Um filme no mínimo curioso. “A Vida em Si” trabalha simultaneamente várias histórias que, aparentemente parecem não ter nada em comum a princípio, mas que vão se encadeando aos poucos, tornando coesa uma narrativa inicialmente fragmentada. E a graça toda da coisa estão nos pontos nodais onde essa narrativa vai se construindo.
O plot conta quatro histórias de duas gerações de duas famílias. Começamos com o casal Will e Abby (interpretados, respectivamente, por Oscar Isaac e Olivia Wilde), nos Estados Unidos. Uma tragédia manchará a vida desse casal, que deixará uma filha, Dylan (interpretada por Olivia Cooke), uma menina que, por ser marcada pelo trauma da tragédia, é altamente pessimista e depressiva. Mas há ainda mais uma família que, muito longe dali, mais especificamente na Espanha, também irá se envolver com o núcleo familiar americano. Numa fazenda de oliveiras, o patrão, Mr. Saccione (interpretado por Antonio Banderas) fica maravilhado com um de seus empregados, Javier (interpretado por Sérgio Peris-Mancheta), pois ele colhe as azeitonas com a mão para não destruí-las. Mas Javier é arisco e não quer estreitar laços com o patrão. O empregado tem uma esposa e um filho que irão ter uma afinidade bem próxima com o patrão, para o desespero de Javier. Essa família fará uma viagem para os Estados Unidos, onde suas vidas serão modificadas para sempre.
Bom, tentei fazer uma descrição bem sucinta do plot para não recair em muitos spoilers. O que chama muito a atenção nessas histórias é que elas justificam bem o título do filme, ou seja, a vida em si sempre tem seus altos e baixos. Mesmo que às vezes a tragédia marque a vida das pessoas, sempre há uma forma de se dar a volta por cima, onde as próprias pessoas que sofrem com as mazelas do passado podem se dar as mãos e recomeçar. Carregado nesse espírito de afeto e de ternura, o filme vai costurando aos poucos as pequenas histórias e isso cativa o espectador gradativamente.
Com relação aos atores, três destaques. Tivemos uma Annette Bening, que fez a terapeuta de Will que, mesmo que tenha tido uma participação muito pequena no filme, chamou a atenção pelo tom carinhoso com que tratava seu paciente. Já Isaac chamou muito a atenção como o marido pré e pós tragédia, sendo bem mais convincente em sua fase mais depressiva. Mas quem teve a melhor atuação no filme foi Antonio Banderas. Ele conseguiu dar ao seu personagem um lado humano muito forte, justamente um personagem que apresenta de forma detalhada seu passado (talvez o personagem mais bem construído do filme), o que ajuda a dar muita empatia ao mesmo, personagem esse que, aparentemente seria um fazendeiro cruel e mal intencionado em seu início.
Dessa forma, “A Vida em Si” é um filme que merece a atenção do espectador, pois ele tem um roteiro cativante e bem elaborado, onde há uma forte empatia dos personagens com o público. A interação de medalhões do porte de Isaac e Banderas com atores menos conhecidos foi muito eficaz, sinal de que todo o elenco conseguiu trabalhar muito bem e em equipe. Vale a pena dar uma conferida.