegar a Calcutá, muito longe da terra natal de Saroo. Ele vai viver como menino de rua, até que vai parar numa espécie de reformatório. Dali, ele irá para a Austrália, onde foi adotado por um casal. Os anos passaram e Saroo cresceu, tornando-se um rapaz que queria fazer hotelaria. Mas, ao entrar em contato com alguns colegas de origem indiana, Saroo ficou com vontade de procurar sua família original na Índia, tarefa um tanto difícil, já que ele tinha uma lembrança apenas muito vaga do vilarejo em que morava e nem sabia onde ele ficava localizado na Índia.
Esse é um filme que se apoia numa bela história. A saga de Saroo para encontrar sua família original tem lances muito dramáticos, despertando uma série de dores que atingiam principalmente o protagonista, mas também todos os que estavam à sua volta. Pode-se dizer que esse momento mais angustiante tornou a história também um pouco morosa, e assim sentimos uma relativa descontinuidade no roteiro (as sequências da infância de Saroo eram mais instigantes num ritmo rápido, e o desfecho foi emocionalmente muito intenso; no meio de tudo isso, uma parte lenta e depressiva, que foi a busca).
O filme também se ampara no bom elenco. Dev Patel merece a indicação a melhor ator coadjuvante, apesar de ser o protagonista principal do filme (estratégias da Academia), mostrando que não é mais um carinha simpático que apareceu em Hollywood.
Ele conseguiu trabalhar muito bem os sentimentos bem díspares de seu personagem, indo de uma amabilidade muito grande, passando a uma angústia profunda, com pitadas de uma melancolia inerte. Agora, a grande surpresa foi ver Nicole Kidman no papel da mãe adotiva de Saroo, uma distinta senhora idealista que buscava dar um lar à crianças que sofriam neste mundo. Podemos dizer que a química entre Kidman e Patel foi perfeita neste relacionamento entre mãe e filho, sendo que as sequências em que os dois apareciam contracenando juntos eram os grandes presentes que esse filme nos dava. E não podemos nos esquecer da presença de Rooney Mara, que fazia a namorada de Saroo, uma personagem que acompanhou de perto as angústias do namorado.
Assim, “Lion, Uma Jornada Para Casa” é um bom filme que apostou numa história real, inserindo forte carga dramática, um modelo que, volta e meia se repete, mas que aqui foi bem trabalhado. Esse também é um filme de ator, onde vamos alegres ao cinema para vermos as atuações de Dev Patel e Nicole Kidman. Vale a pena procurar o DVD ou no Youtube.