Minha música preferida do Elton John e que me motivou a pedir meu primeiro vinil, com seis anos de idade…
Mês: junho 2019
Batata Arts – Tesouros da Batata (110)
Mais um tesouro
Batata Movies – O Professor Substituto. Ecologia Hardcore.
Entra ano, sai ano, e nunca vi nenhum filme do Festival Varilux de Cinema Francês. Esse ano, no apagar das luzes, decidi finalmente prestigiar o Festival e fui ver “O Professor Substituto”, um filme que começa parecendo ser de um gênero e termina sendo outra coisa totalmente diferente, num daqueles plot twists de arrasar quarteirões. Vamos lançar mão dos spoilers aqui, lembrando sempre que vários filmes desse festival entram em circuito comercial depois.
O filme começa com um professor e seus alunos na sala de aula. Enquanto a turma faz a atividade proposta pelo professor, este coloca uma cadeira perto da janela, sobe nela e se joga no pátio. Chega, então, um professor substituto, Pierre Hoffman (interpretado por Laurent Lafitte), que vai ter que interagir com a turma. O problema é que os alunos dessa turma são superdotados e se comportam de forma extremamente arrogante, sofrendo bullying dos demais colegas da escola e formando um grupo muito fechado, praticamente impenetrável. O relacionamento entre esses alunos e Hoffman será conflituoso ao extremo e o professor resolve investigar os adolescentes à distância, descobrindo um comportamento muito paranoico, onde eles se agridem mutuamente, como se eles se preparassem para viver em condições altamente adversas. Hoffman também descobre que eles escondem uma série de DVDs que eles produziram onde preveem um futuro apocalíptico para a humanidade, já que esta destrói o planeta. Esse comportamento estranho dos alunos desperta todas as suspeitas do mundo no professor, que teme pelo pior.
Pois é. Somente com essa pequena sinopse dá para perceber que o roteiro é um retalho de gêneros. No começo, temos indícios de que teremos um drama adolescente onde o professor parece ter um papel fundamental num grupo de adolescentes traumatizados. Mas logo percebemos que não é nada disso e o filme adquire contornos de um suspense pesado, onde os jovens parecem ser uma ameaça letal à integridade do professor. Um flerte também com o terror? Talvez. Mas, finalmente, o filme adquire um certo tom de denúncia dos maus tratos ao meio ambiente que ameaça a própria espécie humana, chegando a um desfecho apocalíptico e surpreendente que sai completamente do tema escolar inicial. Definitivamente, é o tipo do filme que não deixa você num estado letárgico, ou seja, não há espaço para a monotonia aqui.
E os atores? Laurent Lafitte, o ator que interpreta o protagonista Pierre Hoffman, teve uma atuação relativamente convincente, onde seu ar de perplexidade foi mais marcante do que qualquer outro estado emocional. Também pudera. As situações peculiares que presenciamos ao longo da película beiram realmente o surreal. Mas devemos dar um destaque todo especial aqui a jovem atriz Luàna Bajrami, que faz a líder dos jovens superdotados, Apolline. A menina atuou muito bem e foi extremamente odiosa, tornando-se a antagonista perfeita, conseguindo a redenção de sua personagem no desfecho da película, com um gesto bem sutil e simples.
Dessa forma, “O Professor Substituto” foi uma boa surpresa dentre as películas do Festival Varilux de Cinema Francês de 2019. A mistura de gêneros teve como destaque principal o suspense com leve pitadas de terror, que conduziu o filme na maioria de sua exibição, embora o desfecho apocalíptico tenha sido também uma boa surpresa. Vale a pena dar uma conferida com ele no circuitão.
Batata Movies – Obsessão. Paranoia Clássica.
Isabelle Huppert está de volta, mas agora numa produção americana. “Obsessão” é o clássico filme de suspense onde alguém tem aquela fixação por uma pessoa e, paranoicamente, começa a persegui-la. Cabe aqui a paranoia (e, infelizmente, alguns clichês) a Huppert, enquanto que a perseguida inocente será interpretada por Chloë Grace Moretz. Vamos lançar mão dos spoilers aqui.
O plot é muito simples e é o seguinte: Frances (interpretada por Moretz) perdeu a mãe e tem uma relação conflituosa com o pai desde então. Um belo dia, a moça encontra uma bolsa perdida no metrô e o nome de Greta Hideg (interpretada por Huppert) num documento de identidade. Ela consegue localizar a senhora e elas se tornam amigas.
