Um filme muito esperado. “A Esposa” traz Glenn Close em grande forma, tanto que ela conseguiu ganhar o Globo de Ouro de Melhor Atriz Dramática com esse filme e provavelmente receberá uma indicação ao Oscar vindo muito forte para a premiação. Mais uma película que tem abordado a questão da mulher e da busca por seu espaço numa sociedade ainda muito machista tanto aqui quanto lá fora. Vamos precisar de alguns spoilers aqui.
O plot fala do casal Joe Castleman (interpretado por Jonathan Pryce) e Joan Castleman (interpretada por Glenn Close). O marido é um grande escritor que recebe o Prêmio Nobel, com a esposa assumindo o passivo papel de fiel escudeira do cônjuge. Mas há algo de estranho no ar. Eles têm um filho, David (interpretado por Max Irons), que também investe na carreira de escritor, sendo visto com um certo desdém pelo seu pai que só se preocupa em ostentar seus sucessos. Obviamente isso produzirá um clima muito pesado na família, que irá explodir justamente na ocasião da premiação. Para piorar a situação, a família é perseguida por Nathaniel Bone (interpretado por Christian Slater), um escritor que quer produzir uma biografia não autorizada sobre Joe e que desconfia de algo nebuloso no passado do casal. Essa coisa nebulosa (alerta de spoiler!!!) é simplesmente o fato de que Joan é a verdadeira autora dos livros atribuídos ao marido e não aguenta mais ficar naquela situação humilhante.
Esse plot é muito semelhante à “Colette”, já resenhado aqui. Entretanto, há duas diferenças básicas. Enquanto que “Colette” é baseado numa história real, “A Esposa” é baseada no romance de Meg Wolitzer. Talvez por isso mesmo, “A Esposa”, por ser uma ficção, é bem mais forte e ácido, onde vemos sérios conflitos entre esposa e marido e entre marido e filho. Já “Colette”, por sua vez, é bem mais leve, até pelo espírito transgressor da escritora, que viveu num momento tão conservador que era a virada do século XIX para o XX, onde ela teve uma certa liberdade, dada pelo marido, que se preocupava mais com seu empreendimento literário do que colocar grilhões na esposa. Já em “A Esposa”, o casamento era muito mais tradicional, onde Joan se sentia completamente aprisionada e humilhada, com o detalhe de que via seu filho também sofrendo com toda a farsa.
Agora, o que falar do elenco? Glenn Close, obviamente, estava maravilhosa. Seu olhar distante e penetrante quando ela via o marido ser laureado dói até agora. Mas seu grande momento foi o olhar de raiva, ódio mesmo, quando ela era agraciada pelo marido no discurso de agradecimento. Dava medo, mas doía demais também, atingindo o espectador em cheio. O Globo de Ouro foi um prêmio mais que merecido e não seria nenhum exagero ela ser premiada também com o Oscar, embora a gente ainda precise ver quais serão as outras candidatas. A atuação de Jonathan Pryce também foi primorosa. Ele fez um perfeito babaca que dava muita raiva na gente, embora fosse carinhoso com a esposa em alguns momentos, despertando sentimentos contraditórios típicos numa relação mais longeva. Max Irons teve um personagem um tanto fraco, pois só demonstrava mágoa com o passado e com o pai e mais nada. Plano demais, podendo ser um pouco mais complexo para que o ator tivesse mais oportunidades. Já Slater consegue convencer como um oportunista cafajeste e poderia ter sido mais bem aproveitado.
Assim, podemos falar que “A Esposa”, fora um problema ou outro (um desfecho talvez exagerado) é um grande filme que prima por trazer mais uma vez a reflexão da situação da mulher na atualidade, chancelado pela grande presença de Glenn Close. Uma história forte, ácida e conflituosa que dá um forte grito contra o machismo. Mais um filme essencial que merece ser prestigiado, assim como “Colette”.