O filme “O Mau Exemplo De Cameron Post” provocou um enorme burburinho há tempos atrás por não ter sido exibido por aqui. Como se tratava de uma história de uma moça lésbica que foi submetida a uma espécie de clínica de reabilitação evangélica, aplicando uma suposta cura gay, o fato do filme não ter a sua exibição prevista no Brasil acabou soando como censura. Mas aí logo foi tudo desmentido e a exibição foi prevista para acontecer. Agora, tivemos a estreia recentemente. Vamos lançar mão dos spoilers aqui.
E o que podemos dizer dessa película? A primeira impressão é a de que foi muito barulho por nada. É um filme bem simplório, cheio de clichês, com um desfecho bobinho e sem conflitos, ao contrário do que se poderia esperar de uma película que trabalha um tema tão espinhoso. Entretanto, dada a dificuldade retumbante dos tempos que passamos, qualquer contribuição que traga uma reflexão em direção à tolerância é bem válida. A Cameron em questão (interpretada pela bela Chloë Grace Moretz) tem cenas de amor com sua namoradinha relativamente tórridas, mas a coisa fica por aí, fora um eventual amasso com sua companheira de quarto na clínica.
O que mais chama a atenção é a forma como todo o contexto de sua internação a deixa num estado de dúvida com relação a si mesmo, embora essa dúvida logo se disperse quando ela encontra dois companheiros de clínica, digamos mais descolados, que não aceitam passivamente o estabelecido, e que representam as minorias (a mocinha é latina cheia de dreads e o rapaz é um indígena cabeludo, mais clichê impossível). Esses amiguinhos salvarão a protagonista Wasp das loucuras de meu Deus (licença Hermes e Renato). E eles fogem calmamente numa picape ao final da película com um adesivo da campanha Clinton Gore no vidro traseiro (eu disse que o filme era muito clichê).
Bom, não vamos somente falar da parte simplória do filme. Há também um mérito a ser falado aqui. Há toda uma variedade de pacientes na clínica, desde os mais submissos, passando por uma espécie de estado intermediário, onde aceitam o tratamento mas com uma série de questionamentos, chegando aos totalmente rebeldes, que são da patota de Cameron. O relacionamento entre esses três grupos foi algo interessante de se ver, até o momento em que há uma espécie de implosão de tudo, na tentativa de suicídio de um dos internos, onde fica bem claro que os responsáveis pela clínica não sabem muito bem o que fazer com seus pacientes (Mais um clichê).
Confesso que gostei dos atores pós adolescentes. Eles conseguiram passar bem os tormentos pelos quais passavam, uns em maior e outros em menor grau. A boa atuação ajudou a aturar um pouco mais a obviedade dos clichês.
Dessa forma, “O Mau Exemplo De Cameron Post” é uma película da qual não se pode esperar muito, ainda mais depois de todo o alarde feito. Mas ainda assim, e apesar de todos os clichês, dá para tirar algumas coisas boas, se a gente espremer bastante. Vale mais pela curiosidade do que por qualquer outra coisa.