E temos o novo “Homem-Aranha”. “Longe de Casa” é o filme final da atual fase da Marvel e recebeu a difícil tarefa de suceder o estrondoso sucesso de “Vingadores, Ultimato”. Isso sem falar que o Aranha é um dos mais populares super-heróis da Marvel e continua na tarefa de emplacar Tom Holland no papel protagonista, depois de um bom primeiro filme solo. Será que houve êxito nisso tudo? Para podermos analisar todo esse panorama, vamos lançar mão dos spoilers aqui.
Nesse segundo filme, Peter Parker tem que conviver com a sombra de não ter mais Tony Stark por perto. A morte do Homem de Ferro ainda é recente e muito sentida. As pessoas que viraram cinzas por causa do Thanos retornaram depois de cinco anos ainda com a idade de cinco anos antes, o que é o caso de Parker. Vemos aqui nosso adolescente protagonista às turras com sua timidez para conquistar uma MJ (interpretada por Zendaya), numa versão, digamos, mais descolada e determinada. Parker buscará mostrar a MJ seu amor por ela numa viagem que a sua turma de escola fará para a Europa. Mas, em Veneza, uma criatura monstruosa de água aparece, sendo repelida por um misterioso herói, devidamente batizado pela turma de Parker de “Mistério” (interpretado pelo versátil Jake Gyllenhaal). Logo, Parker descobrirá que Mistério está trabalhando com Nick Fury para lutar contra essas monstruosas aberrações. E ajuda o novo herói nessa contenda, tornando-se um amigo próximo. Os monstros são destruídos e Parker, que havia recebido um par de óculos de Stark, que controla um exército de drones escondidos dentro de um satélite em órbita, acredita que, por ser adolescente e ainda não estar numa fase madura, não é um herói à altura nem a pessoa mais indicada para possuir aquele par de óculos, carinhosamente chamado de Edith por Stark. Parker, então, dá Edith de mãos beijadas a Mistério, que irá se revelar um tremendo 171 que busca ser um herói de mentirinha usando hologramas. Na verdade, Mistério é um antigo funcionário de Stark que se sentiu injustiçado por ele e, junto com outros ex-funcionários, leva a cabo esse plano do falso herói que simula tragédias para aparecer como o salvador do dia. O problema é que gente tem que morrer de verdade para tais simulações se tornarem mais realistas. Entretanto, Parker conseguirá descobrir o plano de Mistério e terá que desfazer a burrada que fez.
Pode-se dizer que é uma película em duas camadas. A primeira, uma história de herói, onde o Homem-Aranha tem um falso amigo, é enganado por ele e precisa deter seus planos inescrupulosos. O segundo filme é uma historinha adolescente, bem ao espírito “Malhação”, onde nosso protagonista quer se declarar para a menina pela qual está apaixonado. É até compreensível esse segundo plot, já que nosso protagonista é adolescente mas, obviamente, isso enfraqueceu a história e a deixou um pouco mais bobinha. De qualquer forma, a adolescência de Parker foi bem explorada na película, pois apareceu toda a insegurança do personagem em arcar com as grandes responsabilidades de seu poder. E Parker acabou fazendo besteiras. Impossível a gente não olhar para nosso próprio passado adolescente e não se identificar. Sei que pode ser dito que essa adolescência de Parker está indo longe demais, até porque esse já é o terceiro filme em que o aracnídeo interpretado por Holland aparece. Entretanto, ainda assim ele é um menino de quinze anos e, como as más línguas da internet dizem que o homem só se torna verdadeiramente adulto aos 54 anos, acho que ainda cabe um dilema adolescente nesse filme, o que ajuda a construir o personagem para a próxima fase da Marvel. A burrada que ele fez ao dar o par de óculos para Mistério e a dúvida se ele quer seguir uma vidinha normal, sendo apenas o herói da vizinhança ou um verdadeiro Avenger (como ele já o é), vai dando experiência ao jovem Parker em processo de crescimento. O relacionamento tenso com Fury é outro fator de amadurecimento, pois o personagem de Samuel L. Jackson o trata de forma bem ríspida, buscando acelerar, por bem ou por mal, seu senso de responsabilidade e de segurança.
