Entra ano, sai ano, e nunca vi nenhum filme do Festival Varilux de Cinema Francês. Esse ano, no apagar das luzes, decidi finalmente prestigiar o Festival e fui ver “O Professor Substituto”, um filme que começa parecendo ser de um gênero e termina sendo outra coisa totalmente diferente, num daqueles plot twists de arrasar quarteirões. Vamos lançar mão dos spoilers aqui, lembrando sempre que vários filmes desse festival entram em circuito comercial depois.
O filme começa com um professor e seus alunos na sala de aula. Enquanto a turma faz a atividade proposta pelo professor, este coloca uma cadeira perto da janela, sobe nela e se joga no pátio. Chega, então, um professor substituto, Pierre Hoffman (interpretado por Laurent Lafitte), que vai ter que interagir com a turma. O problema é que os alunos dessa turma são superdotados e se comportam de forma extremamente arrogante, sofrendo bullying dos demais colegas da escola e formando um grupo muito fechado, praticamente impenetrável. O relacionamento entre esses alunos e Hoffman será conflituoso ao extremo e o professor resolve investigar os adolescentes à distância, descobrindo um comportamento muito paranoico, onde eles se agridem mutuamente, como se eles se preparassem para viver em condições altamente adversas. Hoffman também descobre que eles escondem uma série de DVDs que eles produziram onde preveem um futuro apocalíptico para a humanidade, já que esta destrói o planeta. Esse comportamento estranho dos alunos desperta todas as suspeitas do mundo no professor, que teme pelo pior.
Pois é. Somente com essa pequena sinopse dá para perceber que o roteiro é um retalho de gêneros. No começo, temos indícios de que teremos um drama adolescente onde o professor parece ter um papel fundamental num grupo de adolescentes traumatizados. Mas logo percebemos que não é nada disso e o filme adquire contornos de um suspense pesado, onde os jovens parecem ser uma ameaça letal à integridade do professor. Um flerte também com o terror? Talvez. Mas, finalmente, o filme adquire um certo tom de denúncia dos maus tratos ao meio ambiente que ameaça a própria espécie humana, chegando a um desfecho apocalíptico e surpreendente que sai completamente do tema escolar inicial. Definitivamente, é o tipo do filme que não deixa você num estado letárgico, ou seja, não há espaço para a monotonia aqui.
E os atores? Laurent Lafitte, o ator que interpreta o protagonista Pierre Hoffman, teve uma atuação relativamente convincente, onde seu ar de perplexidade foi mais marcante do que qualquer outro estado emocional. Também pudera. As situações peculiares que presenciamos ao longo da película beiram realmente o surreal. Mas devemos dar um destaque todo especial aqui a jovem atriz Luàna Bajrami, que faz a líder dos jovens superdotados, Apolline. A menina atuou muito bem e foi extremamente odiosa, tornando-se a antagonista perfeita, conseguindo a redenção de sua personagem no desfecho da película, com um gesto bem sutil e simples.
Dessa forma, “O Professor Substituto” foi uma boa surpresa dentre as películas do Festival Varilux de Cinema Francês de 2019. A mistura de gêneros teve como destaque principal o suspense com leve pitadas de terror, que conduziu o filme na maioria de sua exibição, embora o desfecho apocalíptico tenha sido também uma boa surpresa. Vale a pena dar uma conferida com ele no circuitão.