O CCBB do Rio de Janeiro traz, até o dia 12 de agosto, mais uma de suas megaexposições. O agraciado da vez é o artista Paul Klee (1879-1940). Nascido na Suíça, mas de nacionalidade alemã, seu nome sempre foi motivo de controvérsia no que se refere a sua pronúncia. Sob nossos olhos americanizados, quando vemos o nome Paul Klee logo vem à nossa cabeça uma sonoridade parecida com “Pou Clii”, no bom inglês. Mas esse nome é bem germânico e na verdade se pronuncia algo como “Pául Clêê”. Pronúncias à parte, essa é uma exposição muito bem vinda a nosso país, já que há muito poucas obras de Klee no Brasil e a exposição “Equilíbrio Instável” traz cento e vinte obras do Zentrum Paul Klee de Berna, guardião do espólio do artista.
Klee pode ser classificado como um artista inclassificável, pois bebe de várias fontes para executar suas obras. Ele foi muito prolífico, contando com cerca de dez mil trabalhos, dos quais o Zentrum tem quatro mil. A exposição, por incrível que pode parecer, começa com seus desenhos dos tempos de criança, organizados e catalogados pelo próprio artista ainda em seus tempos de infância.
Mais tarde, ele vai para um curso de desenho em Munique, depois de não ser aceito na Academia de Arte local. Começa a desenhar a anatomia humana e nus no curso, que finalmente o fazem ingressar na Academia. Lá, aprende a retratar a natureza, mas a arte mais clássica e renascentista não era muito a praia de nosso artista. Retornando à Berna, ele começa a fazer águas-fortes com criaturas bizarras. Agora sim Klee acha que dá um pontapé inicial em sua carreira de artista.
Depois de casar com a pianista Lily Stumpf em 1906 (Klee também era músico), ele retratava a sua vida doméstica com o filho pequeno Félix enquanto a mulher trabalhava. Klee irá conhecer Kandinsky em 1911 e sua arte, por esta influência, mergulha no abstracionismo. O artista irá ainda ter contatos com o grupo expressionista “Der Blaue Reiter” (“O Cavaleiro Azul”), o cubismo em Paris e o uso das cores na Tunísia. Klee fabricou fantoches para o filho brincar.
Cerca de cinquenta fantoches teriam sido produzidos e grande parte deles se perdeu na Segunda Guerra Mundial ou foi roubada. A exposição tem cinco réplicas que mostram bem a genialidade criativa de Klee. Ele vai lecionar na famosa Bauhaus, a escola de arquitetura e arte de Walter Gropius na Alemanha, que queria aliar arte e estética à funcionalidade.
Klee lecionava mais pelo dinheiro e sofria com a falta de tempo para criar, saindo da escola posteriormente. A ascensão do nazismo também influenciará a obra do artista, com quadros representando emigrantes, acusadores e o próprio Adolf Hitler numa figura bizarra. A agressividade nazista o faz retornar a Berna.
A exposição é um prato cheio para os artistas plásticos, obviamente, não somente por analisar a produção artística de Klee como também há um pequeno salão da mostra que exibe objetos pessoais que Klee usava para pintar e há painéis que explicam de forma detalhada suas técnicas de pintura. Cabe frisar aqui que as obras de Klee são extremamente frágeis, o que obriga uma presença reduzida de público nos salões, aumentando a fila e o tempo de espera para se entrar na exposição. Por isso, é recomendável que o leitor não deixe para ir à exposição mais ao seu final, lá para o dia 12 de agosto, pois as filas e o tempo de espera deverão ser muito maiores. Este escriba ficou cerca de duas horas esperando para entrar e isso numa fila que nem do prédio saiu. E outra coisa: não se esqueça de pegar o ticket na bilheteria, pois ele é exigido, mesmo com a entrada sendo gratuita.
Seguindo a exposição, temos ao final as telas da década de 30, quando Klee já se encontrava doente. Ele sofria de esclerodermia, uma doença que enrijece o tecido conjuntivo. Mesmo assim, ele fez mais de mil obras no período. No final da exposição há um fac-símile de seu quadro “Anjo Novo” que ele vendeu para o historiador Walter Benjamin e hoje está de posse do Museu de Israel. Há toda uma história bonita em torno desse quadro mas essa eu deixo para o estimado leitor conhecê-la na exposição em si.
Assim, “Paul Klee, Equilíbrio Instável” é uma exposição obrigatória, pois é uma oportunidade única de conhecer de forma aprofundada esse grande artista com o qual tempos pouquíssimo contato por aqui. Vale a pena também comprar o catálogo da exposição por módicos R$ 86,00 e que podem ser divididos em três vezes no cartão. Imperdível.