Dentro de nossas análises dos filmes da mostra “Nouvelle Vague Soviética” na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, falemos hoje de “Escravas do Amor”. Essa película, dirigida por Nikita Mikhalkov, realizada em 1976, com duração de 96 minutos, aborda mais uma vez o tema da guerra civil entre os russos brancos e os russos vermelhos, ocorrida entre 1918 e 1921. Como já foi dito nas resenhas dos filmes “A Comissária” e “O Início De Uma Era Desconhecida”, após a Revolução Socialista de Outubro de 1917 e da subida dos bolcheviques ao poder (os russos vermelhos), os russos adeptos do capitalismo e do Czar deposto Nicolau II (ou seja, os russos brancos) se uniram a uma força estrangeira de quinze países capitalistas que temiam que o socialismo avançasse entre seus trabalhadores e ameaçasse a estabilidade de seus governos, deflagrando a Guerra Civil de três anos contra a Rússia, terminando coma vitória dos russos vermelhos mas mergulhando o país numa profunda crise econômica. Houve até casos de canibalismo em virtude da falta de comida, algo com o qual os países capitalistas fizeram troça, dizendo que “comunista come criancinha”. A situação piorou mais ainda depois que os países capitalistas, derrotados pela guerra, fizeram um bloqueio econômico à Rússia que teve o nome de péssimo gosto de “cordão sanitário”.
Do que consiste a história do filme? Estamos no ano de 1920, numa pequena cidade do sul da Rússia sob o controle do Exército Branco. Uma equipe de filmagem realiza uma película intitulada “A Escrava do Amor”, estrelada pela estrela Olga Nikolayevna Voznesenskaya (interpretada pela belíssima Elena Solovey). A moça é cheia de trejeitos e manias, como toda grande estrela tem, trazendo momentos engraçados para a película. Mas os horrores da guerra civil estão mais próximos do que se imagina e atropelarão as filmagens com muita força, transformando a vida de todos que estão ali.
Esse é um filme que tem características muito bem definidas. Em primeiro lugar, a película prima por um senso estético muito bem elaborado e sofisticado. É uma película com um caleidoscópio de lindas imagens, onde locações, figurino e o belo semblante de Elena Solovey ditam as regras dessa apologia à beleza. Em segundo lugar, temos uma comédia levinha, que torna a película muito agradável de se assistir em cerca de 80% de sua duração. O filme também mostra detalhes das filmagens de uma película muda, o que ajuda a gente a entender como era a execução de um tipo de filmagem que hoje em dia não mais ocorre. Mas a grande surpresa está reservada mais ao final. A violência dos inimigos russos brancos dão um desfecho altamente sombrio e desesperançoso a um filme que primava por um capricho um tanto burguês em boa parte de sua execução. A própria Olga, em seus ataques de depressão, se dizia arrependida em fazer um filme considerado um tanto fútil numa época tão turbulenta quanto a guerra civil.
Assim, “A Escrava do Amor” consegue ser um filme cheio de alternativas, começando por uma estética altamente refinada, passando por uma comédia leve e agradável, indo até um desfecho sombrio e trágico. Uma curiosidade interessante na mostra “Nouvelle Vague Soviética” na Caixa Cultural do Rio de Janeiro. Fiquem agora com o desfecho desse filme, com legendas em inglês. O vídeo está bloqueado pela Mosfilm para ser exibido aqui. Para assiti-lo, clique na imagem e depois no link “assista no youtube”.