A Marvel apresenta mais um de seus filmes. Depois do impacto provocado por “Vingadores: Guerra Infinita”, chega “Homem Formiga e a Vespa” para manter o bom nível das películas, além de, talvez, lançar alguma luz sobre todo o imbróglio do filme anterior, onde Thanos pintou e bordou, saindo triunfante. Dá para perceber o tamanho da responsabilidade que o micro (ou quântico?) herói tem sobre suas costas. E o filme, correspondeu? Para isso, teremos, como sempre, que lançar mão de spoilers.
Do que consiste a história? Scott Lang (interpretado por Paul Rudd) cumpre prisão domiciliar depois de ter ajudado o Capitão América em “Guerra Civil”. Só que logo ele será “solto” por Hope Van Dyne (interpretada por Evangeline Lily), pois a mesma tenta buscar tirar sua mãe, Janet (interpretada por Michelle Pfeiffer) do mundo quântico. Scott teve sonhos com a mãe de Hope e enviou uma mensagem de texto para o Dr. Hank Pym (interpretado por Michael Douglas), marido de Janet e pai de Hope.
O cientista estava elaborando uma espécie de túnel quântico para resgatar a esposa e tentou colocá-lo em funcionamento, no que não foi bem sucedido. Logo após esse evento, Scott começou a ter esses sonhos. Hank acredita então que Scott e Janet podem estar conectados por uma espécie de emaranhamento quântico. O mais curioso é que o tal túnel foi construído dentro de um prédio que era devidamente “encolhido” pelo Dr. Pym e transportado para lá e para cá. Tudo parecia ir às mil maravilhas, não fosse o fato de que Ava, uma vítima de uma experiência quântica mal sucedida (interpretada por Hannah John-Kamen) precisa fazer uso desse túnel quântico para salvar sua vida (ela tinha sua estrutura molecular destruída e reconstruída permanentemente e isso a matava lentamente). O problema é que esse uso poderia matar Janet. Começa, então, uma disputa pelo túnel quântico, que ainda conta com a presença de um empresário inescrupuloso, Sonny Burch (interpretado por Walton Goggins), que funciona mais como um alivio cômico (como se o filme precisasse de mais algum) do que como um vilão.
O filme segue a tendência do primeiro, que é mostrar uma veia cômica mais forte do que habitualmente se vê nos filmes da Marvel, tal como faz “Guardiões da Galáxia”. A situação onde heróis e objetos de todos os tipos são aumentados e diminuídos repentinamente trazem situações muito engraçadas, o que é a grande atração do filme, sem falar no carisma de Paul Rudd, que consegue ser um protagonista muito cômico. Interessante, também, é o uso de termos de física quântica no filme, onde é citado o emaranhamento quântico, ou a “ação fantasmagórica à distância” mencionada por Albert Einstein. Para compreendermos melhor esse termo, temos que citar aqui o Princípio da Incerteza de Werner Heisenberg. Quando estudamos o movimento de uma partícula, precisamos saber simultaneamente de sua velocidade e posição. O problema é que não podemos medir essas duas grandezas ao mesmo tempo, por limitações impostas pela própria natureza.
Assim, para cada posição que medimos, temos infinitas velocidades possíveis e vice-versa. Isso leva à conclusão de que o Universo que observamos é apenas um de muitos possíveis. Como os cientistas procuram fazer uma determinação simultânea de posição e velocidade de uma partícula? Eles pegam duas partículas iguais, colocando-as em movimento e em sentidos opostos, e medem a posição de uma e a velocidade de outra. Dessa forma, para que possamos estudar o movimento da partícula, elas precisam ter alguma ligação entre si, mesmo que estejam separadas. É o tal emaranhamento quântico. No filme, Scott e Janet estão, digamos, “emaranhados” (no bom sentido, é claro, segundo o próprio Scott).
É curioso também notar que o filme não tem propriamente um antagonista de peso como foi Thanos em “Guerra Infinita”. Aqui, Ava (que é também conhecida como “Fantasma”) é uma moça revoltada por ter sofrido com as experiências quânticas, e é tratada mais como uma vítima do que uma vilã. Há, inclusive, a boa presença de Laurence Fishburne no elenco, como um cientista que é um antigo desafeto do Dr. Pym e que tenta salvar a moça do mal que a acomete. É claro que, até a antagonista se entender com os personagens protagonistas, muitas cenas de ação irão ocorrer, com Fantasma aparecendo e desaparecendo aqui e ali, ao bom estilo de uma onda de probabilidade quântica.
Já Burch, o empresário inescrupuloso, funciona muito mais como uma piada do que como um vilão, sendo um declarado alívio cômico, além de sua atuação ser para lá de sofrível. De qualquer forma, o elenco tem bons medalhões. Além da presença já citada de Fishburne, temos Michelle Pfeiffer, retornando a um blockbuster e Michael Douglas. Nomes desse quilate sempre são bem vindos a filmes de super-heróis. E não podemos nos esquecer que o CGI trabalhou aqui nos flashbacks, rejuvenescendo Douglas, Pfeiffer e Fishburne.
O filme tem duas cenas pós-créditos. A última, depois de todos os créditos passados, é um alivio cômico. Mas a primeira é um pouco mais sinistra, pois nos lembra dos estragos provocados por Thanos e nos ajuda a entender por que o Homem Formiga não desmanchou como outros super-heróis. Mas vou parar com os spoilers por aqui.
Assim, “Homem Formiga e a Vespa” é uma boa continuação do minúsculo herói e sua nova parceira e, se não traz uma luz no fim do túnel para a querela de Thanos em “Guerra Infinita”, estabelece uma ponte com aquele arco. Fica agora a expectativa de se a gente verá o Homem Formiga trabalhando em conjunto com a Capitã Marvel para salvar o Universo das garras de Thanos. Vamos aguardar os próximos capítulos.