Chega por aqui um filme francês que foi o representante de seu país na competição pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro esse ano. “Memórias da Dor” é um filme denso, existencial e muito, mas muito intrigante. Tudo isso tendo como pano de fundo a França ocupada pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial, só para deixar a coisa mais perturbadora ainda. Vamos lançar mão de spoilers aqui.
Qual é o plot? Vemos aqui a história real da escritora Marguerite Duras (interpretada por Mélanie Thierry), uma famosa escritora que teve o seu marido aprisionado pelos nazistas. Marguerite vai se desdobrar para buscar o paradeiro do seu amado e, simultaneamente, participar do movimento de Resistência. Para que ela consiga informações do esposo preso, vai se envolver com um agente da Gestapo, apaixonado por ela e por seus textos, num jogo de gato e rato com tons de periculosidade, mas que era bem controlado por Marguerite, que usava o agente alemão à sua vontade, um agente que podia ser muito perigoso mas que, com o tempo, perde sua força e importância, à medida que os aliados avançam contra os nazistas na guerra.
Esse avanço, entretanto, pode ter uma consequência bem grave: os nazistas podem se desfazer de seus prisioneiros, simplesmente os executando. Assim, Marguerite tem a situação paradoxal de ver o avanço aliado não como uma solução para o seu problema, mas sim como podendo motivar um desfecho muito trágico. E ela corre contra o tempo, geralmente com uma visão pessimista do futuro próximo.
É um filme que ronda o existencial com um ar um tanto blasé. Marguerite tinha uma característica dúbia: ao mesmo tempo em que ela se empenhava em salvar o marido, ela não tinha uma crença de que conseguiria ter seu amado de volta vivo e se conformava com isso. Tal situação deixou a película extremamente arrastada e difícil de se ver. Nem o seu semblante altamente esgotado e cansado (que produziu um efeito notável) foi suficiente para reverter um grau relativamente enfadonho do filme. Mas antes fosse somente isso. O grande problema foi ao final. Marguerite consegue o que queria, salva o marido, altamente debilitado por ter passado uma temporada no campo de concentração e… se separa dele, decidindo ficar com outro homem.
Ou seja, você olha para aquilo tudo e se pergunta por que ficou duas horas dentro de uma sala escura vendo um filme de ritmo altamente lento. Pelo menos a película serviu, e bem, para se ter uma noção de como era o cotidiano da França ocupada, quando cidadãos eram obrigados a se relacionar com funcionários públicos estrangeiros, num certo clima de tensão. Alemães civis também faziam parte do dia a dia e o relacionamento entre franceses e alemães parecia muito distante e frio, pelo menos nessa película existencial e blasé ao extremo.
Assim, devo confessar que “Memórias da Dor” não agradou muito, pois o trailer parecia vender outra coisa. Um filme onde há uma causa a ser defendida com unhas e dentes não pode parecer tão monótono ou derrotista assim. E aí, surge aquela dúvida: o filme é baseado numa história real. Será que optou-se por menos elementos fantasiosos que deixariam a história mais interessante? Será que o choque de realidade foi exacerbado aqui e, nesse caso, a realidade foi bem menos interessante que nosso imaginário? Parece ter sido exatamente isso que aconteceu. Mas, mesmo assim, um pouco mais de vibração poderia ter sido inserida.