Mas Frances descobre um monte de bolsas iguaizinhas a que ela achou, com nomes e telefones coladas na parte de trás delas. Frances irá entrar em pânico e vai tentar se desvencilhar de Greta, que diz ser viúva e ter uma filha estudando no exterior. Logo, logo, Greta irá começar a perseguir Frances até conseguir mantê-la em cárcere privado. Tudo isso regado a muito suspense e lances, digamos, violentos e neurastênicos.
A primeira coisa a se lamentar no filme é a forma como se tratou a personagem de Huppert. Inicialmente uma francesa, descobre-se posteriormente que Greta é, na verdade, húngara, o que abriu margem para estereótipos e uma visão mais caricata e ridicularizada da personagem, o que foi uma pena. Suas citações em húngaro tiraram um pouco o terror da personagem, embora seus passinhos de balé num momento bem tenso do filme tenham sido muito engraçados e bem encaixados no contexto.
Já Chloë Grace Moretz acompanhou Huppert como pôde mas fazia mais a cara de um bebezinho assustado do que qualquer outra coisa. É, realmente, um filme de Huppert em toda a sua plenitude. Típico filme que a gente vai ver para cultuar a artista que a gente gosta, mesmo que a película não seja de boa qualidade, como vemos nesse thriller cheio de clichês.
Assim, “Obsessão” é mais um filme de suspense com mais do mesmo. Pelo menos, veio a Isabelle Huppert como atriz principal (não foi a Moretz a protagonista de jeito nenhum), embora sua vilã tenha sido estereotipada com uma série de clichês que nossa diva francesa não merecia. Fazer o que? Filme americano, diriam alguns. Mas valeu pela diversão e por ver um pouco de Huppert em ação.
Batata Movies – Deslembro. A Ditadura Sob A Ótica Infanto-Juvenil.
Uma curiosa co-produção Brasil, França e Catar. “Deslembro”, de Flávia Castro, é mais um filme que aborda a questão dos perseguidos políticos da ditadura militar da década de 60, só que do ponto de vista das crianças que tiveram parentes que sofreram perseguições. Esse não é um tema inédito (tivemos algo parecido no filme “O Ano Em Que Meus Pais Saíram De Férias”). Entretanto sempre é uma experiência curiosa ver como crianças e pré-adolescentes encararam essa situação insólita tão de frente.
Vemos aqui a família de Joana (interpretada por Jeanne Boudier), uma pré-adolescente que vive em Paris e que está de mudança para o Brasil, seu país natal, em virtude da lei de anistia de 1979. Sua mãe vive com um ativista chileno e seu pai desapareceu no Brasil durante os anos mais pesados da repressão. Ao chegar ao Brasil, ela vê esse país inicialmente como uma terra estrangeira, pela qual não tem qualquer afinidade, e vai, aos poucos, buscando uma maior interação com sua terra natal. Para isso, ela contará com a ajuda da avó (interpretada por Eliane Giardini) e um namoradinho, que lhe apresentará o samba e a MPB. Joana sente muita falta de um núcleo familiar convencional, pois sua mãe e seu padrasto estão muito engajados no movimento político e estão constantemente ocupados ou até fora de casa. Mesmo sabendo de todo o passado pregresso do pai, ela não se conforma de a família já dá-lo como morto ao invés da condição oficial de desaparecido político.
O mais curioso desse filme é que ele, por mostrar as coisas sob uma ótica infanto-juvenil, fala de um tema altamente politizado (a luta contra a ditadura militar) da forma mais despolitizada possível. É curioso perceber como a película dá voz a um grupo que também foi vítima da ditadura e quase não tem direito a manifestação nesse contexto, que é o grupo das crianças de famílias que eram ativistas contra o regime de exceção. Só é pena que um protagonismo excessivo tenha sido dado a Joana, onde todos os seus dilemas, crises e aspirações inundam o filme. Havia crianças menores na película cujos anseios poderiam também ter sido explorados.
Pelo menos, a película terminou de forma bem simplória e singela, dando ao seu desfecho uma tremenda cara de anticlímax, algo bem mais adequado com a realidade, dando um ambiente de letargia de pessoas que passaram um pouco mais incólumes ao processo da ditadura, caso das crianças da história.
Assim, “Deslembro” é uma película que tem um título bem adequado: para se lembrar de todo aquele período sombrio que não se conheceu direito, é melhor se esquecer e olhar para a frente. A dor da perda de um pai não pode ser justificativa para um estado de letargia perante o mundo, embora essa perda sempre deixe uma sequela. Apesar de um ritmo muito lento, o filme merece uma conferida.
