Ainda dentro de nossas análises dos filmes da Mostra “Nouvelle Vague Soviética”, realizada na Caixa Cultural do Rio de Janeiro em fins de maio e começo de junho, vamos falar hoje do bom filme “A Ascensão”, realizado por Larisa Sheptiko (a mesma diretora de “Roda Elétrica”, um filme que, junto com “Anjo”, de Andrei Smirnov, compõe o filme “O Início de Uma Era Desconhecida”, analisado aqui) no ano de 1977 (dois anos antes da morte da diretora) e com duração de 111 minutos. Esse é mais um filme que aborda a temática da Segunda Guerra Mundial.
A história fala de dois soldados guerrilheiros Partisans, Sotnikov (interpretado por Boris Plotnikov) e Rybak (interpretado por Vladimir Gostyukhin), que enfrentam o frio e os nazistas para arranjar comida para suas tropas. Mas eles acabam parando na casa de uma mãe de três crianças e sendo descobertos pelos nazistas por lá, sendo todos presos, com exceção das crianças. Como alguns soldados nazistas foram assassinados, eles acabaram sendo incriminados e interrogados. É nessa hora que vamos descobrir quem tem a coragem para dar a vida pela causa que luta e quem rapidamente se entrega pensando apenas em salvar sua vida.
É um filme sem final feliz. Um filme que mostra toda a imolação do povo russo, o que mais teve perdas com as duas guerras mundiais. E um filme que faz a gente odiar nazistas, pois eles espezinham seus prisioneiros o tempo todo, não havendo qualquer vislumbre de esperança à vista. O destino de nossos protagonistas já está selado e, dessa vez, nem a cavalaria (nem o Exército Vermelho) vai chegar. O filme também aborda a questão do colaboracionismo, onde um antigo morador da vila, com estudo universitário e que parece ter o rei na barriga, interroga os prisioneiros e se traveste de funcionário do Partido Nazista.
Cabe ressaltar aqui a excelente atuação de Anatoliy Solonitsyn, que interpretou esse funcionário. Sua fronte gélida era assustadora e deu bastante impacto dramático à película, sobretudo no interrogatório do soldado Sotnikov, esse sim eleito o personagem mais nobre do filme, que não esmoreceu por nenhum momento e resistiu à sessão de torturas para não entregar o seu destacamento. Já com Rybak aconteceu exatamente o oposto, rapidamente colaborando com os nazistas para salvar a sua vida, mas carregando o fardo de Judas por sua covardia, que o colocava numa espécie de letargia, totalmente paralisado pelo medo. Sei não, o filme deixou bem clara a condenação desse personagem, mas fica aqui a pergunta: o que faríamos em seu lugar? Aguentaríamos a pressão da tortura e do medo de forma tão nobre como Sotnikov?
Dá mesmo para condenar Rybak de forma tão sumária? Em tempos de guerra e na pedagogia da obediência, talvez sim. Mas, e em outros parâmetros? Difícil encontrar uma resposta definitiva. Sotnikov parece transcender a tudo em sua nobreza, mas talvez a entrega de Rybak não possa ser condenada sumariamente em qualquer circunstância.
Polêmicas à parte, “A Ascensão” é mais um grande filme da Mostra “Nouvelle Vague Soviética”, organizada na Caixa Cultural do Rio de Janeiro. Mais um filme sobre Segunda Guerra Mundial, desesperançoso toda a vida, mas que ensina o valor de sucumbir por seus ideais. Mais um filme que traz um convite à reflexão nessa surpreendente mostra. Vamos colocar abaixo dois momentos do filme: a cena do interrogatório (onde podemos ver as grandes atuações) e a cena final da execução. No primeiro vídeo, você pode colocar o filme com legendas em português. Clique na engrenagem do canto inferior direito, selecione a opção traduzir automaticamente e escolha português. Como a Mosfilm bloqueia a transmissão do vídeo aqui, clique na opção Assista no Youtube.
https://www.youtube.com/watch?v=5klDFscj420