Uma co-produção Bélgica/França. “A Nossa Espera” é um filme que, a princípio parece ser sobre uma situação privada e familiar. Mas, com o tempo, percebemos que a película busca mostrar como situações cotidianas no ambiente público podem afetar a vida privada das pessoas.
O plot é o seguinte. Olivier Vallet (interpretado por Romain Duris) trabalha numa empresa onde ele é uma espécie de representante de seus colegas perante a funcionária que ocupa um cargo de chefia. Olivier é do sindicato e precisa proteger os demais trabalhadores das investidas da empresa contra eles, que desrespeita seus direitos e pratica demissões. No ambiente familiar, Olivier precisa criar duas crianças com sua esposa Laura (interpretada por Lucie Debay). Apesar da tarefa ser muito trabalhosa, tudo parecia funcionar em harmonia. Mas algo também parecia estar errado com Laura, que tinha crises de choro em vários momentos. Até que, um dia, Laura simplesmente desaparece e Olivier precisa bancar a casa e seu emprego sozinho. É claro que o pai terá algumas ajudas da mãe e da irmã, mas ele vai precisar se adaptar aos novos tempos. E torcer para que sua esposa apareça.
Bom, por que o filme parece uma interferência do público no privado? Porque o sumiço de Laura pode estar atribuído aos vários problemas de ordem social presentes no filme. Vemos um clima onde os trabalhadores são constantemente ameaçados por demissões e por situações de penúria financeira. E isso afetava muito Laura, que trabalhava numa loja e via suas clientes passarem pela vergonha do cartão de crédito simplesmente não passar na máquina, ao ponto de ela ter crises de choro, um indício de crise de pânico. O fato da moça estar em dupla jornada de trabalho, tendo que trabalhar na loja e, ao mesmo tempo cuidar das crianças, é outro fator de sobrecarga. Tanto que, quando Olivier precisa cuidar das crianças e, ao mesmo tempo tocar seu trabalho, ele tem enormes dificuldades. Assim, a pesada rotina de trabalho e os problemas sociais que circundavam a família atingiam em cheio esta última. Talvez se o sistema não fosse tão cruel, essa família poderia sofrer bem menos danos que sofreu.
Com relação ao desfecho da película, obviamente um happy end em tal contexto estragaria tudo. Optou-se por uma situação em aberto, dando alguma esperança para os personagens, mas ainda imerso num contexto um tanto desesperançoso de realidade. Pelo menos, as convicções políticas de Olivier não se esmoreceram mesmo com necessidades iminentes que poderiam desvirtuar seu caminho. E o mais notável: a decisão que o Olivier tomou para sua família foi feita em votação com seus filhos. Mais democrático impossível.
Dessa forma, “A Nossa Espera” é um filme que, se num primeiro momento parece enfocar exclusivamente a vida privada de uma família, o roteiro bem escrito mostra paulatinamente que as desventuras familiares são provocadas por fatores externos imersos no meio público. Fatores externos que são problemas sociais provocados pela insensibilidade de um sistema que visa ao lucro e não tem qualquer preocupação com aqueles que estão na cadeia produtiva, simplesmente descartando-os quando são considerados prejuízo para o sistema. Por tudo isso, “A Nossa Espera” se torna um filme indispensável e altamente recomendável.