Um filme escrito, dirigido e estrelado por Casey Affleck. “A Luz no Fim do Mundo” é uma película, acima de tudo, sobre a cumplicidade de um pai e de uma filha. Um filme que mostra como a relação humana pode ser um forte cimento quando você está numa situação muito complicada. Para podermos entender a história, vamos lançar aqui mão de spoilers.
E que situação complicada é essa? Um pai (interpretado por Affleck) e sua filha Reg (interpretada por Anna Pniowsky) estão num futuro distópico, onde boa parte das mulheres do mundo morreu em virtude de uma epidemia, o que desequilibrou a sociedade, a ponto da mulher ser uma espécie de um bem precioso disputado pelo excesso de varões. O pai precisa, então, preservar a filha desse comportamento predatório dos homens e fica vagando permanentemente com a menina, que sempre está vestida de menino para disfarçar. Vemos, então, os dois passando por várias situações: acampando na floresta e rapidamente se deslocando à menor presença de um estranho, se abrigando numa casa abandonada e fugindo depois de alguns homens a invadirem com o intuito explícito de procurar mulheres, se deslocar para um local bem mais afastado da civilização, mas sem sucesso no que tange à perseguição desses homens que ainda vão atrás do pai e da filha.
Apesar de termos uma espécie de clímax na película, onde a ação e a violência ficaram bem mais explícitas, em boa parte da exibição vemos o pai e a filha dialogando sobre os mais variados assuntos da vida. Dá para perceber como o pai está numa tremenda saia justa, pois ele tem a dupla preocupação de proteger sua filha e, ao mesmo tempo, educá-la para a vida, sendo constantemente bombardeado por perguntas da garota, que pergunta sobre tudo sem o menor pudor. Assim, esses diálogos acabam sendo a grande atração da película. A química entre Affleck e Pniowsky foi perfeita, expressando toda uma cumplicidade latente entre os dois.
O filme tem um desfecho que não dá uma solução para o problema. Ainda estamos nesse mundo distópico, o pai e a filha continuam sendo fugitivos, totalmente subjugados pelas circunstâncias, mas ainda lutando como uma equipe. Se o pai passa boa parte do filme sendo o amparo para a filha, no final os papéis se invertem, pois o pai, já cansado de tantas batalhas, acaba desabando e aí será Rag que o vai amparar, usando as palavras de apoio proferidas pelo próprio pai em outras ocasiões.
Dessa forma, “A Luz No Fim Do Mundo” é um filme que vale muito pela curiosidade e pelo conteúdo dramático. A ficção distópica aqui serve muito mais como um pano de fundo para o verdadeiro escopo do filme, que é uma análise meticulosa da relação de um pai e de uma filha através dos diálogos que eles travam. Uma bela cumplicidade entre os dois que surge como a grande atração do filme. Vale a pena prestigiar esse trabalho de Affleck pela curiosidade e pela reflexão que ele desperta, pois a menção à questão da mulher objeto aparece nas entrelinhas. Um programa imperdível.