Batata Jukebox – Far From The Beaten Paths (Jean Luc Ponty)
Mais fusion na veia…
Batata Arts – Tesouros da Batata (109)
Mais um tesouro, da mesma série da semana passada…
Batata Movies – Shazam. O Marvel da DC.
Quando eu vi o trailer de “Shazam” achei que o filme não ia ser lá essas coisas. Tudo parecia muito bobo, um super-herói adulto com mentalidade de adolescente. De fato, quem via o Capitão Marvel lá na TV da longínqua década de 70 (junto com a Deusa Ísis), percebia que havia um moleque, Billy Batson, gritar “Shazam!” e se transformar num adulto com uma capa branca de florzinhas amarelas (parecia uma toalha de mesa). Mas o Capitão Marvel daqueles tempos atuava como um adulto. Agora, não é bem assim. Vamos precisar de spoilers aqui para entender as coisas.
O plot fala de Billy Batson (interpretado por Asher Angel), um menino de quatorze anos que se perdeu da mãe na infância e acaba ficando para lá e para cá em lares de acolhimento, ao mesmo tempo que procura sua mãe por aí. Num desses lares, ele tem nada mais, nada menos que cinco “irmãozinhos”. Um belo dia, ao estar no metrô, ele entra numa espécie de portal onde chega a uma caverna com um mago com cara de eremita chamado Shazam (interpretado por Djimon Hounsou), que mantém presos os Sete Pecados Capitais. Mas Shazam está fraco e velho, precisando passar o seu poder para uma pessoa de coração puro.
Batson, obviamente, foi o escolhido e se transforma no super-herói (interpretado por Zachary Levi) quando pronuncia a palavra “Shazam!”. Mas o terrível Doutor Silvana (não, não era aquele cara que cantava no Chacrinha “Eu fui dar mamãe” não, é o interpretado por Mark Strong) quer esse poder e tenta tomá-lo do herói, lembrando sempre que Silvana libertou os Sete Pecados Capitais e tem os poderes desses pecados. O grande problema aqui é que nosso protagonista tem a idade de quatorze anos no corpo de um adulto e vê Doutor Silvana como uma grande ameaça. Ou seja, nosso herói precisa amadurecer, e bem rápido.
O filme, no final das contas, acabou sendo muito mais do que eu esperava. E por que isso? Apesar da falta de florzinhas amarelas na capa, a atuação de Zachary Levi foi impecável. Ele foi muito carismático e convencia bastante como um moleque no corpo de um adulto. E a coisa ainda ficou melhor, pois rolou uma baita química entre o protagonista e seu irmão de acolhimento Freddy (interpretado pelo surpreendente Jack Dylan Grazer), sendo os dois os responsáveis pelos melhores momentos da película. Os testes de superpoderes que os dois faziam eram simplesmente hilários, o que ajudou enormemente na empatia dos personagens com o público. Outro detalhe que chamou muito a atenção foram os outros irmãos de acolhimento de Batson. Além do já citado Freddy, que usava uma muleta, os demais irmãos eram outsiders por excelência, cada um à sua maneira. Se inicialmente a coisa poderia até parecer meio caricata, com o tempo os irmãos iam conquistando a gente em maior ou menor grau, e eles não são um mero suporte, uma mera escada para os personagens principais. Pode-se dizer que eles até chegaram a um nível respeitável de protagonismo, mas paro por aqui com os spoilers. Um detalhe que foi, na minha opinião, uma jogada de mestre, foi jamais citar o nome do personagem principal, que todos nós sabemos que é Capitão Marvel. Como não sou um especialista em quadrinhos, nunca entendi por que o Capitão Marvel é um herói da DC. Mas os roteiristas brincavam com esse paradoxo, inventando os nomes mais esdrúxulos para o herói enquanto ele descobria os seus poderes e isso funcionou muito bem. O mais engraçado também foi fazer brincadeiras e alusões divertidas aos demais heróis da DC, inclusive numa das duas cenas de pós-créditos.
Assim, pelo seu grau de humorismo e diversão, não é nenhum exagero dizer que “Shazam” seria uma espécie de “Guardiões da Galáxia” da DC e seria um barato ver esse herói numa Liga da Justiça com os demais heróis da DC. Creio que uma importante carta na manga possa ter aparecido aqui e que pode ser muito bem aproveitada. Vale a pena dar uma conferida.