Um filme polêmico. “Kursk, A Última Missão” fala do naufrágio do submarino russo ocorrido em agosto de 2000, que vitimou toda a sua tripulação. E da história de como algumas vidas poderiam ter sido poupadas se a Marinha Russa não tivesse tentado encobrir seus segredos militares no ato do salvamento dos tripulantes. Para podermos compreender melhor o filme, vamos precisar de spoilers.
O filme se foca na tripulação do submarino, dando vida e cara aos marujos, liderados por Mikhail Averin (interpretado por Matthias Schoenaerts). Uma grande festa apresenta os personagens e mostra muito o espírito de união do grupo. Não muito depois, já vemos o submarino saindo para a sua missão e o motivo do acidente, que foi a explosão de todos os torpedos provocada pela temperatura excessiva de um deles, que praticamente destruiu todo o submarino. Os sobreviventes foram para a popa e se trancaram lá, fazendo de tudo para retardar a inundação do compartimento e manter a carga de oxigênio. Enquanto isso, as equipes de salvamento tentavam escutar algum sinal que pudesse indicar sobreviventes. Os tripulantes batiam com um martelo na parte interna do casco do submarino a cada hora, e foram detectados. Mas o sucateamento da Marinha Russa fez com que o submarino de salvamento não pudesse se acoplar à escotilha do Kursk. O comandante da frota russa do Norte chegou a pedir auxílio da Inglaterra, mas o alto comando da Marinha não queria a presença de ocidentais na missão de salvamento e isso retardou demais o salvamento, provocando a morte de todos.
O filme tem uma postura muito crítica com relação aos procedimentos da Marinha Russa, trazendo de volta o espírito da Guerra Fria. Resta a gente se perguntar se o oposto também aconteceria, ou seja, se fosse um submarino americano ou inglês que tivesse afundado e uma ajuda russa como determinante no salvamento seria igualmente rechaçada para evitar a divulgação de segredos militares. Que os leitores façam as especulações que quiserem. Entretanto, fica muito claro no filme o desenvolvimento tecnológico do Kursk e o receio que ele despertava nos militares ingleses.
O filme tem um baita elenco. Além de Schoenaerts, temos Léa Seydoux como a esposa de Averin, Tanya, que liderou as esposas dos tripulantes, pressionando os militares da Marinha Russa por informações. Ainda, tivemos a presença de Max Von Sydow como o comandante da Marinha Russa que se investiu da posição ícone de guardião dos segredos militares e da personificação do personagem a ser odiado no filme. Colin Firth, por sua vez, fez o comodoro inglês David Russell, com uma postura bonachona pronta a oferecer assistência. Ou seja, mais uma vez as dicotomias da Guerra Fria requentadas. Ainda assim, os atores foram muito bem e trabalharam com competência a carga dramática que o filme exigia.
Dessa forma, “Kursk, A Última Missão” é um bom filme que nos contextualiza na situação dessa grande tragédia que já tem uns vinte anos (como o tempo passa rápido!), mesmo que haja um maniqueísmo residual dos anos de conflito entre as superpotências. Vale a pena dar uma conferida.