Uma co-produção França/Bélgica um tanto engraçada, um tanto lúdica. “Branca Como Neve” brinca com o conto de fadas tradicional, dando-lhe uma roupagem moderna e substituindo os sete anões por sete “príncipes”. Além disso, conta com a presença da diva Isabelle Huppert, no papel de madrasta. Para podermos falar do filme, vamos lançar mão de spoilers aqui.
Nesse conto de fadas moderno, Claire (interpretada pela belíssima Lou de Laâge) faz as vezes de Branca de Neve. Ela trabalha no hotel do falecido pai sob os cuidados da madrasta Maud (interpretada por Huppert). Tudo vai bem com as duas até o momento em que Maud descobre que seu namorado está perdidamente apaixonado por Claire. Assim, Maud ordena o sequestro e assassinato de Claire. A moça é enfiada no porta malas de um carro e enviada a um local muito ermo, mas a sequestradora bate com o carro e Claire foge, sendo rendida pela sequestradora novamente. Quando Claire vai ser assassinada, ela é salva por um homem, que mata a algoz, e Claire é levada para a casa dele. Esse será o primeiro dos sete “príncipes” que irão entrar na vida de Claire, que vai manter relações com todos eles, algumas sexuais, outras não, mas todas muito intensas. Ou seja, a moça, que somente sonhava e não vivia, vai passar por uma espécie de liberação e começará a viver, em suas próprias palavras, não sendo de ninguém. O detalhe é que esses sete príncipes têm personalidades e características muito diferentes, e Claire vai ter muito jogo de cintura para interagir com tamanha diversidade masculina. Entretanto, Maud descobre que a enteada está ainda viva, morando no interior, e vai até lá para acabar com a moça, com direito até a maçã envenenada.
O filme desperta sentimentos variados. A ampla fauna masculina que vemos na película tem uma variedade psicológica intrigante e, até certo ponto, muito perturbadora. Temos um gago, um hipocondríaco, um masoquista, um psicopata leve, um padre, um angustiado e um garotão. Dá para perceber como Claire teve uma ampla gama de experiências na sua iniciação a vida. O filme também tem uma forte dose de humor, podendo ser negro ou não, seja nos esquilos que observam as aventuras sexuais de Claire dentro de um carro, seja no esquilo que morre envenenado ao comer a famigerada maçã.
As atrizes foram muito bem. Lou de Laâge conseguiu tocar muito bem a sua personagem não só lançando mão de sua beleza angelical, mas também com muito talento, dando um teor de sedução enorme e irresistível à sua personagem, fazendo os homens de gato e sapato a seu belprazer. Já Isabelle Huppert mais uma vez destilou toda a sua elegância e talento, fazendo uma madrasta tomada por ciúmes da enteada,já que seu namorado se apaixona por ela. Ela consegue ser uma grande vilã, mas a sequência em que ela entorpece Claire é altamente sedutora, pois as duas dançam juntas numa espécie de transe eivado de toda uma enorme sensualidade entre dois corpos femininos que se relacionam ao som de uma tórrida música. Foi esteticamente muito bonito.
Assim, “Branca Como Neve” foi uma releitura ousada do conto de fadas com direito a muita sensualidade e humor, tudo isso amparado pela interpretação magistral de duas atrizes e uma fauna de personagens masculinos variados, usados como uma espécie de joguete por uma protagonista que se abre para a curtição da vida. Vale pela experiência.