Mais um filme baseado numa história real. “O Escândalo” é uma película que trata de um assunto muito delicado, que é o de assédio sexual na rede de TV americana FOX Channel. Esse filme concorre a três Oscars (Melhor Atriz para Charlize Theron, Melhor Atriz Coadjuvante para Margot Robbie e Melhor Maquiagem e Cabelo). A denúncia do caso realmente provocou um escândalo que foi divulgado no mundo inteiro e deixou escancarada a forma como a mulher é tratada como um objeto até nos países mais desenvolvidos. Para podermos entender melhor o filme, vamos precisar de spoilers aqui.
A película foca na trajetória de três personagens principais: Megyn Kelly (interpretada por Charlize Theron), Gretchen Carlson (interpretada por Nicole Kidman) e Kayla Pospisil (interpretada por Margot Robbie), as três funcionárias da Fox, que foram assediadas por Roger Ailes (interpretado por John Lithgow) que, se não era exatamente o dono da empresa, era quem a chefiava e ditava as regras. Para Ailes, todas as funcionárias da emissora deviam trabalhar de saias e seus dotes, digamos, físicos tinham que ser explorados nos programas de TV com o objetivo de aumentar a audiência. E aí, as funcionárias tinham uma reunião privada a portas fechadas com Ailes, onde elas eram obrigadas a exibir o seu corpo para passar pela aprovação do patrão. E a fazerem outras coisas mais depois. Gretchen Carlson foi a primeira mulher a denunciar na justiça a prática, sendo demitida sumariamente. A batalha judicial obviamente foi muito desigual, dado o poder da Fox, mas Carlson e seus advogados não esmoreceram em nenhum momento e lutaram pesado, levando a demissão do patrão pelo dono da empresa.
O mais interessante aqui é que as histórias das três personagens não se cruzam muito. Ou seja, não é aquela história típica de três injustiçadas que se unem na luta contra o patrão inescrupuloso. Há um único e singelo momento em que as três estão juntas… no elevador. Em outros momentos há, no máximo, um ou outro encontro esporádico com duas de cada vez. É interessante também perceber a posição de cada uma na empresa.
Enquanto que Pospisil ainda quer alçar postos mais altos, sonhando em ser a garota do tempo, Kelly já é uma âncora consagrada que bate com Trump de frente, quando este ainda era candidato a candidato à presidência dos Estados Unidos, amplamente apoiado pela Fox, reconhecidamente de extrema direita, o que lhe rendia hostilidades de muitos telespectadores da empresa. Mas será Carlson que vai empunhar a bandeira da briga contra o machismo da emissora e as práticas abusivas do patrão.
Nem é preciso dizer que as atrizes foram muito bem. Theron foi muito bem como a âncora independente que tinha uma relação mais antiga e assentada com Ailes, o que a colocou numa posição de conflito e silêncio iniciais com relação à situação do processo em cima do patrão. Já Robbie foi perfeita como a mocinha doce de família religiosa e conservadora que passa por maus bocados com o assédio recente. Kidman, por sua vez faz a personagem que sabe que, para entrar na guerra, vai ter que lidar com perdas, mas que, mesmo assim, está muito determinada. John Lithgow volta mais uma vez do passado com seu enorme talento e seu Ailes conseguiu ser simultaneamente odioso e humano. O filme ainda tem uma “personagem bônus” muito interessante, Jess Carr (interpretada pela “caçafantasma maluquinha” Kate McKinnon), uma amiga lésbica de Pospisil que trabalha na Fox. E Malcolm McDowell como Rupert Murdoch, o verdadeiro dono da Fox, que muito pouco apareceu, mas botou ordem na casa no momento do escândalo.
Dessa forma, “O Escândalo” é mais um filme de denúncia que o cinema produz, sendo esse um programa obrigatório para entendermos os tempos sombrios pelos quais estamos passando. Uma história que mostra até onde o poder de luta (num país mais justo, diga-se de passagem) pode transformar as coisas, por menores que essas transformações sejam. E um filme que nos ajuda a refletir sendo o filme que estimula a reflexão sempre o mais importante. Vale a pena dar uma conferida.