Certa vez, numa de minhas aulas de alemão, quando os tempos eram melhores e éramos muito mais felizes, minha professora lançou uma questão: qual era o melhor lugar para os judeus se esconderem dos nazistas? Depois de alguns momentos de silêncio na sala, ela deu a resposta: em Berlim, é claro! Anos depois, a gente se depara com um filme que conta exatamente essa história. “Os Invisíveis” tem como escopo principal mostrar como os judeus driblaram as deportações para os campos de concentração da Europa Oriental e viveram ilegalmente dentro da Alemanha, passando por todo tipo de sufoco que podemos imaginar.
Veremos aqui a história de quatro jovens que farão de tudo para escapar das garras do nazismo. Podemos dizer que esse filme é uma espécie de “docudrama”, pois vemos os relatos dos verdadeiros judeus que passaram por toda essa situação de ficarem invisíveis aos nazistas nas barbas deles e esses relatos eram dramatizados ao bom estilo de um filme de enredo. O mais notável é que tivemos as mais variadas situações. Houve o caso de um rapaz que escapou do campo de concentração, algo que não aconteceu com os seus pais, e ele ainda prestou uma espécie de resistência à ocupação, pois ele falsificava documentos (passes) que salvaram a vida de alguns judeus na mesma condição que ele.
Houve, também, um caso de uma moça que precisou sair de seu esconderijo e ficou vagando pelas ruas, sem ter um abrigo, sendo que ela somente conseguiu algum lugar para ficar depois de frequentar um cinema e conhecer o filho da senhora da bilheteria, que iria para a guerra e precisava procurar uma companhia para a mãe. Houve, ainda, o caso das moças que faziam tarefas domésticas na casa de um oficial nazista, que sabia da condição das duas de judias escondidas, mas não as denunciou. E o caso do rapaz que ficou de casa em casa até poder tomar parte num movimento de resistência que queria denunciar a situação desfavorável da Alemanha na guerra mais ao seu término.
Como se não bastasse ter que fugir dos nazistas em seu próprio país, os invisíveis ainda tinham que driblar os bombardeios e a sede de vingança dos soldados soviéticos que sofreram duras perdas em seu território por culpa dos nazistas e, agora em território alemão, queriam matar todos os alemães que vissem pela frente. Até os judeus convencerem os soviéticos de que não eram nazistas, já que as notícias sobre a deportação de judeus confirmavam que não havia mais qualquer judeu em Berlim, demorou bastante, sendo mais outra situação de tensão nesse ambiente inusitado e perigoso que é viver sob o nazismo e a guerra.
O filme, entretanto, traz uma mensagem muito importante. Mesmo a Alemanha estando sob o nazismo, isso não significava que todos alemães fossem nazistas e tivessem um péssimo caráter. Ou seja, a velha e batida história de que não podemos generalizar e às vezes teimamos em não aprender. É de suma importância que lembremos que havia alemães opositores ao regime nazista e lutaram contra isso escondendo judeus e dando até a vida por isso. Definitivamente, não podemos nos esquecer dessas pessoas. E “Os Invisíveis” traz muito bem essa recordação à tona, sendo, portanto, um filme imprescindível.
Dessa forma, “Os Invisíveis” merece uma conferida, pois os depoimentos dos sobreviventes judeus à guerra e aos agentes da Gestapo dão um tom de legitimidade muito grande às dramatizações vistas na telona. É um filme que lembra da atitude heroica de alguns alemães que lutaram contra o autoritarismo em seu próprio país e salvaram vidas, com alguns alemães perdendo suas vidas por isso. Um filme fundamental e obrigatório por excelência cinematográfica, pelo seu tom de denúncia nos tempos altamente sombrios que vivemos e um filme para não esquecermos de verdadeiros heróis ocultos pela negligência com o passado. Programa imperdível, valendo a pena procurar nos canais especializados ou em DVD.