A Disney dá a “Malévola” a sua continuação. “Dona do Mal” foi um filme, na minha modesta opinião, melhor que o primeiro “Malévola”, até por ser bem mais conflituoso e, eu diria, inesperadamente violento. Mas, ainda assim, um filme que levou a uma interessante reflexão. Para podermos entender melhor a película, vamos lançar mão de spoilers aqui.
O plot é um tanto simples. Há o reino dos humanos e o reino dos seres da floresta. Aurora (interpretada por Elle Fanning), que também atende pela alcunha de “Bela Adormecida”, ainda tem Malévola (interpretada, como todos nós sabemos, por Angelina Jolie) como madrinha, e acaba acertando os ponteiros com o Príncipe Phillip (interpretado por Harris Dickinson), do reino dos humanos, para se casarem. Obviamente, Malévola não vai gostar nem um pouquinho disso, mas Aurora consegue convencer a madrinha a ir ao castelo dos pais do Príncipe Philip. O problema é que a Rainha Ingrith (interpretada por Michelle Pfeiffer), mãe do Príncipe Philip, também não quer o casório e começa a produzir conflitos durante o jantar, o que vai levar Malévola a uma explosão de ódio, enquanto que o Rei John (interpretado por Robert Lindsay) cai, moribundo.
Ingrith na hora acusa Malévola de tê-lo amaldiçoado e ordena que ela seja alvejada enquanto esta sai voando do castelo. Ferida, Malévola é resgatada pelo seu povo, que sempre viveu escondido dos humanos e alguns de seus membros querem a guerra, enquanto que outros querem a paz com os humanos. Aurora fica no Palácio de Ingrith, achando que Malévola a abandonou. E Ingrith continua os preparativos para o casamento, que na verdade será uma armadilha para atrair os seres da floresta para o seu reino para serem envenenados por uma espécie de pozinho produzido por um gnomo especialista em venenos e poções.
Como dito acima, essa é uma história mais violenta que a primeira, onde vemos fadas morrendo intoxicadas e se transformando em flores, além de haver uma monumental cena de guerra no clímax do filme. Confesso que tudo isso me incomodou um pouco, pois eu esperava algo mais próximo do lúdico de um conto de fadas. O filme até parece ir na direção de algo mais lúdico no seu início, mas à medida que a personagem de Ingrith se revela em toda a sua veia perniciosa, o filme vai para uma direção muito pesada. Ver fadinhas e homens árvore gigantes morrendo e se transformando em flores e árvores inertes me pareceu um pouco pesado para um filme destinado ao público infantil. Pelo menos, nesse momento a presença do Príncipe Philip foi marcante, onde ele foi uma voz decisiva para um cessar fogo nessa guerra bem feudal. O mesmo Príncipe Philip, que até aquele momento, não havia feito nada de relevante na película e habitava uma posição entre o coadjuvante e o figurante no filme.
Toda essa iniciativa do Príncipe consegue colocar um freio nas maldades de Malévola, que entrou na guerra arrebentando com tudo, mas vai parando em sua violência ao ver o ato de compreensão e tolerância do Príncipe. Pode-se dizer que o Príncipe “salva” a protagonista que é condenada na película desde sempre. A grande mensagem do filme é, então, a questão da tolerância com o próximo, com aquele que é diferente de você, se bem que essa lição, dessa vez teve um gosto amargo, pois mostrou-se de forma bem nítida as conseqüências nefastas da intolerância. Assim, a mensagem do filme é bem construída, embora tenha sido um pouco pesada para o público alvo, que é de uma faixa etária bem baixa. Não é à toa que é citado, durante a exibição, que este não é um conto de fadas.
Dessa forma, “Malévola, A Dona do Mal” é uma interessante película, melhor que o primeiro filme dessa personagem repaginada, pois aborda a questão do respeito às diferenças, embora a coisa tenha sido feita de uma forma um pouco pesada para o público infantil, pois exibe violência, guerra e mortes. Apesar desse pequeno exagero, o óbvio happy end de conto de fadas foi mantido, o que dá uma leveza compensadora às partes mais pesadas da película. E optou-se não destruir fisicamente a vilã (Me refiro a Ingrith, obviamente), mas sim dar a ela um desfecho mais cômico. Vale a pena dar uma conferida.