Mais um filme francês em nossas telonas. “Custódia”, escrito e dirigido por Xavier Legrand, é o que podemos chamar de filme tenso. Um filme que, novamente, pode ser entendido como um choque de realidade, mesmo com a carga de inusitado que vemos mais ao final. Um filme que mostra como as decisões de um sistema judiciário podem afetar definitivamente a vida das pessoas e que essas decisões, portanto, devem ser tomadas com muito cuidado.
O filme começa com uma audiência que vai decidir a custódia de um menor de idade, Julien (interpretado por Thomas Gioria), disputada entre a mãe, Mirian Besson (interpretada por Léa Drucker) e Antoine Besson (interpretado por Denis Menochét). De cara, a gente já nota que há algo de errado com o pai, pois Julien não quer ficar com ele. Os advogados de ambas as partes expõem as suas argumentações em favor de seus clientes e a juíza diz que irá tomar uma decisão futuramente, comunicando aos pais. E ficou acertado que Antoine terá direito a passar fins de semana alternados com o menino. Quando isso acontece, a relação dos dois é extremamente tensa, chegando até a um ponto de beligerância, pois o pai pressiona o menino a dizer como está a situação na sua casa, se a mãe tem um namorado, etc. Fica bem claro, nesse momento, que Antoine é uma pessoa de índole violenta, o que justifica o medo de Julien e as tentativas de Mirian de se afastar de Antoine, chegando a trocar de endereço. É claro que veremos uma típica escalada de violência, com Antoine fechando cada vez mais o cerco ao seu filho e a sua esposa. E o final disso não pode acabar bem. Mas, paremos aqui com os spoilers.
Esse é o típico caso de filme que faz o cinema cumprir a sua função social de denúncia, pois casos como esses nós vemos aos montes por aí e, principalmente aqui no Brasil, eles costumam terminar em homicídios onde geralmente a mulher é a vítima. Mas o ponto que mais chama a atenção aqui é que a película faz uma espécie de crítica velada ao sistema judicial, pois fica bem claro que a decisão da justiça de dar a custódia de Julien ao pai em fins de semana alternados foi mais do que equivocada, até porque foi marcante o medo que o menino tinha do pai. Ficou parecendo implicitamente, pela decisão que a justiça tomou, que a mãe estava virando o filho contra o pai, quando o medo da mãe e do filho eram mais do que legítimos, numa prova de que a justiça tem que ser muito cautelosa ao tomar tais decisões.
Quanto aos atores, o destaque deve ser todo dado a Denis Menochét, por interpretar um pai psicopata e odioso. Seu porte físico avantajado até ajudou a compor o personagem, mas seu talento é que faz a gente odiá-lo a toda prova, dando-lhe a característica de que podia ser uma bomba que explodiria a qualquer momento. Já o jovem Thomas Gioia foi exatamente o contraponto à rudeza de Menochét, interpretando um filho completamente subjugado nas mãos de um pai desequilibrado, sem ter muito o que fazer para sair daquela situação. Léa Drucker não participou tanto do filme como os outros dois protagonistas, mas também não comprometeu na hora que apareceu, convencendo como uma esposa totalmente amedrontada, que só teve coragem de encarar o marido furioso uma única vez, que foi na festa de aniversário da filha.
Assim, se “Custódia” parece, num primeiro momento, inspirado numa história real particular, ainda assim pode-se dizer que o filme é inspirado em várias histórias reais por aí, denunciando tal situação. A grande virtude da película é alertar para a importância de não se errar numa decisão judicial, pois vidas de pessoas estão em jogo por causa disso, o que faz desse filme algo essencial para ser mostrado e visto pelo maior número possível de espectadores.