Uma notável co-produção Rússia/Alemanha/Lituânia/Polônia. “Sobibor” é mais uma produção do vasto rosário de filmes sobre a Segunda Guerra Mundial. Mais um filme que fala do genocídio nazista. Mais um filme que fala dos horrores de um campo de concentração. Aí, o leitor pode se perguntar: então é mais do mesmo? Não, não é. Pois Sobibor é visceral. Sobibor é catártico. Sobibor traz um fio de esperança. E tudo baseado numa história real, o que é ainda mais incrível. Vamos lançar mão dos spoilers aqui.
O filme mostra basicamente a política de extermínio dos nazistas. Então, desde cedo, somos condicionados a estar lado a lado com as atrocidades. A primeira cena de impacto é o assassinato de prisioneiras na câmara de gás, para já provocar um trauma forte no espectador. Com o tempo, mais fatos odiosos vão acontecendo, como as execuções aleatórias de prisioneiros (um tiro na cabeça a cada dez prisioneiros ajoelhados em fila) depois de uma tentativa mal sucedida de fuga, os chicoteamentos gratuitos e humilhantes, o trabalho escravo e os assassinatos cruéis em festas onde os prisioneiros eram usados como mulas a puxar carroças com nazistas até a exaustão, quando eram executados sob gargalhadas de oficiais da SS bêbados.
Ou seja, tudo é planejado meticulosamente para o espectador ficar com sangue nos olhos e desejar até o fundo da alma que os nazistas sejam trucidados mais tarde. Há um pequeno detalhe. O campo de Sobibor, em solo polonês, está para ser encerrado, pois estamos no ano de 1943 e os alemães já são espremidos de volta à Europa pelas tropas do Exército Vermelho vindas do Oriente. Ou seja, todos os prisioneiros serão exterminados ao fim das contas. É aí que um grupo de prisioneiros soviéticos procura planejar uma fuga do campo. Entretanto, é muito difícil colocar o seu plano em curso, pois a maioria dos prisioneiros, pelo medo intenso, prefere não desobedecer aos nazistas.
Assim, os soviéticos terão que colocar o plano em curso por conta própria. A ideia é simples: atrair os nazistas, um de cada vez, a uma parte mais erma e isolada do campo, assassiná-los e esconder o corpo, até que todos sejam mortos e os prisioneiros possam sair pela porta da frente. Mas o plano será descoberto pelos nazistas e a fuga será improvisada e sob uma saraivada de tiros. Quatrocentas pessoas fugiram do campo, sendo que cento e cinquenta foram assassinadas pelos nazistas posteriormente e mais cento e cinquenta foram denunciados pelos habitantes locais e assassinados, segundo o que foi dito na película. Dos poucos que restaram, alguns ainda lutaram na guerra ao lado dos partisans. E um ex-prisioneiro ainda veio para o Brasil e conseguiu matar dezoito nazistas escondidos por aqui (!!!).
O filme tem duas curiosidades. A primeira é que a morte dos nazistas, por parte dos prisioneiros, é extremamente violenta. Como dito acima, o filme é todo preparado para a gente odiar os nazistas até o fundo da alma. Mesmo assim, se questiona a matança dos nazistas. Alguns prisioneiros se chocam ao responder com igual monstruosidade a monstruosidade dos nazistas, embora logo apareça um prisioneiro para dizer que a reação é altamente justificável, em função das atrocidades cometidas pelos alemães.
Outro detalhe interessante é a participação de Christopher Lambert (isso mesmo, o highlander McLaud!!!) no filme, como o chefe do campo, que foi ferido na fuga e, mesmo assim, sobreviveu até 1996, quando estava na prisão por seus crimes de guerra (definitivamente, vaso ruim não quebra). Há um momento muito pitoresco, quando o chefe do campo, baleado e sentado no chão, assiste à fuga dos prisioneiros e os vê cumprimentando tirando o chapéu quando passam por ele, para mostrar como não há rancor entre os prisioneiros que não participaram da revolta em si, somente da fuga.
Assim, “Sobibor” é um filme imperdível, daqueles para se ver, ter e guardar. Um filme que mostra mais uma vez, de forma nua e crua, os horrores da guerra e do nazismo. Mas que também fala do único caso verídico de fuga bem sucedida de um campo de concentração alemão. Vale muito a pena assistir.