E finalmente estreou “Vingadores Ultimato”, o filme que dá desfecho a toda uma série de películas do MCU. Desde o clima mórbido imposto por “Guerra Infinita”, havia uma grande expectativa sobre o que aconteceria na película derradeira. Aparentemente, a solução seria bem simples: “só” tomar de Thanos a sua manopla com as joias do infinito e desfazer todo o estrago malthusiano do vilão. O problema seria como tirar essa manopla dele. O detalhe é que o filme não foi por essa solução óbvia e inovou. Vamos falar agora dessa película, lembrando sempre que os spoilers estão liberados aqui.
O Homem de Ferro foi resgatado pela Capitã Marvel. Ao retornar à Terra, ele encontra um grupo de heróis sobreviventes muito abalados, mas que precisam de qualquer jeito fazer alguma coisa para reverter a situação provocada por Thanos. Stark não estava em condições emocionais para isso e fica na Terra. Quando os Vingadores chegam ao planeta onde Thanos goza da sua aposentadoria, descobrem que ele destruiu todas as joias do infinito, pois elas tinham se tornado desnecessárias.
No processo, Thanos ficou seriamente comprometido, tornando-se uma presa fácil para Thor, que decapita o vilão. Entretanto, o gosto de derrota é inevitável, pois era impossível reverter tudo o que havia acontecido. Cinco anos depois, os heróis continuam sua existência vazia num mundo completamente degradado. Entretanto, o Homem Formiga sai de sua espécie de clausura quântica e ele procura os Vingadores depois de descobrir toda a catástrofe.
Será o Homem Formiga que lançará a ideia de se usar o mundo quântico para realizar a viagem no tempo, pegando as joias do infinito nas épocas pretéritas onde davam o ar de sua graça. Mas a pessoa mais qualificada para empreender a viagem no tempo, Tony Stark, tem agora uma vida prosaica de casado com Pepper e sua filhinha, não querendo muito salvar metade da vida no Universo. É claro que tudo será apenas um charminho e ele ajudará Bruce Banner a criar uma “máquina do tempo”. Bruce Banner, aliás, que apresenta uma versão mais calma e resolvida do Hulk. A partir daí, os Vingadores se reúnem em grupos para buscar as joias. Entretanto, o Thanos do passado descobre o plano e novamente há o risco dele pegar todas as joias do infinito.
Esse é um filme de praticamente três horas que é diferente dos demais filmes da Marvel. Como essa película tinha o objetivo de dar um desfecho a toda a saga, tivemos uma grande preocupação com a construção de personagens, sobretudo Steve Rogers e Tony Stark. E isso deu um sabor todo especial ao filme. Geralmente um filme de heróis do naipe de Vingadores tem como vedete principal as emocionantes cenas de ação com muitos CGIs. É claro que teremos uma cena épica desse naipe, dando uma solução para toda a crise. Entretanto, o que chama a atenção é que essa sequência de ação está inserida no meio de duas partes mais lentas e dramáticas que funcionam muito bem. A primeira parte mostra como os heróis ficaram psicologicamente abalados com a derrota, tal como se eles fossem os verdadeiros culpados por metade da população viva do Universo ter perecido. E fica uma tremenda sensação de impotência por não haver o que fazer, até que aparece a segunda chance com a viagem no tempo. Já o segundo e último momento mais dramático, que começa com o funeral de Stark, dará um desfecho a vários personagens e resolve a perda sofrida pelo Capitão América. Essas duas partes mais lentas prendem demais a atenção do espectador, funcionando maravilhosamente bem, pois temos personagens muito envolventes.
Esse é também um filme que optou pelo “happy end”, entretanto de forma relativa, já que três heróis morreram. Ou seja, “Vingadores Ultimato” é também um filme de perdas, muito sentidas ao final. Além do sacrifício de Tony Stark, tivemos, também, o sacrifício da Viúva Negra e a confirmação da morte do Visão, que não retorna neste filme, já que uma das joias estava incrustada em sua cabeça e foi violentamente arrancada por Thanos. Dada toda a querela em torno das joias, infelizmente a volta do Visão acaba sendo mais problemática e terminou descartada. Uma dúvida aqui: o que teria acontecido com Loki, que conseguiu ter acesso a uma das joias do infinito, desaparecendo lá no passado???
A película também teve momentos muito interessantes nas viagens no tempo pela busca das joias. Os heróis retornaram à época de vários filmes da Marvel e cabia ao espectador identificá-los, confiando no conhecimento que o público tinha do cânone. Foi marcante, por exemplo, os encontros de Tony Stark com seu pai e de Steve Rogers com sua amada da década de 40, mesmo que atrás de uma persiana. A luta entre dois capitães América de épocas diferentes trouxe uma marca registrada da Marvel, que é o seu humor de sempre, tendo o seu espaço mesmo num filme de dimensões apocalípticas como esse. Talvez a situação mais tragicômica tenha ocorrido justamente com um Thor beberrão e barrigudo, com uma tremenda cara de Lebovsky, como o próprio Stark atestou.
No mais, fica um destaque para os créditos finais, onde os atores principais de todos os filmes da Marvel apareceram. Uau, se essa fosse apenas uma película, teria um megaelenco superestelar!!! Ah, e sim, como é o último filme dessa fase da franquia, não houve cenas pós -créditos.
Dessa forma, “Vingadores Ultimato” vem confirmar tudo aquilo que já sabemos da Marvel, ou seja, a sua grande competência para fazer histórias. Algumas análises do filme apontaram para alguns furos de roteiro. Entretanto, quem os não tem? E mais: tais furos são, a meu ver, até perdoáveis, pois a história é tão envolvente que a gente acaba não ligando muito para isso. É a seguinte coisa: viagem no tempo gera uma história que pode ter um alto grau de complexidade, sendo um prato cheio para imprecisões e furos. Nada disso impede que a película tenha grande brilho. Definitivamente, um programa imperdível.