Mas o filme não fica somente nisso. Tivemos um bom vilão nessa película. Jake Gyllenhaal mostrou o seu talento de sempre e fez um excelente Mistério, um personagem dúbio, que rendeu excelentes cenas. Seus melhores momentos, sem dúvida, foram as conversas que teve com Parker, agindo como se fosse um verdadeiro amigo de longa data, rapidamente conquistando o menino. Mas, também, quando ele se revela um vilão com ressentimentos para com Stark (parafraseando Chris Rock, todo mundo odeia o Stark, também pudera, ele foi um capitalista bem FDP por muito tempo), a forma como ele apresenta isso e sua equipe foi, digamos, bem apoteótica. E deu gosto de ver Gyllenhaal nessa hora. Ele parecia se divertir bastante enquanto atuava.
Sempre gostei muito de John Favreau e de Happy, seu personagem. E adorei vê-lo interagindo com Parker. Ele meio que foi a presença mais sólida de Stark na película. E, ainda mais com o carisma de Happy, que subiu mais uns dois mil metros no meu conceito porque ele pegou a Tia May, mais bela e sensual do que nunca. Taí uma mudança no Universo de Homem-Aranha que deu certo. Essa nova Tia May é tudo de bom, não somente por a tia de Parker ser muito estonteante, mas também muito simpática e amável do ponto de vista maternal e ainda ter uma leve e doce pitada de alívio cômico. Foi muito engraçado ver Parker sabatinando o casal como se fosse um ancião tradicionalista, enquanto os dois o olhavam de forma assustada como dois adolescentes. Se a gente já elogiou Gyllenhaal e Favreau aqui, a gente também não pode se esquecer de Marisa Tomei, que voltou com força total e em grande estilo.
No mais, esse é um filme que fala de hologramas e tecnologia. Por isso mesmo, os efeitos especiais não puderam ser qualquer coisa e a película ficou visualmente muito boa de se ver nas cenas de ação regadas a CGIs. Sei não, mas talvez os efeitos especiais e a computação gráfica tenham dado mais um pulinho para cima aqui, com relação aos demais filme e a gente talvez esteja testemunhando uma nova fase em efeitos especiais.
E os pós-créditos? Foi hilário e um verdadeiro presente ver J. J. Jameson novamente na pele de J. K. Simmons, usando agora a grande mídia para incriminar o Homem-Aranha (voltando ao Universo tradicional dos quadrinhos) e ainda revelando sua identidade secreta para todo o planeta. O que poderia ser uma coisa tensa foi feita de uma forma verdadeiramente cômica e engraçada. E a segunda cena (sempre depois de passados todos os créditos, com reza a tradição de cenas pós-créditos da Marvel) trouxe um dado muito interessante. Na verdade, Fury era um Skrull, que contactou o verdadeiro Fury que estava numa nave Skrull no espaço. Aí, a gente já vê uma presença do Universo da Capitã Marvel batendo ás portas da próxima fase da Marvel. E, diga-se de passagem, gostei muito, pois, ao contrário de algumas críticas por aí, adorei o filme dela e gosto muito de Brie Larson.
Dessa forma, se “Homem-Aranha, Longe de Casa” não foi tão bom quanto o primeiro filme de Tom Holland, ainda assim é um bom filme, pois conta uma boa história de herói e vilão, apesar de seus momentos “Malhação”. É um filme de boas atuações (leia-se Gyllenhal, Favreau e Tomei). E um filme que dá mais passos na construção desse novo Peter Parker. Estou animado para ver mais. Até porque sou fã incondicional do cabeça de teia. Vale a pena dar uma conferida.