Batata Movies – Hannah. Um Doloroso Choque De Realidade.

Cartaz do Filme

Um filme letárgico em nossas telonas. “Hannah” traz de volta a diva Charlotte Rampling num papel que lhe rendeu o prêmio de melhor atriz em Veneza no ano passado. Essa película, dirigida por Andrea Pallaoro, é arrebatadora no sentido de que transforma o cinema num violento choque de realidade. A sétima arte costuma ser ilusória e fantasiosa. Quando vemos a arte imitando a vida, surge uma sensação de certo desconforto, que é o que acontece aqui da forma mais intensa possível.

Charlotte Rampling em atuação magistral…

Vemos a história de um casal idoso que vai se separar, já que o marido irá para a cadeia. Não fica muito claro porque isso acontece. A esposa, Hannah (interpretada por Rampling), passa então a ter uma rotina altamente opressora marcada por muita solidão. Mesmo tendo uma vida muito ativa, a distinta senhora não consegue se livrar do impacto emocional que tal rotina e tal solidão impõem a ela. E aí, o filme é todo um rosário de movimentos e atos de Hannah que em nada diminuem seu sofrimento. Para piorar a situação, seu filho não quer saber dela, e o marido não quer saber do filho, ficando implícito que o pai está na cadeia por denúncia do próprio filho, sendo que essa história nunca fica bem contada para o espectador.

É um filme totalmente sem esperança. E muito maçante, pois acompanhamos o cotidiano de Hannah, onde pouca coisa de interessante acontece. Como ela está sozinha em grande parte do tempo, o filme passa por vários momentos de uma total ausência de diálogo, onde vemos Rampling fazendo toda uma sucessão de movimentos banais como trocar de roupa (há cenas de nudismo com ela) ou chamar o encanador para consertar um vazamento que vem do apartamento de cima. Nos poucos momentos em que ela tenta quebrar com a rotina, a senhora dá com os burros n’água como, por exemplo, quando ela prepara um bolo de aniversário para o neto, sendo escorraçada pelo próprio filho, o que lhe rende uma posterior explosão de choro. No mais, resta a melancolia do dia a dia e uma certa angústia que vai nos pregar uma peça no desfecho. Mais um choque de realidade no espectador, que sai da sala totalmente perplexo e desalentado com o que viu.

Uma rotina cheia de banalidades e melancolias…

Com relação ao prêmio dado a Rampling pela interpretação desse papel, temos que dizer que foi merecido, pois ela consegue tirar leite de pedra ao tratar de forma bem dramática o sofrimento da personagem tendo como campo de atuação um rosário de situações muito banais. Fora o paroxismo da explosão de choro, Rampling sempre levava consigo uma expressão serena, com um leve toque de angústia, o que fazia a gente sentir que algo ia errado atrás daquele semblante desgastado pelas mágoas que sofria. É o tipo do filme que se sustenta totalmente na atuação de sua protagonista, atuação essa muito difícil, pois a atriz quase não falava e tinha que demonstrar seu leve desespero na medida certa. Confesso que nem me preocupei muito com a sinopse ao ver o nome da diva nos créditos.

Um marido que irá para a prisão…

Assim, “Hannah” pode ser considerado um filme um tanto mediano com a interpretação de uma grande atriz. A opressão das situações banais aliada a solidão da personagem principal dão o tom da película que, por sua vez, dá pouco espaço para a atriz mostrar seu talento em toda a sua plenitude. Mesmo assim, Rampling deu conta do recado, o que lhe rendeu o prêmio em Veneza, o que confirma, mais uma vez, o seu grande talento. Se você gosta de Charlotte Rampling, vá ao cinema, esqueça do filme e foque na atuação da grande atriz. É o que vale aqui.

https://www.youtube.com/watch?v=JfaGcLTqakI