Mais um filme concorrente ao Oscar. “No Portal da Eternidade” disputa uma estatueta de Melhor Ator para Willem Dafoe e fala da vida de Vincent Van Gogh nas cidades de Arles e Auvers-Sur-Oise. Vamos precisar de alguns spoilers aqui para analisar o filme. Ao enfocar esse período da vida do pintor, podemos testemunhar momentos-chave de sua vida, como a relação entre Vincent (interpretado por Dafoe) com o seu irmão Theo (interpretado por Rupert Friend), ou com Paul Gauguin (interpretado por Oscar Isaac), pessoas com as quais Vincent mantinha um forte vínculo afetivo e de dependência. o filme também aborda a loucura de Vincent Van Gogh, onde ele diz que não se lembra dos ataques de insanidade de que as duas cidadezinhas o acusam, além de mencionar a perseguição pela qual o artista passava, pois as pessoas não entendiam sua arte e achavam seus quadros horríveis, considerados um atentado à arte. O famoso corte da orelha também é citado, assim como as circunstâncias da morte do artista, onde é insinuado que ele foi assassinado por seus perseguidores.
O filme também é um show de imagens. Se ele concorresse para o Oscar de Melhor Fotografia, não seria nenhuma surpresa. Como há uma forte presença das telas de Van Gogh na película, as imagens da natureza, das quais Van Gogh pintou vários de seus quadros e fazia as suas leituras e impressões, constituem um personagem à parte. Há, inclusive, uma linda imagem em preto e branco de uma paisagem que Van Gogh pinta nas mesmas cores em sua tela, espelhando a impressão que o artista tinha da natureza, sendo um dos momentos mais lindos de todo o filme.
A grande atração da película, entretanto, é o rosário de grandes atores que esse filme apresenta. Podemos falar do staff francês com Mathieu Almaric, Emmanuelle Seigner, Niels Arestup, somente atores de primeira linha. Mesmo com pequenas participações, eles chamam muito a atenção nos seus momentos de tela, tornando-se verdadeiros coadjuvantes de luxo.
Mads Mikkelsen também dá o ar de sua graça como o padre que entrevista Van Gogh no hospício, entrevista essa em que ele decidirá se o artista terá alta ou não. O diálogo entre os dois é delicioso, com o padre querendo comprovar que a arte do pintor não seria normal e Van Gogh rebatendo de forma altamente racional todos os argumentos do padre até que este se encontre sem saída e não tenha outra alternativa a não ser liberar o artista. Já Oscar Isaac fez um Gauguin bem vibrante e ainda com forças para lutar contra os que, em seu ponto de vista, obstruíam o caminho da originalidade. Seus diálogos com Van Gogh também foram muito bons, onde o afeto era mesclado com uma firmeza.
Agora, o ator que desempenha o papel principal, Willem Dafoe, estava simplesmente fulgurante, isso é inquestionável, e a indicação ao Oscar de Melhor Ator foi mais do que justa. A única coisa que incomoda um pouco (e isso foi mais um problema de roteiro do que de atuação) é que seu Van Gogh passou uma impressão de demasiada tranquilidade em alguns momentos. Quando se trata de Vincent Van Gogh, a imagem que o senso comum leva à nossa cabeça é a de uma pessoa profundamente perturbada, com explosões de paroxismo à cada segundo. Tudo bem, há explosões de paroxismo de Dafoe no filme, mas também há demonstrações de uma estranha serenidade, e isso em momentos que deveriam ser extremamente dramáticos, tais como o seu corte da orelha. Confesso que soou um pouco esquisito. Mas, repito, Dafoe foi fantástico nesse filme.
Dessa forma, “No Portal da Eternidade” é um grande filme que concorre ao Oscar de Melhor Ator. Um filme que fala sobre um grande artista, que tem um elenco estelar, e que tem uma fotografia deslumbrante, com lindas imagens da natureza. E, sim, tem Dafoe, numa das melhores e mais memoráveis atuações de sua carreira. Um filme imperdível.