E estreou o tão esperado “Turma da Mônica, Laços”. A live action dos eternos personagens de Maurício de Sousa, aquele que nos ajudou a aprender a ler (como foi meu caso), e que mexe fundo em nossa afetividade foi um presente e tanto. Confesso que foi um pouco difícil ver a película, pois os olhos marejaram várias vezes. Vamos lançar mão dos spoilers aqui.
O plot é muito simples (vale dizer aqui que a história de “Laços” vem da Graphic Novel dos irmãos Lu e Vitor Cafaggi). Floquinho, o cachorrinho do Cebolinha (devidamente “pintado” de verde) é sequestrado por um vilão que vende a gordura dos cachorros para uma empresa que produz uma loção capilar. Assim, a turminha se une para procurar Floquinho, encontrando-o preso com outros cachorros num barracão muito ermo, guardado por um feroz doberman e que é trancafiado por vários cadeados. Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali vão ter que quebrar muito a cabeça para tirar Floquinho de lá.
O filme desperta duas impressões. A primeira é que vemos uma historinha em quadrinhos clássica da Turma, com todos os elementos: planos infalíveis, um vilão mau, mas bobão, a Mônica dando coelhadas a torto e direito, um já suposto romance entre a Mônica e o Cebolinha (que se desenvolveria em “Turma da Mônica Jovem”), etc. Mas o filme também tem algo de muito prosaico e idílico: crianças brincando e rindo juntas, um campinho que parece mais uma floresta encantada, casas que parecem ter vindo de subúrbios norte-americanos.
Sentimos algo realmente datado na coisa, do tipo anos 60. Nada mais justo, pois foi mais ou menos nessa época que Maurício de Sousa concebeu seus personagens. Essa parte, digamos, mais “romântica” da história, se afasta um pouco dos quadrinhos tradicionais, mas traz uns elementos interessantes. Vemos, por exemplo, a Mônica reagindo com um choro ao xingamento com Cebolinha, o que deixa ele muito mal com seus amigos, doendo bem mais que uma coelhada, por exemplo.
Ainda, a turma da rua de cima também tem as suas meninas que arremessam bichinhos de pelúcia, botando a Mônica e a turma para correr. Para uma menina que enfrenta com seu coelho surrado desde o Capitão Feio até ataques alienígenas, isso foi realmente uma surpresa. Mas como é dito em música erudita, são variações do tema.
Agora, o que mais chamou a atenção foi o conjunto muito bem feito de caracterizações. Algumas muito boas, outras um tanto regulares, mas nenhuma ruim. As perfeitas foram a Mônica (interpretada por Giulia Benite) e o Louco (interpretado por Rodrigo Santoro, que nos surpreende a cada dia com seus papéis no cinema, tanto aqui no Brasil quanto lá fora).
O Cebolinha (interpretado por Kevin Vechiatto) mostrava bem o espírito travesso e um tanto arrogante do personagem mas esbarrava no obstáculo (intransponível) do estigma dos cinco fios de cabelo. O Cascão (interpretado por Gabriel Moreira) conseguiu roubar as cenas com seu carisma muito forte. Só lamentei o fato de que me pareceu que a Magali (interpretada por Laura Rauseo) tenha tido menos tempo de tela.
Senti um pouco de falta da meiguice e sensibilidade extrema dela, da qual gosto muito. Não sei por que, mas gostei demais da Mônica Iozzi como mãe da Mônica e, principalmente, de Fafá Rennó, como a mãe do Cebolinha. Elas se encaixaram como uma luva no ambiente idílico do filme, exalando uma fofura incontrolável.
Dessa forma, “Turma da Mônica, Laços” já te conquista antes de pisar na sala de cinema. E, lá dentro, te envolve na afetividade que o Universo de Maurício de Sousa sempre nos acolheu desde bem pequenos. Um filme obrigatório. Um filme imperdível. Um filme para ver, ter e guardar.