E estreou o novo X-Men, Tem sido há muito ventilado nas redes sociais de que esse filme seria ruim, já era um fracasso antes mesmo de sua exibição, etc., etc. Eu, como fã do Universo dos mutantes e, ainda mais, fã, daquilo que é chamado de “Primeira Classe’, ou seja, uma geração mais prequel da coisa, preferi esperar pela película em si e não embarcar nessa maré de pessimismo. Veio o filme e fui conferi-lo no cinema. Vamos precisar, mais uma vez, dos spoilers.
E o que foi que eu vi? Uma coisa bem diferente do que a gente tem visto ultimamente. Esse é um X-Men com um sabor muito sombrio, o que foi a grande virtude da película. Mas talvez, também, o seu grande defeito, já que o diretor Simon Kinberg parece ter errado na mão nesse clima tão sinistro. Digo, desde já, que não conheço muito de quadrinhos e posso ser injusto aqui, mas houve coisas que incomodam no filme, e muito. Se a coisa era tirar o espectador da zona de conforto, a história do filme foi digna de um golpe de mestre. Mas foi impossível não torcer o nariz para algumas coisas.
Bom, o plot é o seguinte: os X-Men precisam salvar um ônibus espacial que está em pane no espaço, depois que uma explosão solar (a cerca de cento e cinquenta milhões de quilômetros do Sol, essa foi difícil de engolir), ameaçava a nave. Mas não era explosão solar coisa nenhuma e sim uma fonte estúpida de energia alienígena. No resgate dos astronautas, Jean Grey (interpretada por Sophie Turner) é atingida por tal massa de energia e começa a ter comportamentos agressivos, usando o seu poder descomunal (qualquer iniciado em X-Men sabe do poder da Fênix) de uma forma muito descontrolada.
Esse poder teria destruído o planeta de uma espécie alienígena que quer controlá-lo e a Fênix era a sua melhor chance até agora para isso. Só não se entende por que essa é uma espécie tão agressiva sem motivos aparentes. Capitaneada por Vuk (interpretada por uma pálida e esquálida Jessica Chastain), tal espécie fará de tudo para controlar a Fênix que, tomada pelo poder e muito atormentada por vozes e visões, tem uma postura altamente agressiva que provoca muita destruição.
Não sei até que ponto essa origem de todo esse poder e malignidade da Fênix numa fonte alienígena tem base nas histórias originais dos quadrinhos. De qualquer forma, soou diferente da Fênix Negra que vimos na outra geração dos X-Men, o que pode ser considerado uma virtude. Entretanto, a história traz coisas um tanto perturbadoras. A morte de Mística, por exemplo, feita de uma forma tão fútil. A mesma Mística que discordava dos métodos empregados por Xavier para tornar os mutantes mais aceitáveis para o grande público, levando-os a missões extremamente perigosas, tal como se fosse uma realização pessoal de Xavier que mal se arriscava. Essa vertente sombria da história criminaliza Xavier fortemente, justamente o líder do grupo, que sofre um desgaste exagerado e muito perturbador, culminando com sua aposentadoria da escola. Ou seja, um desfecho demasiadamente melancólico para um personagem tão importante. Mas as perturbações não param por aí.
Foi muito desconfortável ver Fera e Magneto se unirem em sede de vingança para matar Jean Grey, pois ela foi a responsável pela morte de Mística, mulher cobiçada pelos dois varões. Tal atitude pode até ser esperada de Magneto, que vive em sede de vingança, mas nunca de Fera que, me perdoem o trocadilho, foi demasiadamente “bestializado” no filme, e no mal sentido da palavra. O que era esperado mesmo aqui foi justamente a morte de Jean Grey em seu desfecho, se bem que creio que poderia se ter arriscado uma saída em que ela sobrevivesse. Outro detalhe negativo que chama a atenção foi o total desaparecimento de Mercúrio depois de um certo tempo de exibição. A sua ausência foi muito sentida na sequência final do trem, por exemplo.
Duas virtudes do filme são resumidas em dois nomes: Chastain e Fassbender. A primeira foi uma excelente aquisição. Chastain em seu cabelo louríssimo e sua pele totalmente alva estava fantasmagórica e a maldade de seu personagem pairava sobre a película com tons de alma para lá de penada, sendo uma boa vilã.
E Fassbender, bom esse é hors concours. Seu Magneto é mais ressentimento que ódio, numa mágoa afundada em melancolia que é capaz de gestos nobres, como na sequência final em que convida Charles para uma partida de xadrez num Café de Paris depois da aposentadoria do professor. Eu sou muito suspeito para falar da amizade dos dois, que é uma coisa que eu amo de paixão e o que mais gosto em X-Men. Mas creio que esse derradeiro final ajudou um pouco a esquecer os problemas e inquietações do filme.
Chegando ao final dessas linhas, fica ainda a dúvida derradeira: “Fênix Negra” é um bom filme? Posso dizer que gostei do clima sombrio, mas lamentei demais a forma como se carregou nas tintas nesse clima, pois apareceram situações muito perturbadoras, como os comportamentos do Fera e do Xavier. Pelo menos Fassbender foi o Magneto de sempre e Chastain trouxe um charme especial a uma espécie alienígena de comportamento inverossímil. Recomendo, apesar dos pesares.